Setembro Amarelo: reflexão pela vida
06/09/2022 17:49
Giovanna de Luca e Henrique Silva

Especialistas apontam para a necessidade de cuidar do corpo, da mente e do espírito

Auditório Padre José de Anchieta durante a palestra do Setembro Amarelo. Foto: JP Araujo

Temas relacionados ao bem estar físico, mental e espiritual foram discutidos durante debates realizados no Auditório Padre José de Anchieta, para lembrar o Setembro Amarelo, campanha de prevenção do suicídio, criada em 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). A programação da PUC-Rio, no dia 1º de setembro, foi composta de palestras, intercaladas por ginástica laboral, e a celebração de uma missa pelo Reitor, Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J., na Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Esta edição do Setembro Amarelo é a primeira após o fim de dois anos de isolamento social.

O Departamento de Medicina (MedPUC) organizou as atividades inaugurais do Setembro Amarelo. No início, uma série de alongamentos foi realizada na entrada do auditório. O momento de descontração precedeu a mesa de abertura, com  mediação do Decano do CCBS, professor Hilton Koch, e composição de professores dos departamentos de Psicologia e de Medicina, do Vice-Reitor Comunitário, professor Augusto Sampaio, além do Padre André Luís Araújo, S.J., nomeado recentemente como Vice-Reitor Geral.

O religioso exaltou o compromisso da comunidade PUC-Rio na prevenção e no combate ao suicídio. Ele lembrou as dificuldades dos tempos em que vivemos, marcado por uma pandemia e pela precarização das relações humanas. Ao longo da sua fala, estabeleceu o aprofundamento de uma “rede solidária de atenção e acolhimento”, como forma de ajudar uns aos outros a enfrentar o problema.

Na sequência, o professor Augusto Sampaio agradeceu Padre Araújo pela participação no encontro, ressaltou o fato de o auditório estar lotado e endossou o cuidado da Universidade com o tema, ao citar algumas medidas que vêm sendo tomadas há mais de uma década pela PUC-Rio. Essas, de acordo com o Vice-Reitor Comunitário, inspiraram outras instituições de ensino superior a realizaram programas semelhantes.

Saúde em tempos de pandemia

A palestra do professor Fábio Barbirato, convidado do Departamento de Medicina, e da professora Helenice Charchat, do Departamento de Psicologia, foi a primeira da série e abordou a questão da saúde mental entre jovens e o fator pandêmico. Eles comentaram informações e leituras impactantes, como a do suicídio figurar entre uma das três principais causas de morte em indivíduos com idade entre 15 e 29 anos no mundo.

Segundo eles, em números disponibilizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a quantidade de indivíduos que atentaram contra a própria vida só fez crescer durante e após o período de isolamento social, sendo os jovens os mais afetados nesse processo. As características comportamentais do suicida — acometidos, no geral, de depressão e de ansiedade — também foram mencionadas na exposição.

Público assiste palestra de Setembro Amarelo. Foto: Luanna Lino

Barbirato elucidou que “tudo começa no ato de falar”, ou seja, o caminho para evitar o suicídio tem início no desabafo corajoso daqueles que estão doentes. E necessitam, para ele, um olhar atento de pessoas próximas e profissionais da área. Ele aproveitou para parabenizar a Universidade por oferecer um canal de escuta aos estudantes. A professora Helenice pontuou que o médico, além de parceiro da PUC-Rio, coordena um projeto beneficente em prol de crianças e adolescentes na Santa Casa de Misericórdia, no Centro.

A apresentação da professora, na sequência, expandiu a questão da depressão e ansiedade entre os jovens, em que pese no Rio de Janeiro. Os dados coletados e revelados foram frutos de um estudo realizado durante a pandemia, em parceria com uma de suas alunas da graduação.

Mal-estar suportável e insuportável 

A terceira mesa do encontro foi formada ainda na parte da manhã pela professora Fátima Vasconcellos, do curso de pós-graduação em Psiquiatria, e pelo professor Fernando Tenório, do Departamento de Psicologia. Eles definiram o momento como uma “roda de conversa”, voltada para entender como os presentes cuidavam da saúde mental e, a partir deste ponto, traçar os aspectos que englobam esses cuidados.

Os palestrantes pediram para as pessoas contarem como cuidam da saúde mental. Tenório afirmou que cada um deve buscar a melhor maneira de lidar consigo mesmo, mas reconheceu na terapia da análise, com profissionais da área  - psicólogos e/ou psiquiatras - um lugar comum para todos.

A professora Fátima reforçou que existem dois tipos de mal-estar: o suportável e o insuportável. O primeiro pode ser administrado sem ajuda de terceiros, mas o segundo deve ser compartilhado e abordado de maneira particular e atenta. Ela chamou a atenção para o consumo excessivo de drogas e para os casos de famílias que têm um histórico de suicídio, para além da depressão e da ansiedade.

