No sobe e desce diário
22/09/2023 17:26
Julia Amoêdo

Para comemorar o Dia do Ascensorista, histórias dessas figuras tão presentes na PUC-Rio

Elson de Souza Paulo no local de trabalho. Foto: Kathleen Chelles

Conversas de elevador fazem parte do dia a dia. Seja na universidade ou no trabalho, é quase impossível escapar dos comentários sobre o clima, a chegada de um feriado ou a última partida de futebol. No caso dos ascensoristas, na jornada diária de seis horas, eles ouvem e participam de diversos bate-papos e, entre um andar e outro, acumulam muita história para contar. Desde 1991, foi instituído pelo então governador do estado, Leonel Brizola, o Dia do Ascensorista na data de 21 de setembro.

Elson de Souza Paulo, 68 anos, trabalha como ascensorista desde os anos 1990, quando ainda era necessário fazer um curso para atuar na área. Na PUC-Rio, ele está há 8 anos e chegou à Universidade por um acaso: logo que contou para a família que havia sido despedido do antigo trabalho, a filha, Juliana, encontrou o anúncio da vaga de ascensorista na instituição. 

Ao longo deste tempo de casa, Elson já recebeu presente de Natal de algumas pessoas do Departamento de História e foi três vezes convidado para entregar os canudos na formatura do curso de Engenharia de Produção.

—  Um rapaz cutucou a mãe dele e falou: “mamãe, a senhora tem que conhecer esse funcionário. A gente esquece que está dentro do elevador porque ele conta as historinhas dele, as piadinhas, e a gente ri e sai alegre.” Os alunos me recebem de uma forma carinhosa, amorosa, e eu também os recebo assim.

Quem fica no sobe e desce dos elevadores do campus coleciona muitas histórias não só de alunos e professores mas das visitas que aparecem na PUC-Rio. É o caso de Edmilson Francisco de Oliveira, de 59 anos, que viu Zico entrar no elevador em que trabalhava na Universidade. Flamenguista, o cabineiro destaca este momento como um dos mais marcantes ao longo dos 17 anos na PUC-Rio – além do dia em que o filho, Edwilson, se formou em Administração. 

O ascensorista Edmilson relembrando histórias da profissão. Foto: Caio Matheus

A profissão entrou na vida de Edmilson por acaso, quando o diretor dos ascensoristas do Senac mencionou na igreja o curso de formação para profissionais da área. O diploma ficou guardado até começar a trabalhar na Universidade – primeiro na equipe de limpeza e, depois, como office boy no Centro Loyola de Fé e Cultura. Edmilson fez a prova para o atual cargo, que consistia em uma redação, e foi logo aprovado para a nova vaga. 

O profissional ressalta que, nesses quase 20 anos de trabalho,  nunca enfrentou problemas graves ou recebeu reclamações. Ele garante ter uma boa relação com os alunos, professores e colegas funcionários. 

— Eu tenho o meu lado sério, mas o meu lado verdadeiro mesmo é descontraído. Não consigo ficar muito tempo sério [risos]. Não consigo, tenho que zoar um, brincar com um, claro, dentro do padrão. Só tenho amigos aqui. 

Há cinco anos na PUC-Rio, Maria Lidiane Soares, de 38 anos, começou a trabalhar na Universidade depois de se matricular no curso de Serviço Social da instituição. A vontade de entrar para o Ensino Superior surgiu anos após ter terminado o Ensino Médio: a profissional, que na época trabalhava com comércio, decidiu se inscrever no vestibular e conseguiu a vaga. Poucos meses após o início das aulas, o sogro a indicou para o cargo de ascensorista que havia aberto. 

Lidiane Soares em frente a um dos elevadores do Edifício Cardeal Leme. Foto: Mateus Monte

— Serviço Social tem muito a ver com a minha personalidade. O curso é incrível, não só para exercer a profissão, é para a vida. Você começa a enxergar o mundo de outra forma, pelo menos para mim. 

No sobe e desce diário, ela afirma que busca se desconectar das conversas dos passageiros, já que quer garantir que eles tenham alguma privacidade. Apesar disso, às vezes fica tentada a dar algumas sugestões e opiniões. 

— Tem historinhas, vez ou outra, das meninas, de namorico. Eu, já mais velha, tenho vontade de chamar e aconselhar como mãe, até por conta da minha filha ser menina. 

Para Solange de Souza Amorim, essas pequenas viagens de todo dia são uma forma de relaxar, já que as idas e vindas do elevador a ajudam com a ansiedade. Aos 64 anos, a ascensorista está nesta profissão desde quando era obrigatório ter certificado do Senac e carteirinha emitida pela prefeitura do Rio de Janeiro. 

Solange de Souza Amorim aguarda os passageiros. Foto: Caio Matheus

Na PUC-Rio, ela está há 13 anos e, antes de ser ascensorista, atuou por um período na parte da limpeza. Com uma relação próxima com os alunos – que até a convenceram a reativar o perfil no Instagram – e professores, Sol, como é chamada, sempre oferece um ombro amigo quando necessário. 

— Eu estava no Departamento de Química e vi uma menina chorando e entrando no banheiro. Na hora, veio uma professora e perguntei se eu podia ver o que estava acontecendo. Fui lá, e a menina estava tremendo, ofereci ajuda e perguntei se ela não queria ir ao posto médico. A professora a levou até lá. Acontece muita coisa no elevador, mas é tudo tão rápido.  

Mesmo com a rapidez, a rotatividade entre os prédios do campus e o grande número de pessoas nesse vai e vem, os ascensoristas, de diferentes maneiras, não se furtam de criar laços com os alunos e professores: Elson sempre ressalta o carinho que sente de todos da Universidade; Edmilson afirma que a PUC-Rio não é a mesma quando chega o período de férias; Lidiane gostaria de oferecer conselhos e Sol até tem apelidos para alguns alunos.

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