Ecologia integral em um mundo fragmentado
13/06/2020 21:59
Vinicius Portella

Na abertura da Semana de Meio Ambiente, palestrantes analisam os cinco anos da encíclica Laudato Si'

Por causa da pandemia da Covid-19, pela primeira vez, a Semana de Meio Ambiente da PUC-Rio foi realizada no ambiente virtual.  Com o tema Laudato Si’, o clima e a sociedade, a XXVI Semana do Meio Ambiente da PUC-Rio começou na quarta-feira, 3 de junho, com proposta de refletir sobre os cinco anos da primeira carta encíclica escrita pelo Papa Francisco, que trata da ecologia integral e da preservação socioambiental da “Casa Comum”, o planeta Terra. O primeiro dia abordou o tema Laudato Si’ e a Amazônia com palestras, debates, vídeos e um minicurso a respeito do assunto. 

Mediador da cerimônia, o diretor do Departamento de Teologia, padre Waldecir Gonzaga, lembrou na abertura da Semana que 2020 é o Ano Laudato Si’, dedicado à encíclica, e que por isso a temática se estenderá pela dinâmica da Universidade durante o ano inteiro. Após o discurso inicial, o Grão-Chanceler da PUC-Rio, Arcebispo do Rio de Janeiro Dom Orani João Tempesta, O.Cist., ressaltou a importância de aprofundar o tema em um momento tão complexo e comemorou o quinto aniversário do documento. 

O Diretor do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente da PUC-Rio (NIMA), professor Luiz Felipe Guanaes, tocou em uma questão abordada por quase todos os participantes, a de que o documento elaborado pelo Papa Francisco não deve servir apenas para análise. Guanaes comentou que a sociedade tem que se mobilizar e mudar as atitudes em favor do meio ambiente para, assim, preservar melhor o planeta. 

- Além de pensar a Laudato Si’, a gente tem que ter ação. A gente espera conseguir que esta ação se amplie na Universidade. Nossa agenda socioambiental, que foi alterada e melhorada exatamente em função da Laudato Si’, tem como ambição que o aluno e o professor hajam em uma perspectiva mais integral.

Padre Waldecir Gonzaga, Dom Orani João Tempesta, O. Cist e professor Luiz Felipe Guanaes

A presença do Bispo da Prelazia de Itacoatiara, Dom José Ionilton, diversificou o debate e trouxe a visão de alguém que vive o cotidiano de um município no Amazonas. Ele destacou o papel fundamental do Sínodo Pan-Amazônico, ocorrido em 2019, da Exortação Pós-Sinodal Querida Amazônia, da Laudato Si e do Papa Francisco para o combate ao desmatamento, às injustiças e crimes cometidos contra os indígenas e as comunidades ribeirinhas. O bispo salientou as ações tomadas pela Prelazia a partir da encíclica, como o incentivo a hortas caseiras para diminuir o uso de agrotóxicos, o aproveitamento de lixo reciclável e o apoio financeiro às populações ribeirinhas para que conservem as frutas em polpas, para serem vendidas e, assim, haver a geração de emprego e renda. 

Dom José comentou a reativação do Projeto Unicom, uma parceria da PUC-Rio com a Prelazia de Itacoatiara que promove a ida de alunos ao município, com o objetivo de fomentar a troca de experiências e a preservação socioambiental. O Exército leva os estudantes, e a Prelazia fornece a hospedagem e a alimentação. O projeto seria realizado em julho deste ano, mas por causa da pandemia do coronavírus, no entanto, foi adiado para o ano que vem. 

Dom José Ionilton, Dom Joel Portella e padre Josafá Carlos de Siqueira S.J.

Diante da crise do novo coronavírus, o primeiro dia do encontro também trouxe a reflexão sobre a necessidade de uma ecologia integral e do surgimento de um novo mundo após a pandemia, como reforçou o Secretário-Geral da CNBB, Dom Joel Portella, ao afirmar que a Laudato Si’ abarca um dos alicerces desse futuro. Assim como Dom Joel, o Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., ressaltou a relevância da carta do Papa Francisco para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e preocupada com o meio ambiente. 

- No coração da encíclica há duas questões fundamentais: como resgatar a teologia da criação e como desenvolver uma ecologia integral em um mundo fragmentado. Além das reflexões do Papa Francisco, seu estilo prático e pastoral nos propõe algumas linhas de orientações e ações que passam pela educação, a espiritualidade, a conversão, a cultura da paz. A Igreja do Brasil e as universidades católicas assumiram essa missão, de divulgar a encíclica Laudato Si’ na sociedade, nas comunidades eclesiais e nos meios acadêmicos, com a preocupação de gerar gestos e ações concretas em favor da sustentabilidade socioambiental. 

A abertura da XXVI Semana do Meio Ambiente terminou com um vídeo sobre a Exortação Pós-Sinodal Querida Amazônia e os quatro sonhos expressos pelo Papa Francisco na encíclica: Uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres e dos nativos, que preserve a riqueza cultural que tem, que guarde com zelo a beleza natural e que as comunidades cristãs sejam capazes de se voltar e se encarnar no local.

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