Arte Especial
02/04/2019 16:43
Beatriz Puente

Grafiteiro pinta murais de conscientização sobre o autismo

André Dias faz grafite de conscientização do autismo. Foto: Márcio Coutinho

O dia 2 de abril é definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Segundo pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em 2019, a cada 160 crianças, uma tem a síndrome. Entretanto, a Opas estima que esse número seja maior por conta da falta de diagnóstico. O preconceito e a não aceitação por parte dos pais da condição da criança é o principal ponto que dificulta a precisão em identificar a síndrome.

O grafiteiro André Dias, de 32 anos, pinta murais para ajudar na conscientização sobre o autismo. Ele criou o personagem Xulipe, que está presente em todas as pinturas dele e é uma peça de quebra cabeça de cor azul, que simboliza a maior ocorrência do autismo em pessoas do sexo masculino. A inspiração de Dias veio do filho Miguel, hoje com oito anos, que sofre de autismo severo.

- Desde 2016, eu já pensava em fazer algo relacionado ao autismo e ao Miguel. Mas só no dia 1º de maio de 2017 que o Xulipe ganhou identidade. O quebra-cabeça veio da complexidade que é o autismo, e o azul porque é mais comum em meninos, o que chamamos de “anjos azuis”.

Xulipe é o personagem criado pelo artista. Foto: Arquivo Pessoal

Promover a aceitação das famílias é o principal objetivo do grafiteiro. Ele contou que, por ter tido dificuldades em enfrentar o diagnóstico no início, decidiu ajudar outras famílias que passam pela mesma situação, o que é essencial para a inclusão dos autistas na sociedade.

- Eu sinto que estar na rua fazendo arte é uma ponte para as famílias. É mostrar que com amor, inclusão e acesso, eles são capazes. Foi complicado para mim e minha esposa quando tivemos o Miguel, ela segurou a barra sozinha no início. Demorei a aceitar quando ele foi diagnosticado aos dois anos. Até hoje é uma luta, mas lutamos por ele.

Sobre as ambições profissionais, Dias, que é supervisor comercial, deseja trabalhar profissionalmente com grafite, mas reconhece que a arte não é valorizada. E para Miguel, ele espera preparar o filho para uma vida independente dos pais e que o menino possa vivenciar experiências naturais na sociedade. 

- Seria meu sonho viver de arte, viver conscientizando sobre a síndrome, mas no Brasil ainda é muito difícil. O grafite ainda é relacionado por algumas pessoas a algo criminoso. Minha realização é ver o desenvolvimento do meu filho. Ver ele crescer, estudar, ter um convívio social, trabalhar, namorar, viver coisas naturais da vida. O Miguel é muito dependente da minha esposa e de mim. Mas nós não somos eternos, temos que pensar a longo prazo.

O grafiteiro faz trabalho voluntário em comunidades com outros artistas. Foto: Tiago Carva

O grafiteiro contou que, além de fazer a pintura em eventos voluntariamente, também realiza trabalhos sociais voltados para comunidades com outros artistas. Dias também faz grafites casuais em muros vazios que cruzam seu caminho no dia a dia.

- Faço todo e qualquer evento que me chamarem, é sempre uma honra para mim. Já fiz também mutirões, ou sopa do grafite, com vários grafiteiros que se juntam para pintar casas de comunidade. É um trabalho mais social, às vezes alguém patrocina com alguns sprays de tinta, mas é principalmente voluntário. Já aconteceu também passar na rua e ver um muro com local disponível e perguntar para a pessoa se poderia pintar. No geral, todo mundo simpatiza com a causa.

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