Meu nome é Daniel
03/05/2019 18:17
Gabriela Azevedo

O ex-aluno Daniel Gonçalves retorna àUniversidade para uma sessão de pré-estreia de seu primeiro longa-metragem autobiográfico

           

Daniel Gonçalves e Vinicius Nascimento falaram sobre o processo de criação do documentário. Foto: MaloniCuerci

Normatividade, relacionamento entre mãe e filho, sexualidade e o lugar da pessoa com deficiência são algumas das questões abordadas pelo documentário autobiográfico Meu nome é Daniel. O filme, que já passou por sete festivais e está qualificado para disputar uma vaga no Oscar de 2020, foi exibido na Universidade no dia 30 de abril, em uma sessão de pré-estreia. A sessão teve a presença do diretor e ex-aluno do curso de Comunicação Social, Daniel Gonçalves, e o montador Vinicius Nascimento, que depois participaram de um debate com a plateia.

A ideia para o documentário, com previsão de estreia para agosto deste ano, surgiu a partir de um curta-metragem que o diretor fez para um concurso de vídeos inspiradores na internet. No vídeo, Como Seria?, o diretor tenta imaginar sua vida sem a deficiência. O projeto não ganhou o concurso, mas viralizou nas redes sociais e, nesse momento, Gonçalves viu que tinha muito mais coisas para contar. O diretor mesclou passado e presente para tentar entender a sua condição física – ele tem um problema motor. Ao mesmo tempo que conta o surgimento da doença na infância, o diretor mostra o processo de investigação, nos dias atuais, para tentar fechar um diagnóstico sobre o seu quadro clínico.

- O processo de criação do documentário começa com eu e o Vinicius assistindo a todas essas imagens de arquivo da minha família, que estavam em VHS. Digitalizei o material, fui para ilha de edição, e ficamos uma semana analisando o conteúdo. Das 18 horas que tínhamos de vídeo, separamos 9 horas em que eu aparecia. A partir dessas 9 horas, fiz um roteiro base que foi o guia das primeiras semanas de gravação.

Os vídeos, gravados na maioria das vezes pelo pai do diretor, mostram desde o namoro dos pais até a infância de Gonçalves. Nas imagens do presente, que começaram a ser gravadas em 2016, o diretor voltou a investigar a causa da deficiência a partir de uma ressonância magnética e de exames genéticos, além de diversas entrevistas com a família e pessoas que fazem parte de sua história.

O cineasta contou que, desde o início, não queria que o Meu nome é Daniel caísse em um lugar sentimental, que, segundo ele, é geralmente reservado às pessoas portadoras de alguma deficiência. Essa decisão norteou o documentário e foi motivo pelo qual a maioria das entrevistas foram cortadas. O diretor também falou de outras escolhas que evitaram que o longa tendesse para o sentimentalismo, como forma que o áudio do documentário foi montado.

- O filme quase não tem música para dar clima. Quando ela aparece é na verdade um som, mais para preencher do que para criar emoção. Qualquer música que causasse um possível sentimentalismo, corria o risco de colocar a pessoa com deficiência no lugar de coitado ou no de super-herói, e isso era justamente o que a gente não queria. Essa decisão também impactou na minha narração e na escolha de tirar algumas coisas que levavam a essa comoção. O filme emociona, mas de uma maneira genuína, sem cair nesses dois lugares.

Meu nome é Daniel ganhou o prêmio de Melhor Longa-metragem, pelo júri popular, no Festival de Tiradentes de 2019. Foto: Maloni Cuerci

O montador Vinicius Nascimento disse que conheceu Gonçalves em um curso de pós-graduação de cinema documentário na Fundação Getúlio Vargas e que eles sempre discutiam e assistiam a filmes do gênero. Nascimento contou que o diretor o chamou pelo fato de ele gostar de usar o VHS e já ter trabalhado com material de arquivo em um filme sobre o artista plástico Hélio Oiticica. Ele comentou que foi um desafio construir o texto e abordar certos temas no roteiro.

-Chegamos a esse lugar de achar que o filme tinha que ser sobre uma mãe e um filho, o que foi norteando muito a edição.  Uma coisa que também conversamos muito antes de começar foi a questão na normatividade: O que é ser normal? Andar de uma maneira diferente te faz ser um anormal? Então, queríamos muito chegar nesse lugar de discussão. Antes de finalizar o filme, mostramos os cortes para alguns editores. Isso foi importante para abordarmos de forma mais direta a iniciação sexual do Dani e tirar esse tabu sobre a sexualidade na vida de uma pessoa com deficiência.

O diretor fez questão de ressaltar a importância da Universidade e de sua experiência como estagiário do núcleo de TV do Comunicar. Segundo ele, a prática com edição foi o início de tudo, quando, pela primeira vez, ele começou a lidar com a técnica e a forma de pensar e fazer um documentário.

- Curiosamente tenho dois projetos de documentário bem desenvolvidos, e os dois têm a ver com o universo de pessoas com deficiência. Um é sobre sexualidade de pessoas com deficiência, ideia já presente no Meu nome é Daniel, e o outro é sobre educação inclusiva. Esses dois, provavelmente, serão os próximos filmes. Por já termos gravados uma parte e ter despertado o interesse de patrocinadores, o sobre sexualidade deve sair primeiro. Mas, depois, tenho vontade e ideia de fazer filmes sobre outras coisas também.

 

 

Mais Recentes
Alunos terão desconto em moradia universitária
PUC-Rio fechou parceria com Uliving, maior rede deste tipo de serviço no país
Álvaro Caldas lança quinto livro de sua carreira
Nos anos de pandemia, a janela se tornou uma ligação vital para mundo exterior
Tecnologia, Inovação e Negócios no Instituto ECOA
Encontro reúne alunos e convidados para discutir o fornecimento de água e saneamento no Rio de Janeiro