Em 2014, 32 barragens apresentavam risco e 27 tinham potencial de dano ambiental e foram classificadas como “não estáveis” pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) e pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) de Minas Gerais. Já na avaliação da Agência Nacional de Água (ANA), de 15 mil barragens avaliadas, 14% apresentariam risco e 11%, potencial de dano. A Barragem de Fundão, que se rompeu em novembro de 2015, no distrito de Bento Rodrigues (MG), matando 19 pessoas, e causando prejuízos incalculáveis ao meio ambiente, no maior desastre ambiental da história brasileira, não estava em nenhuma dessas listas. Para o geógrafo Luiz Jardim Wanderley, professor do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a fragmentação do processo de licenciamento e a falta de aprofundamento dos estudos de risco são os principais desafios na prevenção de acidentes em barragens.
Nesta quinta-feira, 20, o Ministério Público Federal denunciou 22 pessoas, sendo 21 por homicídio qualificado com dolo eventual, ou seja, quando se assume o risco de matar, pelo caso do rompimento de Mariana (MG). Também foram denunciadas as quatro empresas envolvidas no caso: Samarco, Vale, BHP Billiton e Vogbr. O Conselho de Política Ambiental de Minas Gerais (Copam) confirmou terça-feira (19), em última instância, a multa de R$ 112 milhões contra a Samarco, pelos danos causados pelo rompimento.
Integrante do Grupo Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS), o pesquisador esteve na PUC-Rio na terça-feira, 18, para discutir os principais aspectos econômicos e institucionais do desastre da Samarco, em Mariana (MG), durante o IV Seminário de Logística Humanitária, organizado pelo Lab Hands, laboratório do Departamento de Engenharia Industrial, que realiza pesquisas na área de Gestão de Operações em Desastres e Logística Humanitária.
Ainda segundo o professor, o processo de licenciamento não analisa a rede de barragens, atendo-se somente a uma única mina, o que dificulta a formulação de perigo de catástrofe:
– Isso gera uma diversidade de problemas de controle e de identificação de impactos reais de um empreendimento dessa magnitude.
O pesquisador destacou ainda a importância da gestão de rejeitos na redução dos riscos socioambientais: “As empresas não deveriam dispor de barragens como única opção para depositar os rejeitos”.
Wanderley e seu grupo produziram a pesquisa Desastre da Samarco/Vale/BHP no Vale do Rio Doce: aspectos econômicos, políticos e socioambientais, que sintetiza desde o comportamento da mineradora durante o ciclo de alta do minério, problemas institucionais e a dimensão dos impactos do rompimento da barragem.
O encontro teve também como convidado o chefe executivo de Resiliência e Operações do Centro de Operações Rio (COR), Pedro Junqueira, que como Wanderley abordou a importância de uma boa rede de assistência e mobilização, a respeito da proficiência do COR no período de Olimpíadas e Paralimpíadas.
Resiliência é o pilar principal do projeto de Legado Operacional Olímpico, que trará para o cotidiano a mesma força integrada entre os órgãos que foi vista nos períodos de Olimpíada e Paralimpíada. A agilidade em lidar de estresses e choques naturais, questões de mobilidade urbana e outros imprevistos e um bom treinamento do órgão público são as principais heranças que o COR quer levar do período olímpico. Isso já se reflete nos aplicativos usados nessa ocasião que agora são partes integrantes: Primus e S4C, softwares de gestão de gerenciamento. Junqueira disse na palestra que o Centro de Operações buscou também uma resiliência sobre o meio-ambiente, principalmente relativa à redução na emissão de gás carbônico e a produção de resíduos:
– Não basta a gente querer reciclar o papel e o papelão. Isso já se tornou uma commodity pensar em fazer isso. É importante que a indústria faça o processo produtivo já pensando no consumo. O lixo é o retrato da nossa incapacidade de pensar no processo produtivo. – afirmou Pedro Junqueira.
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