Agatha Christie, telenovelas e Rio de Janeiro
06/10/2022 17:20
Sophia Marques

O escritor carioca Raphael Montes conta sua história para os alunos da PUC-Rio

Escritor Rafael Montes em palestra na PUC-Rio. Foto: Sophia Marques

Considerado um dos nomes de destaque na literatura contemporânea brasileira, Raphael Montes esteve na PUC-Rio para um encontro com alunos. Ele falou sobre a jornada como artista, abordou algumas das suas obras sob a perspectiva de criador e deu detalhes sobre o processo criativo. A palestra, realizada no dia 9 de setembro, lotou os assentos do auditório do primeiro andar do Edifício Kennedy. Montes ainda autografou exemplares de livros e conversou com os fãs.

A palestra foi mais uma da série “Para Ler Antes de Desaparecer”, organizada pelo professor Sérgio Mota, do Departamento de Comunicação. Durante a apresentação, alguns trabalhos audiovisuais em formato de Stories do Instagram, produzidos por alunos do professor para a disciplina Comunicação e Literatura, foram exibidos. No exercício, os alunos deveriam resumir histórias dos livros de Montes e incentivar os usuários das redes sociais a experimentar a produção do escritor.

Raphael Montes começou a escrever o primeiro romance, Suicidas, enquanto ainda estava no ensino médio, e a obra foi publicada enquanto ele cursava Direito, na UFRJ. Nascido no subúrbio do Rio de Janeiro, no Méier, o escritor já morou em diversas áreas da cidade e se define como um “contador de histórias cariocas”. Lançado em 2017, Suicidas tem como cenário o Rio de Janeiro, em especial a Zona Sul da cidade. Atualmente morador de Copacabana, Montes comentou que a atividade urbana é importante para o seu processo de criação, e revelou que, no momento, tem pensado muito sobre o odelo estereotipado de família “margarina” que ele identifica em condomínios da Barra da Tijuca. O escritor, que viveu no bairro por um breve período, disse que, provavelmente, este contexto poderá servir como inspiração para uma nova obra.

- As pessoas têm a imagem do escritor como uma pessoa que passa o dia isolado, escrevendo. Eu credito no escritor no mundo. Gosto de sair e ver gente, porque isto me dá material para criar. A inspiração vem do filme que eu vejo, do livro que leio, da conversa que escuto no metrô, do amigo bêbado que faço no bar. O processo de criar, para mim, é ir juntando coisas que vou captando. Copacabana é o meu mundo, e eu acho o máximo, porque abro a porta e passa uma idosa em direção à feira, um garoto de programa que vai malhar, uma mãe de família e as crianças a caminho da escola. E todos vivem no mesmo lugar e se encontram na praia no fim de semana.

Alunos lendo livros do autor. Foto: Sophia Marques

Ele afirmou que o incentivo cultural e o gosto pela escrita não foram fruto de incentivo familiar: cresceu acompanhando as novelas brasileiras, foi leitor de Agatha Christie e assistiu a filmes como a franquia Jogos Mortais. Na época do Orkut, rede social que fez sucesso em meados da primeira década dos anos 2000, muito antes do lançamento do seu primeiro livro, ele fazia parte de uma comunidade chamada “Agatha Christie Desafios”, na qual escrevia fanfics baseadas nos contos da autora britânica. Segundo ele, todos esses elementos transparecem nas tramas, nos dramas e conflitos das suas obras. Também contou que tem uma inclinação por histórias que se passam dentro de ambientes fechados, porque isto permite que os personagens sejam explorados com mais profundidade.

- No meu primeiro livro, eu queria fazer algumas coisas que gostava muito, e gosto até hoje. O Suicidas é uma mistureba de tudo que gosto. Eu sou apaixonado por histórias em um único lugar, por exemplo. Além disso, adoro Agatha Christie e Jogos Mortais. Dois dos melhores finais de todos os tempos, para mim, é o de O Assassinato de Roger Ackroyd e o de E Não sobrou nenhum, de Agatha Christie. Eu pensei: ‘e se eu misturar tudo isso, dá o quê?’ Deu Suicidas.

Montes abordou a transição do seu trabalho para o audiovisual como algo que aconteceu de forma natural, embora ele considere que a adaptação seja sempre um desafio. Segundo Montes, um dos pontos que ele considera mais interessante no processo da leitura é o grande leque de possibilidades no jogo narrativo, que por muitas vezes não é possível de executar no formato audiovisual. Além disso, ele disse que a escrita proporciona uma relação de coautoria com o leitor. Ao investir tempo e atenção na leitura de um livro, a pessoa preenche lacunas com criação própria, enquanto nos filmes as decisões são impostas ao telespectador.

Livros de Raphael Montes á venda. Foto: Sophia Marques


O autor descreveu as obras como “falsamente fáceis de adaptar”, pois embora algumas possam fluir em ritmo quase visual, como é o caso de Dias Perfeitos, elas também se apoiam em características que são intrinsecamente literárias. Ele acredita que todas as histórias podem ser exploradas em diversos formatos, entretanto, demandam elaborações diferentes na narrativa. O escritor acredita que contos adaptados para mais de um tipo de mídia podem agir de forma complementar. Como exemplo, citou Bom Dia Verônica, série de livros que escreveu em parceria com a criminóloga Ilana Casoy e ganhou uma adaptação televisiva na Netflix, em 2020.

- Começamos a escrever o segundo volume, Boa Tarde Verônica, antes de a série ser lançada, e eventualmente paramos de escrever para produzir só a série. Fizemos várias mudanças, e, quando voltarmos com o livro, vamos explorar as coisas que não foram aprofundadas na série, como as histórias do orfanato Cosme e Damião.

Raphael Montes fez referência a autores brasileiros que o entusiasmaram durante todo o processo, como os cariocas Rubens Fonseca, Luiz Alfredo Garcia-Roza, e os paulistas Lourenço Mutarelli e Patrícia Mello. Ele incentivou os estudantes a explorar a literatura nacional. E afirmou que se sente privilegiado por ser um autor brasileiro lido pelo público conterrâneo e também pela presença jovem que comparece em peso nos encontros dos quais participa.
Escritor Raphael Montes autografando exemplares de livros. Foto: Sophia Marques

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