Stranger Things, WandaVision, Dark, Crow, Verão 90: na aula inaugural “Comunicação, Audiovisual e Memória”, o uso da nostalgia como produto cinematográfico foi colocado em pauta. Organizada pelo Departamento de Comunicação, a palestra foi ministrada pela professora e historiadora Ana Paula Goulart e abordou a valorização da cultura da memória no mercado audiovisual e o porquê isso se tornou tão atrativo. A palestrante convidada ainda discutiu a genealogia da nostalgia e retratou o termo sobre a perspectiva histórica e atual.
De acordo com a professora, as práticas midiáticas vivem um verdadeiro boom nostálgico, e isso se vale, principalmente, pela vontade insaciável do consumo de produtos do passado que proporcionam conexão emocional e afetiva. Novelas, filmes, séries e desenhos infantis abusam de referências de décadas, na tentativa de causar identificação e familiaridade por meio do resgate de alusões à antiga juventude.
— A nossa cultura valoriza a potência da juventude por vir da criança. Isso torna a infância e a juventude idades de ouro que adultos e idosos desejam, de alguma forma, resgatar.
A historiadora também explicou que, por muito tempo, a nostalgia era considerada uma doença. O termo, criado pelo campo da medicina no século XVII, qualificava viajantes e estrangeiros que sofriam de um estado disruptivo provocado pela fixação de lembranças da terra natal. Os sintomas iam de taquicardia a alucinações e, em casos extremos, podia levar ao suicídio. Somente a partir do século XIX que a expressão deixou de ser símbolo de enfermidade.
— A nostalgia que já foi uma doença, hoje, ajuda a vender imagens do passado e gera lucros para a indústria da cultura e do entretenimento. Ela mobiliza a economia de bens materiais e simbólicos de diversos países.
Ana Paula ainda apresentou a utilização de referências do passado em produções audiovisuais de sucesso entre os jovens, como a série Stranger Things que, apesar de ter um público majoritariamente adolescente, retrata a década de 1980. Segundo a especialista, a razão deste fenômeno conquistar jovens e adultos está no repertório comum, o consumo compartilhado: uma narrativa atual com características que causam identificação aos mais velhos.
A aula inaugural encerrou com perguntas de participantes que discutiram o uso da nostalgia na política brasileira, a exemplo da aplicação de aspectos da ditadura militar nas campanhas eleitorais da atualidade.