Amizade e fraternidade social
23/09/2022 18:27
Gabriel Meirelles, Henrique Silva e Sophia Marques

XIII Semana da CRE discute maneiras de incentivar autonomia e cidadania na Universidade

Inspirada pela encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, XIII Semana da Cultura Religiosa promoveu reflexões sobre o tema “Cidadania plena: democracia, justiça, direitos e deveres” entre os dias 19 e 23 de setembro. Os encontros, organizados pelo Setor de Cultura Religiosa (CRE) da PUC-Rio, foram realizados pela plataforma Zoom e contaram com a presença de especialistas, pesquisadores, profissionais e atores sociais envolvidos em diversos aspectos da temática.

Além das palestras, houve também as Sessões de Comunicação: espaços para estudantes da graduação e pós-graduação nos quais eles apresentaram pensamentos e análises acerca de suas percepções sobre o conceito de cidadania plena. Coordenador da CRE, Padre Abimar de Moraes foi o responsável pela condução da cerimônia de abertura e das demais discussões.

Padre Abimar de Moraes

O Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, O.Cist., afirmou que o tema vem de encontro com a função e responsabilidade cristã da PUC-Rio. Segundo ele, a identidade católica possibilita a construção da harmonia com o que lhe é diverso por meio do testemunho e do diálogo universal.

— A Cultura Religiosa se encontra na divisa do convívio com todas as realidades, para olharmos nossa responsabilidade social. Em um mundo de tantas injustiças, necessidades, como a violência, a intolerância religiosa e ideológica, devemos buscar o encontro com Jesus Cristo. É isso que nos define, como cristãos, e está no centro de nossas vidas e nos faz conviver em fraternidade - disse o Cardeal.

Cardeal Dom Orani Tempesta

O Vice-Reitor Geral da PUC, Padre André Luís de Araújo, S.J., reforçou a importância da temática deste ano e destacou alguns pontos da terceira encíclica do Papa Francisco, como a aplicação do conceito de igualdade e a necessidade urgente de aprender a acolher, proteger, promover e integrar indistintamente as pessoas, de renunciar ao termo “minorias” – discriminatório, de acordo com o parágrafo de número 138. Padre André observou que esta ação está em consonância com o estatuto da Universidade, o plano pastoral da Arquidiocese, o plano apostólico da Companhia de Jesus e o Pacto Educativo Global. Além disto, ele mencionou o tríplice compromisso registrado no Marco Referencial da PUC-Rio: a verdade; a vivência profunda da fraternidade; e o respeito aos ideais transcendentes.

— Evidenciam-se ao longo desta semana temas com textos e reflexões essenciais da comunidade universitária no que diz respeito à instituição que desejamos ser, com a finalidade de uma atuação democrática consciente, na perspectiva de uma cidadania plenamente realizada quando se trata da justiça, dos direitos e dos deveres individuais e coletivos, expressos e assumidos academicamente pelas nossas práticas de ensino, pesquisa e extensão, visto que toda a nossa atuação não pode renunciar a nenhum processo formativo destes.

Padre André Luís de Araújo, S.J.

O diretor do Departamento da Teologia, Padre Waldecir Gonzaga, reafirmou a finalidade da XIII Semana da CRE de congregar professores e alunos de toda a PUC-Rio. Apesar de outras atividades da Universidade estarem na modalidade presencial, o religioso apelidou a plataforma Zoom de “campus virtual”. Padre Waldecir frisou a necessidade de olhar para os desafios atuais do mundo, como o cuidado com o bem comum, e a importância de ajudar o próximo e fazer o bem.

— É bom e agradável recordar que a CRE faz parte deste imenso mutirão que o departamento realiza, tornando-se assim o mais transversal da PUC-Rio, colaborando em parceria com todos os demais departamentos, no diálogo com os diversos saberes e com a universal pluralidade presente na Universidade. Com todas as suas diferenças e riquezas e deste mosaico do saber, que é a PUC-Rio, oferecendo a visão cristã da realidade para o momento hodierno, mas trazendo a sua bimilenar tradição de colaboração da construção da sociedade, do bem comum.

Cidadania plena

A segunda mesa redonda da XIII Semana da CRE discutiu o papel da PUC-Rio na construção da cidadania plena e foi composta pelo Reitor da PUC-Rio, Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J., e do diretor do Departamento de História, professor Marcelo Jasmin. O encontro, na plataforma Zoom,  também foi transmitido ao vivo pelo YouTube, no canal Teologia a Distância PUC-Rio.

A partir de uma abordagem histórica, Jasmin relembrou momentos marcantes que demonstraram o papel da instituição na promoção da fraternidade social e também apresentou breves noções de cidadania para embasar as discussões da semana. O Reitor aproveitou para contar um pouco sobre a história da Ordem dos Jesuítas, fundada por Santo Inácio de Loyola, e a sua função de guiar a fé a um novo modo de ser, incentivando a autonomia do sujeito.

Jasmin revelou que em 1975, ano em que ingressou na PUC-Rio como aluno de Engenharia, um incômodo pairava sobre o campus, por causa dos altos preços do Bandejão e da impossibilidade de haver um acordo com a empresa responsável pelas refeições. Com um boicote organizado pelos alunos, o então Reitor, Padre Pedro Belisário Velloso, S.J, propôs que os estudantes assumissem a administração do Bandejão. Assim surgiu a Associação dos Alunos da PUC, empresa sem fins lucrativos, que administrou o refeitório universitário durante 13 anos, de 1975 a 1988.