Corpo e psique

Para introduzir a tarde amarela, o professor Raphael Zeremba, Departamento de Psicologia, o Coordenador de Educação Física da PUC-Rio, professor Paulo Júnior, e o Instrutor internacional da metodologia CEB (Cultivating Emotional Balance), Duda Nascimento, foram convidados para falar sobre a associação entre a prática de exercícios físicos e os benefícios para a saúde mental. Os palestrantes observaram que uma pessoa mentalmente saudável é aquela capaz de encarar os desafios do dia a dia com equilíbrio.

Raphael Zaremba, Paulo Júnior e Duda Nascimento discursam na palestra de Setembro Amarelo. Foto: Luanna Lino

Eles defenderam que fazer exercícios, para liberar endorfina, substância natural produzida pelo cérebro durante e após a realização de uma atividade física, melhora o humor e reduz a ansiedade. O trabalho corporal libera hormônios, que promovem a felicidade, e relaxa os músculos: alivia tensões e a mente fica melhor.

Questionado sobre as perversidades do meio do esporte, o professor Zerembra fez uma observação sobre a psicologia do esporte e a imposição parental. Ele afirmou que a maior pressão vem de dentro de casa e que o envolvimento dos pais na carreira esportiva dos filhos muitas vezes gera jovens atletas ansiosos e/ou depressivos, por isso, faz-se necessário rever o segmento.

- Quando você está no Maracanã com outras 70 mil pessoas e começa a gritar, sua voz e xingamentos se perdem na multidão. Agora, em um torcida de juvenil, na qual a arquibancada tem no máximo 70 pessoas, seus xingamentos e pressões são direcionados a seus filhos e aos filhos dos outros, gerando estresse, ansiedade, angústias, preocupações em excesso, insatisfação com as funções e nervosismos. Não é saudável - completou.

Por fim, o professor Paulo Júnior convidou alunos e funcionários a visitarem a Coordenação de Educação Física, que desenvolve uma série de atividades em prol da saúde mental: aulas de yoga, surfe, pilates, ginástica localizada, natação, alongamento e consciência corporal, musculação e danças contemporânea e afro. 

Geração dos excessos

A professora Patrícia Bado, do curso de Neurociência, a psicóloga Luísa Wolf, especialista em Transtornos Adictivos pela PUC-Rio, e o professor Marco Aurélio, do Departamento de Psicologia, questionaram se hábitos excessivos são ou não uma droga. Com especialidades distintas, os palestrantes demonstraram diferentes opiniões. Pesquisadora na área de neurociência e comportamento humano, com ênfase no sistema de recompensa e a relação com a saúde mental, Patrícia defende que nem todo excesso é um vício, mas, observou, todo exagero esconde uma falta. Já Luísa e Wolf, que são estudiosos de dependência emocional, acreditam que tudo que tudo em excesso é, sim, uma droga.

Patrícia Bado, Marco Aurélio e Luisa Wolf. Foto: Luanna Lino

Apesar das opiniões distintas, ambos creem que sofrimentos e danos geram aumento de quantidade de uma ação e que um critério de continuidade, apesar das problemáticas, constitui o que a sociedade chama de vício.

- Somos uma geração viciada em internet, comida, compras, trabalho, jogos, exercício físico, medicações, mentiras e outras pessoas. Um vício pode ser identificado em qualquer comportamento que gere um prazer ou alívio temporário, e o desejo por esse comportamento ou objeto passa a ser frequente e intenso, ainda que gere consequências negativas para a pessoa - expõe a psicóloga.

Cotidiano seguro

A professora Marcy Domingues Alves, do Departamento de Psicologia e a produtora regional do Ministério Público do Trabalho, Cynthia Lopes, conversaram sobre estresse e saúde nos ambientes universitários e trabalhistas. A professora Marcy explicou que manter boas relações humanas influenciam mais positivamente do que ser bem remunerado ou alcançar realizações profissionais. Enquanto isso, um ambiente solidificado pelo assédio moral pode se tornar uma máquina de moer bem-estar emocional.

- Tanto a universidade quanto o trabalho são núcleos essenciais no cotidiano das pessoas, manter boas e honestas relações nesse meio são essenciais para uma rotina saudável e um trabalho seguro -  defendeu.

Dentre as considerações, Cynthia refletiu sobre a saúde mental das mulheres que estudam e ou trabalham e dos policiais militares. Ela comentou que pessoas do sexo feminino são mais propensas a problemas como ansiedade e depressão, provocados não apenas por questões hormonais, mas também sociais. E no caso dos profissionais de segurança, as questões estão no treinamento e na rotina violenta, fatores que geram consequências psíquicas. Ao fazer uma panorama de gestão de trabalho, Cynthia vê necessidade de reavaliar as normas do ambiente de trabalho e de investir em desenvolvimentos periódicos sobre saúde emocional.

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