Unidade entre arquitetos e trabalhadores do canteiro
01/09/2023 15:34
Ana Tonelli

Professores abordam as mudanças na relação de arquitetos e trabalhadores do canteiro.

Arquitetos Sérgio Ferro e João Marcos Lopes em aula mediada pelo professor Marcos Favero. Foto: Mateus Monte

“Autogestão no canteiro de obras e a constituição de um trabalhador coletivo emancipado” foi o tema da Aula Inaugural do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) no dia 28 de agosto. Lecionada pelos professores e arquitetos Sérgio Ferro e João Marcos Lopes, com mediação do diretor do DAU, professor Marcos Favero, o debate abordou as barreiras entre arquitetos e trabalhadores braçais. A aula on-line, transmitida exclusivamente no Auditório do RDC, reuniu alunos e professores para discutir as relações de trabalho na arquitetura e a potencialidade social dos projetos.

Ferro e Lopes são egressos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP  e trabalham com o objetivo de pensar e executar um modelo que integre os idealizadores de projetos aos que colocam a mão na massa. Na aula, a dupla abordou a relação entre desenho e canteiro, como representações das plantas de projetos e dos trabalhadores de base, respectivamente. 

Integrante do Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade (HABIS), Lopes iniciou a conversa com o questionamento “para quem os arquitetos trabalham?”. Segundo o professor, há uma clara insuficiência de políticas públicas que proporcionem habitação para todos. O especialista atuou em projetos e obras de moradia popular e em assentamentos precários, todos estes tinham como preocupação não apenas o objeto final, mas também o ambiente criado durante o processo de construção. 

– É um trabalho de violência em vários sentidos, incluindo pelo peso dos materiais envolvidos nas construções, e se torna ainda mais violento quando há má remuneração e desrespeito às condições trabalhistas.

Na aula, o pintor e arquiteto Sérgio Ferro fez um retrospecto da história da arquitetura ao contar sobre como no passado existia uma relação de igualdade e unidade entre os arquitetos e os trabalhadores do canteiro. De acordo com ele, há um processo que torna o desenho do projeto ilegível para o operário, o que monopoliza e elitiza o conhecimento. Como consequência, o serviço da base fica cada vez mais desqualificado.

– A história do canteiro é o inverso do progresso, é a degradação do saber, por isso é preciso reconstruir a beleza da construção. 

Professores debatem as mudanças do trabalho no canteiro. Foto: Mateus Monte

Os arquitetos e professores consideram que é essencial criar um ambiente com trabalhadores emancipados, que entendam e participem integralmente do processo de construção. Eles ressaltaram que é preciso enxergar a prática do projeto como uma ação coletiva e não apenas uma execução individual de funções. 

Aluna do 1° período de Arquitetura e Urbanismo, Julia Gurgel ficou entusiasmada com a palestra que, segundo ela, deixou de lado a técnica e abordou uma face social da arquitetura. 

– É importante saber que os projetos vão além do arquiteto e que o trabalho não se resume a uma pessoa. Gostei de ouvir sobre possibilidades diferentes dentro do campo e conhecer a realidade do canteiro de obras.

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