O audiovisual comunitário vai “levantar suas bandeiras” para dar voz e maior visibilidade às reivindicações dos moradores das comunidades. Tal caminho pelo jovem cineasta Cadu Barcellos, destacado na Proximidades e Possibilidades – Diálogos sobre Mídia Local, na PUC-Rio, , o caminho se fortalece com as novas tecnologias digitais e com ascensão audiovisual nas áreas pobres. Assim indica, por exemplo, a participação de Cadu e de outros quatro diretores provenientes de comunidades no filme 5 x favela – Agora por nós mesmos (2010), produzido por Cacá Diegues e Renata de Almeida Magalhães.
A procura maciça por vídeos na internet, sobretudo nas plataformas móveis, tende a aumentar o investimento em produções do gênero, o que amplia a janela para jovens empreendedores no campo audioviual, observa Cadu. Ainda de acordo com o cineasta de 29 anos, que assina o episódio Deixa voar do longa de 2010, as comunidades reforçam esta onda, com a ajuda de coletivos, ONGs e articulações com centros de ensino e pesquisa (como o curso de Cinema, Criação e Pensamento, promovido pelo Núcleo de Comunicação Comunitária da PUC-Rio).
Envolvido com arte desde os 13 anos, o morador da Maré logo pegou o bonde da expansão do audiovisual comunitário para desenvolver seus projetos sociais na comunidade. Embora sonhe com o sucesso comercial, Cadu Barcellos, um dos diretores também de 5 x Pacificação (2012), outra parceria com Cacá, ressalta a importância social das produções audiovisuais: dão voz à favela. "Além disso, aqui na Maré, promovem o encontro de moradores de diversas partes, para que levantam suas bandeiras, ou seja, reivindiquem o que ainda está deixando a desejar", destaca. Para ele, o avanço do audiovisual no conjunto de favelas da Zona Norte carioca foi beneficiado também pela inauguração, em 2006, do Museu da Maré, "que conta a história de aproximadamente 130 mil pessoas":
– Ter um lugar onde a nossa história pode ser contada possibilita aos moradores da Maré ganharem voz, e o audiovisual representa essas vozes. O que impacta o morador da periferia é se enxergar naquelas imagens.
Apesar do reconhecimento internacional e da expansão do audiovisual comunitário, Barcellos considera ainda "muito difícil" a valorização no Brasil. Ele lembra que, só depois de 5 x favela – Agora por nós mesmos ter sido escolhido para a seleção oficial do Festival de Cannes de 2010, o "trabalho foi reconhecido e respeitado em território nacional". O cineasta admite, porém, que o progresso na carreira exige um estudo permanente:
– Gerar conteúdo, como vídeo, filme, é tão importante quanto estudar para isso. Uma coisa não exclui a outra, pelo contrário.
O apelo cooperativo das produções de vídeo descentralizada, que cresce também nas mídias tradicionais, é igualmente destacado pelo jovem diretor como um vetor de representação social. Assim indica, por exemplo, o canal independente e colaborato feito por moradores da Maré. "Eles (os moradores) participam ativamente da circulação de informações e veem o canal como o lugar onde as vozes são ouvidas e valorizadas”, observa. Ele ressalta, ainda, o relevo de iniciativas como a produtora Na Favela, “braço direito do audiovisual do Maré Vive”, que organiza festivais de música e de filmes.
Os próximos passos dos canais, adianta Cadu Barcellos, é a transformação em produtoras efetivas, formalizadas, para se fortalecerem como protagonistas do audiovisual comunitário. Também produtor de cursos de audiovisual para a internet em ONGs do Rio, ele conta que pretende se engajar em programas educativos para jovens carentes.