O Radiojornalismo antes e depois do Boechat foi o tema da palestra no dia 28 de maio, segundo dia da programação da 1ª Semana do Jornalismo. Com mediação do professor Mauro Silveira, do Departamento de Comunicação Social, a mesa foi composta pela professora Ana Baum, mestre em Comunicação e pesquisadora da área de rádio no Departamento de Comunicação Social da UFF, pelo professor Giovanni Faria, do Departamento de Comunicação Social e ex-gerente nacional de jornalismo na Rádio CBN, e pelo jornalista Rodolfo Schneider, diretor de jornalismo da BandTV no Rio e âncora da Rádio BandNews.
Ana Baum abordou a história do rádio e do radiojornalismo. Ela citou quatro momentos de transformação: as décadas de 1940, 1960, 1980 e anos 2000. Segundo a pesquisadora, o jornalismo no rádio se destacou a partir de fatos importantes no país ou no mundo.
- Em função da Segunda Guerra Mundial, nos anos 1940, surgiu o Repórter Esso, da Rádio Nacional, que priorizava o noticiário internacional com redatores e locutores, não repórteres. Nos anos 1960, surgiu a Rádio Jornal do Brasil (JB), pioneira no all news, se fazendo presente em um período de ebulição política.
Ana e Silveira compartilharam experiências vividas na Rádio JB, em 1975, quando não tinham muitos recursos de comunicação nos bastidores da notícia. Ambos cobriram, juntos, desde o momento em que o ex-presidente Tancredo Neves estava doente até a morte dele.
Nos anos 2000, Ana Baum destaca o advento da internet e o modo como o jornalista Ricardo Boechat realizava coberturas que provocaram transformações na interatividade do ouvinte com o rádio. Segundo a professora, os questionamentos do jornalista geravam empatia com o público, mas com discurso contraditório ao se colocar no lugar do morador da comunidade e da elite.
- O Programa do Boechat era um programa mais “Talk” que “News”. Ele deixava o morador falar sobre o fato, permitia uma pluralidade de vozes dos diferentes envolvidos. É isso o que realmente traz a empatia, emociona e permite com que você se coloque no lugar do outro e entenda realmente o que se passa.
A Rádio BandNews FM nasceu em 2005 para concorrer com a Rádio CBN, do grupo Globo. Na época, Ricardo Boechat tornou-se apresentador do Programa do Boechat. Neste período, Giovanni Faria era o gerente de jornalismo da CBN. De acordo ele, o surgimento da BandNews FM foi uma oportunidade de disputar o mercado e sair da acomodação natural que existe quando não há concorrência.
- O Boechat era “News”, concorrendo com a CBN, e era “Talk”, concorrendo com a Rádio Globo. Nós tivemos uma relação muito forte no jornal O Globo e, depois, ele veio a ser o inimigo amigo no rádio. Ele se tornou um inimigo do bem. Nas duas emissoras, ele fez aquilo que a concorrência tem que fazer: provocar.
Rodolfo Schneider trabalhava com Boechat desde 2005, quando iniciou a rádio BandNews FM. Como muitos jovens, Schneider disse que não tinha o costume de ouvir rádio e jamais imaginou trabalhar nessa área. Ele explicou que a emissora se propõe a ser a primeira FM de notícias do país, 24 horas por dia, com jornais a cada 20 minutos, devido a necessidade de as pessoas se informarem em menos tempo.
- O Boechat tinha sentimento no que estava falando, por isso, às vezes, se exaltava. Ele passou a tirar o protagonismo do jornalista e colocar na notícia, a passar aquilo para os ouvintes. Ou seja, acreditar no que as pessoas estavam falando. Ele quer ouvir o que o cidadão tem para falar sobre o problema.
Schneider afirmou que não tinha o costume de ouvir rádio e que não pensava em atuar na área pelo discurso de que o rádio estaria ultrapassado e ou que acabaria. Mas, por ironia do destino, disse, iniciou a carreira por intermédio de Boechat, com quem aprendeu e se apaixonou pelo radiojornalismo.
Segundo Schneider, após a morte de Ricardo Boechat, a emissora resolveu criar a editoria do ouvinte como forma de legado do jornalista e colocar a voz do povo como “parte do DNA da rádio”. Conforme explicou, a editoria tem como objetivo atender e valorizar as mensagens da população, por meio de uma pessoa responsável por cada fase de uma espécie de 'triagem" das notícias, denúncias e questões dos ouvintes. Ainda de acordo com o jornalista, há uma programação a seguir, com as notícias do dia, mas há um compromisso com o ouvinte.
- Ainda existe uma relação extremamente forte do ouvinte com a rádio. Ele era um cara que, mesmo quando passava dos limites, o fazia pela notícia. O ouvinte sabe que pode não ter mais o seu brilhante comunicador, mas a alma que a BandNews tinha com ele persiste mais do que nunca.
O diretor afirmou que o desafio atual é filtrar as informações que chegam à redação, pois, por causa do celular, a emissora receber muito mais notícias que antes. Ana Baum lembrou a responsabilidade do jornalista de escrever e vincular publicações às emissoras. Para Farias, a voz única de Ricardo Boechat ainda vai fazer muita falta na realidade brasileira e precisa ser lembrada daqui a muitos anos.
- A ausência é cruel, eu sinto uma mudez no rádio. Com todo o respeito aos profissionais da área, mas, evidentemente, o Boechat faz uma falta grandiosa porque, nesse momento, a voz dele tinha que ser ouvida e ser sentida. Viva o Boechat. Viva o rádio. Viva o jornalismo – disse Farias.