Nem só coisa e nem só livro
08/11/2019 18:55
Gustavo Magalhães

 Doutoranda em Comunicação Social cria instalação para mostrar a carga simbólica dos livros

Os textos da autora Clarice Lispector. Foto: Joana Beleza.

Os livros são vida e afeto, mas formam uma tradição sufocante de teorização e carregamento de experiências, é o que acredita Joana Beleza, que expôs parte da tese de doutorado em Comunicação Social no campus da PUC-Rio do dia 27 de outubro ao dia 3 de novembro. De acordo com a doutoranda, o objetivo em construir o livro-coisa era elaborar um livro que quebrasse a lógica material dos objetos e que demonstrasse como eram as obras antes que existissem as significações que as constituem. 

— Os livros têm uma carga social e simbólica muito forte. Quando se pensa neles, vem a ideia de um saber enciclopédico. O meu estudo é um movimento de volta à essência do livro e não para a representação social e coletiva, que é a estabelecida normalmente. O encontro com o livro-coisa visa promover uma experiência única de leitura a quem participa. A instalação artística é o livro mais vivo, mais liberto das teorizações e do lugar fechado no qual é colocado.

A tese de doutorado de Joana Beleza teve início em 2015, e a estrutura do livro-coisa começou a ser feita em abril de 2019. São quatro apoios de madeira, dois para o livro-coisa e dois para fragmentos de textos de Clarice Lispector. As caixas ficam em ambientes separados, que são demarcados por tecidos brancos. O livro-coisa é feito de madeira, aberto e com duas cavidades, uma em cada página, que são preenchidas com água.

A criadora do livro-coisa explica que as reações ao contato com a instalação foram diversas e que os textos de Clarice, por serem epifânicos, propiciaram uma conexão maior do público com o projeto.

— A pessoa que quiser ter uma experiência com o livro-coisa terá que botar uma venda e, logo na entrada, ela escuta o barulho de respiração que é projetado pela caixa de som. O participante é direcionado ao livro-coisa e vive a experiência pessoal com ele. Depois, é mandado para o outro ambiente, onde tira a venda e lê os textos A paixão segundo GH e Laços de Família e o experimento se conclui aí. Muitas pessoas sentiram medo, outras, se divertiam. Foram reações muito diferentes e satisfatórias para a minha pesquisa, que realmente incorporaram as propostas de um livro sem palavras. 

A doutoranda lembra que pensar os materiais que compõem o livro-coisa foi um trabalho difícil pelo grau de abstração que a tese exigia. Joana Beleza aponta que a sensação de estranhamento que certas produções artísticas podem causar no público fazem com que ele, por outro lado, fique intrigado e decida interpretar por mais tempo a proposta do artista.

 — O processo para a construção do livro coisa foi angustiante. Tudo nos vem pronto, os objetos vêm cheios de significados e memórias, foi preciso repensar as significações das coisas. Geralmente, não vemos as memórias que têm nelas, e isso empobrece a relação entre pessoa e coisa. O projeto contrapõe a relação da pessoa com o livro. O que antes era visto como transmissão de informações do livro ao leitor se torna uma troca de conhecimento entre os dois.

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