A atuação de fonoaudiólogos durante a pandemia
08/06/2021 21:17
Rafael Serfaty

Profissionais são fundamentais para a recuperação de pacientes que foram entubados

Fala-se muito do papel de médicos e fisioterapeutas que ajudam pacientes a enfrentar a Covid-19 e a se recuperar das sequelas da doença. Mas poucos sabem, no entanto, da atuação de um profissional de saúde cuja especialidade não parece estar diretamente envolvida no tratamento para combater o novo coronavírus: o fonoaudiólogo.  

Os problemas respiratórios se multiplicaram exponencialmente durante a pandemia, e a maior parte dos contaminados que foram hospitalizados apresentam dificuldade na deglutição e na fala após o entubamento. Por isso, é necessário o auxílio de um fonoaudiólogo para tratar esses distúrbios, como Lia Thoma, que trabalha em um Centro de Tratamento Intensivo (CTI) na Alemanha. De acordo com Lia, a recuperação de pacientes que contraíram o novo coronavírus requer terapia diária.

– Como fonoaudióloga, você pode ajudar o paciente a deglutir melhor, ajudar ele na alimentação, na respiração e na voz. Na deglutição, a recuperação é boa. Na fala, também. A respiração é que demora um pouco mais. Esta parte respiratória precisa ser feita desde o começo e levada muito a sério.

Fonoaudióloga Lia Thoma, que trabalha em um CTI na Alemanha

A pandemia não só atinge aqueles que ficam doentes, mas também afeta os que mantêm uma rotina limitada por causa do isolamento social. Em decorrência do extenso período de confinamento, o estresse, o nervosismo e a ansiedade proliferam com maior força e podem afetar a respiração e a fala de crianças.

Especializada na área infantil, a fonoaudióloga Maria Lucia Motta comenta sobre os efeitos do isolamento social para esta faixa etária. Ela diz que a quarentena provoca um impacto maior nas crianças, cujo desenvolvimento e a aprendizagem ficam bastante prejudicados. De acordo com Maria Lucia, que atende em Botafogo, Zona Sul, quem nasceu nos últimos dois anos sofre medo do desconhecido e ficou privado de uma série de atividades culturais, fundamentais para estimular o amadurecimento dos pequenos.

– Eu atendi uma família que não conseguia estimular o filho, não ia nem ao médico, nem ao pediatra porque não saía de casa. As crianças de um ano e pouco estão começando a aparecer aqui sem falar. Elas ficaram sem este olhar da família, porque o trabalho remoto está muito cruel. Não tem horário, é cansativo, estressante. E (a pessoa) ainda perder emprego, ter redução salário, um caos. Eu tenho recebido várias crianças com suspeita de autismo, virou até piada, todo mundo é autista. Você imagina uma criança que só vê parede num apartamento pequeno, com pouco espaço para andar. Isto tudo afetou o desenvolvimento da fala.

Maria Lucia também aponta o efeito do isolamento sobre crianças de 5 a 8 anos. Segundo a fonoaudióloga, aquelas que estão matriculadas entre o pré 2 e o segundo ano do fundamental ficaram com a alfabetização comprometida.

 – Quem era do pré 2, com todo aquele material de escrita, não conseguiu fazer on-line. O primeiro ano alfabetizou on-line, e quem foi para o segundo fez um primeiro muito ruim. O vínculo da criança com o colégio foi perdido, está uma confusão. Eu tenho recebido criança que não está conseguindo ler, que está com problema de foco porque não se concentra, o olho está cansado, então há muita queixa de dor no olho. Existe uma hiperconvergência por conta da tela, tanto do on-line quanto do jogo.

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