Ecologia e feminismo na América Latina
05/11/2019 11:20
Esther Obriem e Nathalie Hanna Georges

O segundo dia do Seminário Internacional discutiu a questão da ecologia e a relação entre mulher e feminismo na reflexão cristã

Seminário Internacional Ecclesia in America, no Auditório do RDC. Foto: Gabriela Callado


A quarta sessão do Seminário Internacional Ecclesia in America abordou a teologia latina feminista, na quinta-feira, 17, no Auditório do RDC. Mediado pela professora Maria Clara Bingemer, do Departamento de Teologia, o encontro reuniu as professoras Nancy Madrid, da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, e Olga Consuelo, da Pontifícia Universidade Javeriana, na Colômbia. As convidadas refletiram sobre a origem dos discursos do estudo crítico da natureza do divino e do papel da mulher no catolicismo.

Nancy Madrid é vice-presidente da International Network of Societies of Catholic Theology (INSeCT) e uma das primeiras latinas estadunidenses a ter um doutorado em teologia sistemática. Nancy citou algumas teólogas feministas, com destaque para a mexicana Maria Pilar Aquino, de 63 anos, que prega que a teologia deve ser libertadora e não deve deixar as mulheres na sombra.  

– Maria defende o cotidiano, as experiências históricas e espirituais das mulheres oprimidas, que ainda são vistas como inferiores. Ela também considera importante contemplar a luz da fé feminina para contribuir com a liberação da humanidade, em uma referência no papel da mulher na igreja.  

A professora comentou que a teologia feminista é um plano de ação prática. Ela disse que, na América Latina, a consciência crítica da cultura patriarcal oprime a mulher e desumaniza o homem. O catolicismo, segundo a teóloga, é visto de uma maneira racionalista, e ainda ressaltou a necessidade de um catolicismo formado pelo desejo da liberdade religiosa.

As professoras Olga Consuelo e Nancy Pineda abordaram a questão da representação feminina na Igreja. Foto: Gabriela Callado

Olga observou que a teologia feminista não deve se restringir a um grupo específico, uma vez que o movimento social busca a dignidade das mulheres. Segundo a palestrante, a discussão envolve todos os seres humanos que são capazes de se solidarizar com uma realidade excludente e desigual.

– A teologia feminista tenta recuperar, através dos dados bíblicos, uma interpretação da imagem desses tempos, que é a realidade das mulheres. Nada se honra com o real se não reconhecermos que a situação da mulher continua sendo uma situação de subordinação, de dependência, de sofrimento e exclusão.

Ecologia

Temas emergentes: ecologia foi o assunto principal da quinta sessão. O escritor Peter Casarella coordenou a conversa, e o professor Daniel Castillo, da Loyola University Maryland, e o teólogo Fredy Parra debateram sobre a Carta Encíclica Laudato Sí, do Papa Francisco, e as consequências das ações humanas sob a natureza.

Daniel Castillo esclareceu as semelhanças entre a exortação apostólica Ecclesia in America, do Papa João Paulo II, e a Carta Encíclica Laudato Sí, do Papa Francisco. Segundo o professor, os dois documentos associam a vocação humana de cuidado e proteção como resposta à bondade divina. Para ele, o texto dogmático sublinha a necessidade de a humanidade cultivar uma maneira de todos compartilharem do juízo de Deus.

– Isto é observado na discussão do Papa sobre os olhares de São Francisco e Jesus, no momento que viram e se encantaram com a bondade da criação, e responderam de acordo com a gentileza na prática. Essa bondade está nos textos de Genesis, quando, por exemplo, Deus chama o homem para cuidar da terra e das criaturas.

Castillo ressaltou que a Encíclica do Papa Francisco examina temáticas que não são exploradas na exortação de João Paulo II. Para ele, o documento dogmático do atual pontífice prega a íntima relação entre as opções preferenciais entre os pobres e a terra. Segundo o professor, o líder religioso argentino esclarece que qualquer abordagem ética cristã à criação deve ser política-ecológica.  

Fredy Parra e Daniel Castillo relacionaram a Ecologia com a Igreja. Foto: Gabriela Callado

– Francisco adota um ponto de vista implicitamente crítico ao colonialismo para entender a realidade histórica. Nesse ponto, a análise do Papa se alinha com a do sociólogo Andrew Jorgenson, da Boston College.

O teólogo Fredy Parra afirmou que o ser humano é um ser atemporal e espacial. De acordo com ele, não se pode reduzir a relação do homem com o mundo, pois é necessário conhecer o ambiente para entender o indivíduo.  Parra citou o filósofo francês Michel Serres, morto em junho deste ano, e acreditava que os povos transformaram e modificaram a natureza o suficiente.

– Para integrar e reintegrar-se em relações recíprocas, devem ser expressas nos vários níveis da vida e cultura humanas e também, é claro, no plano político-jurídico: como pacto com a natureza, promovendo os direitos e deveres do ser humano, sem se desconectar dos direitos da natureza ou do bem comum. Tudo isso de maneira equilibrada.

Encerramento

Na última mesa do seminário, Peter Casarella e Maria Clara Bingemer debateram sobre os desdobramentos dos dias de encontro. Foi decidido que um novo Ecclesia in America será realizado, em outro país, daqui a dois anos. Uma rede, definida por Casarella como “rede de redes”, será criada para manter os participantes unidos e atrair novos apoiadores, além de um site com um fórum para que possam haver discussões e trocas de ideias sobre os assuntos abordados no seminário.

- Foi uma riqueza muito grande de conteúdo e queremos publicar as atas deste seminário. A ideia é ter uma publicação em espanhol e outra em inglês. Depois, já encaminhamos a ideia de preparar uma nota, no estilo informativo, para a diversas plataformas. Faremos uma página na web chamada Ecclesia in América com um fórum fechado, para os participantes do encontro, e um aberto, em que se pode colocar pequenos textos, notícias e coisas do tipo – finalizou Maria Clara.

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