A mudança nos cursos de graduação em Engenharia, determinada pelas Novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), foi discutida em uma série de palestras na tarde da última segunda-feira, 11. O Workshop Novas Diretrizes Curriculares Nacionais nos cursos de Engenharia no Brasil, teve a participação de professores de diversas universidades, que compartilharam as experiências aplicadas nas instituições nas quais atuam.
De acordo com o professor Ricardo José Bertin, da PUC-PR, houve a percepção que as formações nos cursos de Engenharia não propiciavam inovações tecnológicas aos estudantes. Bertin comentou que, a partir dessa constatação, foi implementada uma dinâmica diferente nas salas de aula para que os alunos ficassem mais preparados para lidar com as tecnologias e inovações.
— Hoje, é exigido criatividade, empreendedorismo, convívio em equipe e inteligência emocional. Os alunos devem pensar em assuntos periféricos à formação deles, o que é riquíssimo para a constituição dos conhecimentos. Eles têm que estar interessados em outros campos do saber e não só pensar dentro da caixa do próprio curso.
Bertin observou que as matérias devem ser lecionadas de maneira mais interessante aos estudantes, mesmo em aulas teóricas. O engenheiro afirmou que a intenção das mudanças é romper com a dinâmica convencional de aulas e promover o desenvolvimento dos alunos por meio de pedagogias menos tradicionais. Ele explicou o uso da metodologia ativa, processo de ensino que tem como principal característica transformar o estudante no agente principal, responsável pela sua aprendizagem. O professor defendeu que deve ser feita uma construção coletiva de disciplinas e uma reconfiguração das avaliações, para que elas se adequem às necessidades do mundo atual.
— Na educação, o aluno aparece como um depósito de conhecimento, e o professor fala tudo que sabe, para que o aluno guarde. A partir daí o estudante aprende sozinho a lidar e executar. O efeito disso são alunos cada vez mais imediatistas. É preciso ensinar não só o que, mas como os estudantes devem tirar proveito da aprendizagem que tiveram.
A professora Paulina Achurra, do Insper, compartilhou os esforços da instituição para fazer os alunos desenvolverem interesse pelas engenharias. O processo de transformação do Insper começou com a decisão do perfil do aluno que gostariam de ter e formar, revelou.
— Buscamos diálogo com eles para refletir o que está sendo absorvido. Conquistamos uma forte interação com a indústria. Nós precisamos transmitir e aplicar o conhecimento de uma forma diferente, porque aprendemos de forma tradicional e notamos que ela não é mais suficiente.
O professor José Roberto Cardoso, da USP, criticou o modelo de formação dos alunos na atualidade e o comparou à uma linha de produção. Cardoso ressaltou a importância de considerar o lado emocional em detrimento de grandes exigências que as faculdades exercem nos estudantes.
— É preciso que seja instaurada uma a avaliação continuada que seja realizada a cada vez que o aluno expõe o próprio conhecimento. Esses pensamentos têm potencial para chegar na sociedade e não fica restrita à técnica.
O engenheiro ainda relatou que, no ano de 1950, o ensino de Engenharia era essencialmente prático, mas, lembrou, ao longo das décadas subsequentes, a Ciência da Engenharia passou a ser estudada, o que a tornou os cursos mais teóricos. Segundo o professor, a virada do século trouxe tecnologias novas, e outros paradigmas surgiram, o que fez com que a prática nas disciplinas voltasse a ser considerada importante.
— Em outros momentos, as grandes escolas de Engenharia não se juntaram para formar um projeto coletivo com o intuito de repensar a formação dos alunos. Hoje, isso foi alcançado, e essa união será relevante e produtiva.