Histórias de família
04/09/2023 11:00
Carolina Bottino

Para divulgar o documentário Cartas da Bessarábia, a jornalista Leila Sterenberg fala sobre os movimentos separatistas da região no Leste Europeu.

Alunos assistem à palestra da jornalista Leila Sterenberg. Foto: Carolina Bottino

A jornalista Leila Sterenberg esteve na PUC-Rio para conversar com alunos sobre o documentário que dirigiu, Cartas da Bessarábia, que aborda o lado histórico de uma região separatista do Leste Europeu. No filme, ela também  conta as vivências pessoais de sua família, que imigrou para o Brasil durante o Holocausto.

– Foi uma experiência muito rica visitar um país cuja cidadania eu estava requerendo, mas até o momento só havia conhecido por livros ou pelas histórias que me contavam. Poder visitar, ver o cotidiano daqueles habitantes e também entrar mais em contato com a história da minha família foi muito importante para mim.

Leila fez uma viagem de 18 dias em que visitou a Moldávia, Romênia e Transnístria, regiões do Leste Europeu que estiveram envolvidas em conflitos separatistas no passado. Durante a Segunda Guerra, o atual território moldavo era a Bessarábia, lugar em que seus avós nasceram.

– Naquela região havia a perseguição nazista, mas até hoje é perceptível o preconceito que existe com os romenos no Leste Europeu. Na Moldávia, um dos países mais pobres da Europa, é mais comum encontrar pessoas se comunicando em russo que romeno, mesmo sendo o território vizinho. Ainda existe esse sentimento de pertencimento, que remete à época que ainda era União Soviética, acredito que pela grandiosidade de fazer parte de um bloco econômico como aquele.

Para a jornalista, obter o passaporte romeno por conta da origem de sua família era algo curioso, em razão das diferenças culturais que ainda existem na região. 

– Os romenos sofrem muito preconceito naquela parte da Europa. E no documentário é algo que mostramos, alguns romenos, pela dificuldade de obter recursos, não possuem um passaporte para viajar para outros lugares do território europeu e buscar melhores condições de vida. E achei isso um pouco surreal, que eu, uma brasileira, pela origem da minha família, posso ter um passaporte, mas os próprios cidadãos do país não conseguem porque não têm condições para isso.

Durante o documentário, exibido durante a palestra, ela registra, por meio dos relatos de habitantes locais, a história, os preconceitos e o cotidiano daquela pequena região da Europa. Na obra, são reveladas as dificuldades para filmar no antigo território da Bessarábia, pois era preciso ter autorizações especiais para registrar determinadas áreas da atual Moldávia.

Além do lado histórico, Leila também conta no trabalho o envolvimento pessoal com o lugar. Por meio de entrevistas e registros, como as cartas escritas por familiares sobreviventes do Holocausto, que enviaram relatos aos avós, buscando contato no pós-guerra. Para ela, a percepção do conflito que ocorre na Ucrânia é reflexo do que já ocorria anos antes.

– Aquela região do leste da Europa é um barril de pólvora. A proximidade dos territórios com a Ucrânia é gigante, e a relação histórica com a Rússia é significativa. Atualmente, a Moldávia tem um governo pró-Europa, mas ao longo dos anos havia alternância de governos com aqueles que apoiavam relações mais próximas com a Rússia.

Após o bate-papo sobre o documentário, a jornalista conversou com os alunos sobre o livro Uma sobe e puxa a outra, do qual participou junto a outras mulheres de diferentes áreas. A obra é um relato das vivências pessoais de cada autora e tem o objetivo de influenciar mulheres dos mais diversos setores da economia a persistir em seus objetivos.

– Foi muito interessante trabalhar com mulheres que possuem histórias tão diversas, poderosas, e acho que foi muito importante porque, é costume nosso, como mulheres, ter a síndrome do impostor, de acreditar que talvez nossas histórias não sejam tão interessantes assim. Ver essas mulheres todas se apoiando me deu um sentimento maior de autoconfiança e união coletiva.

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