— Este ato do Reitor Padre Veloso, S.J, simboliza a vontade de ouvir os jovens e acreditar na capacidade deles. Incentivá-los a discutir com liberdade, encontrar soluções inteligentes e coletivas, estimular a participação e ao mesmo tempo a responsabilidade. E estes todos são atributos da cidadania.

Professor Marcelo Jasmin

Ele fez referência, também, à época da ditadura militar no Brasil. Segundo ele, nestes anos, nos quais os diretórios acadêmicos das universidades públicas foram fechados, a PUC-Rio, uma instituição privada, conseguiu manter os centros acadêmicos abertos e abrigou grande parte da movimentação estudantil do estado do Rio de Janeiro.

— A PUC-Rio manteve aberta os diretórios acadêmicos, garantiu a continuidade da organização estudantil e a regularidade anual das eleições desses diretórios. Nos pilotis se realizaram inúmeros atos públicos em defesa da liberdade democrática e contra o arbítrio e  violência ditatorial. A liberdade de expressão para estudantes e professores era prevalecente. Me parece que isto tudo simboliza, exatamente, o papel da PUC-Rio na construção de uma cidadania plena - resumiu o diretor do Departamento de História.

Sobre a Companhia de Jesus, Padre Anderson contou que o grupo nasceu na Idade Moderna, momento em que existia uma grande movimentação no sentido de colocar o sujeito no centro, enaltecer a autonomia e desprender-se da heteronomia. Segundo ele, Santo Inácio de Loyola enfrentou o grande desafio que é atualizar a fé e a maneira da Igreja de atuar na sociedade.

— O paradigma do sujeito autônomo entra, imediatamente, na corrente sanguínea da Companhia de Jesus. O jesuíta foi preconizado como um clérigo bem informado, que trouxe um novo modo de ser e atuar na sociedade, para auxiliar a Igreja naquela época da modernidade que foi um momento de troca de paradigma. De fato, a Companhia de Jesus, concebida como este lugar de formação de sujeitos autônomos, trouxe, em si mesma, essa maneira de conviver.

O jesuíta acredita que esta visão filosófica é um grande passo, pois abriu caminhos para o diálogo com a ciência, com a liberdade e uma nova visão de ser humano, embora demande uma necessidade profunda de formação. De acordo com ele, com a autonomia do sujeito, nasce também o perigo natural do egoísmo, e uma formação insuficiente ou inexistente pode causar justamente o oposto do que se pretendia no princípio: um indivíduo incapaz de liberdade, convivência social, auto-referenciado e autoritário.

Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J.

Em referência ao futuro, Padre Anderson Pedroso, S.J, disse que busca explorar um novo modelo de Universidade, capaz de corresponder às demandas do mundo atual e posicionar os alunos como protagonistas da própria formação. Ele acrescentou que a PUC-Rio está, atualmente, entre as melhores instituições de pesquisa no país e esgotou positivamente o objetivo que havia sido formulado no início da década de 1960.

— Esse é um grande momento da nossa Universidade, porque nós estamos vivendo uma mudança de época. É uma mudança que vai nos exigir as nossas melhores forças e melhores experiências, que são na parte da educação. Não vai tirar de nós essa riqueza, que é a Teoria da Experiência, de colocar o sujeito como protagonista da sua história. É, também, um tempo que vai nos pedir criatividade para a convivência social e para repensar o conceito de cidade. A cidadania vai ter que se casar com a criatividade.

Ecologia Integral

O último dia da Semana da CRE foi marcado pela palestra “Cidadania e Ecologia Integral”. A mesa, mediada pela professora Monica Campos, do Departamento de Teologia, trouxe reflexões sobre a preservação ambiental e o papel do homem nesse contexto. Participaram o Diretor do Departamento de Teologia, Padre Waldecir Gonzaga, e o subsecretário municipal do Clima de Niterói, Marcos Sant`Anna Lacerda.

As encíclicas do Papa Francisco Fratelli Tutti e Laudato si’, além do documento Querida Amazônia, nortearam a abordagem. O sacerdote diocesano justificou a escolha do tema, inclusive, por meio de uma fala do Santo Padre, que afirma a importância de cuidar do mundo ao redor como forma de cuidar de si. A crise socioambiental, o valor da criação e a raiz humana — que influi de maneira direta nos rumos do meio ambiente — estruturam os caminhos de busca das soluções.

Padre Waldecir Gonzaga

O religioso pontuou os sete itens expostos pela encíclica para alcançar uma ecologia integral, e são eles: ambiental, econômico, social, cultural, humano, bem comum e relação entre gerações. Eles englobam, segundo o Padre, uma série de ações que devem ser tomadas pelos homens na interação com a natureza, para buscar a sustentabilidade e ser responsável com as futuras gerações.

Na sequência, Lacerda refletiu sobre as origens da Terra e como a cidadania expressa um conjunto de direitos que possibilita a participação ativa em uma comunidade. Para o arquiteto, a crença em uma fonte originária ajuda o ser humano a estabelecer uma relação de responsabilidade com a Terra. Fundador do Instituto Terrazul, Lacerda apresentou o projeto da ONG, que considera as questões culturais e ambientais como centrais para o desenvolvimento humano.

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