A história mais importante do Brasil está na Amazônia
25/09/2023 16:58
Ana Tonelli e Letícia Guimarães

O escritor e documentarista João Moreira Salles destaca a necessidade de criar um imaginário coletivo

João Moreira Salles debateu a ocupação da Amazônia. Foto: Mateus Monte

Em novo livro, o documentarista e produtor de cinema João Moreira Salles narra a exploração sistêmica e o histórico de ocupação da Amazônia. Arrabalde: Em busca da Amazônia reúne uma série de reportagens publicadas na revista Piauí e escritas por João durante os seis meses em que passou na região. O autor conversou sobre as complexidades da floresta com alunos e professores em encontro organizado pelo jornalista e professor Chico Otávio, do Departamento de Comunicação.

João citou o abolicionista Joaquim Nabuco: “O sentimento em nós é brasileiro, mas a imaginação é europeia” ao comparar a colonização portuguesa com a ocupação do território amazônico. De acordo com o documentarista, as dinâmicas de destruição são facilitadas pelo desconhecimento. A ocupação desinteressada do bioma gera falta de zelo e permite que o desmatamento ocorra sem remorso. A dificuldade de conter a exploração é resultado da incompreensão do que é a floresta, não há a criação de um imaginário coletivo.

— As projeções feitas pelos colonizadores não enxergaram o local, mas sim, o que já era conhecido. A Amazônia nasce de um erro de interpretação que continua até hoje. A maneira de existir no mundo é ao contrário da floresta. O essencial é substituir o estranho pelo familiar, uma flora por outra, onça pelo boi, a desordem da selva pela monocultura. Nos falta inteligência ecológica.

João falou sobre inteligência ecológica. Foto: Mateus Monte

Sobre a relevância da Amazônia para o país, o autor recordou conversas com líderes políticos que começaram e terminaram com a Amazônia. Para ele,  a floresta é o interlocutor que insere o Brasil no mundo. João mencionou a ideia de que muitos enxergam a Amazônia como a periferia do país, quando na verdade é o centro e a única coisa que oferece relevância internacional.

— Sem a Amazônia, o Brasil é relativamente insignificante, não apresenta nada de interesse ao mundo que seja insubstituível. A floresta nos dá a chance de oferecer e ser algo que nenhum outro país pode ser, uma potência ecológica. Passamos anos vendo a Amazônia como uma periferia, mas não, ela é o centro, a única coisa relevante.

A produção de obras culturais em torno da região amazônica poderá ser uma forma de combate à aniquilação do ambiente. O fundador da Revista Piauí acredita que a construção de um imaginário coletivo aproximará as pessoas do real significado da  floresta. Segundo ele, é necessário ter pela Amazônia o mesmo apego e identificação que se tem por samba e futebol. Seria preciso, então, tornar a floresta matéria simbólica que define um povo.

— A história mais importante do Brasil está acontecendo na Amazônia. Ela precisa ser contada em livros, filmes, documentários e reportagens. É preciso tornar a floresta presente no imaginário das pessoas.

Ao ser perguntado se seu tempo na Amazônia lhe causou alguma epifania – um sentimento súbito de compreensão – o documentarista respondeu que apesar de não ter religião entendeu o sagrado durante sua estadia.

— Observando a floresta e os processos biológicos, vi como a névoa de água acumulada durante o dia aparece no fim da tarde e envia umidade para todo o país. Entendi que existe algo infinito do qual eu dependo e que funciona até quando não percebo. Esse é o mais próximo que estive do sagrado.

O documentarista narrou a sua experiência na Amazônia. Foto: Mateus Monte

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