Infância tecnológica
18/10/2019 09:21
Esther Obriem

Ex-aluna da PUC-Rio, a jornalista Roberta Mellin aborda os problemas do excesso de aparelhos eletrônicos na educação das crianças

Jornalista Roberta Mellin. Foto: Catarina Kreischer

A importância de interagir com as pessoas e as consequências do excesso tecnológico para as crianças foram as principais questões abordadas na III Mostra Desenvolvimento no Ciclo Vital: vulnerabilidade, inclusão e tecnologia, que ocorreu no dia 3. A Coordenadora de Graduação de Psicologia, Luciana Fontes Pessoa, e a jornalista Roberta Mellin, participaram da palestra e analisaram a importância do tema.

Roberta afirmou que não é possível abordar o tema tecnologia e criança e não falar sobre parentalidade. Segundo a jornalista, tanto a maternidade quanto a paternidade são importantes para a relação das crianças com a sociedade, pois a boa formação de uma pessoa muda o coletivo. Ela relacionou as letras da palavra parentes a sete pontos importantes para a criação dos filhos de maneira harmônica com a tecnologia.

– É importante estar presente e focar na vida da criança, pois, ao mexer no celular, ignoramos o entorno; ter atenção em quem é aquele filho, porque ficamos fechados na internet; ter cuidado com o ritmo da tela dos aparelhos eletrônicos, porque recebemos muita informação em pouco tempo e a criança fica desregulada; dar o exemplo de respeitar as regras do uso de celular; nutrir o pequeno de amor; confiar na educação que nós damos aos filhos e não só controlar tudo o que eles fazem; e simplicidade na conversa com eles.

Relação das letras da palavra parentes com os sete tópicos. Foto: Catarina Kreischer

A jornalista frisou que a tecnologia não é ruim, e observou que, muitas vezes, pode incluir e salvar vidas. Ela lembrou do uso de aplicativos e procedimentos para tentar inserir os surdos e os cegos no ambiente digital. Segundo Roberta, a tendência é o uso do áudio e do gesto aumentarem, e o das telas diminuir, como ocorre no comando de voz Hey, Google e com os drones vendidos na Ásia, que são manipulados pelos movimentos.

A palestrante alertou sobre perigo da luz azul dos aparelhos eletrônicos que, segundo ela, a claridade estimula o estado de prontidão do indivíduo e interfere no sono dele. De acordo com ela, o ideal é evitar olhar para a tela duas horas antes de dormir e não ter nenhum dispositivo digital no quarto.

– Muitos pais me contam que deixam as crianças usarem o celular um pouquinho antes de deitar, para que elas se acalmem. Isso não acontece. Parece que dormiram, mas não houve a produção de melatonina (hormônio que estimula o sono) o suficiente e não teve o sono de descanso. Sem isso, os filhos ficam irritados, e os responsáveis medicam de forma indevida. 

Roberta frisou ainda que uma pessoa não deveria usar o celular assim que acorda. Esse ato de responder todas as mensagens, ou checar as plataformas digitais, faz com que o indivíduo entre no ritmo digital e fique reativo. Para ela, a pessoa fica o dia inteiro sem pensar em si própria, é manipulada e reduzida às possibilidades das redes sociais.

Segundo ela, adultos e jovens perdem a capacidade de socializar com os outros pelo uso excessivo dos celulares. De acordo com a palestrante, as crianças são minicientistas e precisam observar como o mundo ao redor funciona. Caso essa atenção ao ambiente seja trocada pelos aparelhos eletrônicos, elas perdem a capacidade de realizar tarefas simples e de conviver com a sociedade.

Palestra sobre o Impacto da tecnologia no desenvolvimento infantil. Foto: Catarina Kreischer

A convidada qualificou a Era Digital como uma ameaça à solidão, pois, observou, as pessoas ficam tão conectas que não têm tempo para si próprias. A jornalista comentou que o ato de sempre mexer nas redes sociais ensina a mente que essa é uma conexão alternativa e razoável à conversação. Roberta comentou que o indivíduo troca o encontro presencial por mecanismos digitais.

 – Se nasce o filho de uma amiga, ao invés de visitar ou telefonar, você curte a publicação e está resolvido. Ou então, você pensa que gosta muito dessa pessoa e faz um comentário. Na infância e na adolescência, nós temos o medo de perder alguma coisa. Antigamente, não sabíamos tudo o que estava acontecendo no mundo. Agora que sabemos, o nosso cérebro e nós ficamos ansiosos por medo de não saber de algum acontecimento.

Roberta associou a dopamina –neurotransmissor do prazer- com as redes sociais. De acordo com ela, a indústria de tecnologia estimula esse agente químico e, no momento que o indivíduo percebe que não recebeu nenhuma mensagem ou curtida, ele se sente ignorado. Para ela, as pessoas analisam se a foto vai ter um bom engajamento antes de postar e questionam se haverá recados no dia seguinte.

A jornalista completou ao exemplificar o que ocorre com as crianças: o nível de dopamina sobe no instante das brincadeiras, mas diminui conforme a diversão chega ao fim. Segundo a palestrante, os pequenos só recebem dopamina quando expostos às telas dos celulares e vídeo games. No momento em que os pais tiram o aparelho, comentou a palestrante, o filho estressa porque as taxas estão muito altas e, assim, o metabolismo fica desregulado.

A convidada expôs dados estatísticos para demonstrar o vício tecnológico. De acordo com ela, o usuário médio checa o celular 110 vezes ao dia, as crianças ficam, em média, 6h40 diárias nas telas, e uma a cada oito pessoas, apresenta o vício.

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