Imortal ‘Divina Cleo’
01/02/2023 18:05
Luzi Alves e Sophia Marques

Integrante da ABL, Cleonice Berardinelli era uma especialista da obra do poeta português Fernando Pessoa

Professora Cleonice Berardinelli durante a posse na ABL Foto: Núcleo de Memória da PUC-Rio

A professora emérita da PUC-Rio Cleonice Berardinelli morreu no dia 31 de janeiro, aos 106 anos, no Rio de Janeiro, em decorrência de insuficiência respiratória. Ela fez parte do corpo docente da Universidade desde 1958, onde atuou no Departamento de Letras. Dona Cleo, como era carinhosamente chamada, ocupava a 8ª cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 2010. A professora era considerada a maior especialista em literatura portuguesa do Brasil, com estudos sobre autores como Fernando Pessoa, Luís de Camões e José Saramago. A Reitoria da PUC-Rio divulgou uma nota em homenagem à escritora na qual foi destacado o brilhantismo da professora além da excelência e humanidade.

Dona Cleo foi também professora emérita pela UFRJ e ministrou aulas na Universidade Católica de Petrópolis e Instituto Rio Branco. Nascida na cidade do Rio de Janeiro, em 1916, ela era filha de um tenente de artilharia e uma dona de casa. Sempre demonstrou gosto pela leitura, e aos 21 anos ingressou no curso de Letras Neolatinas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Ainda na juventude, fez doutorado em Letras pela Universidade do Brasil (hoje UFRJ), foi voluntária da Cruz Vermelha do Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial. Aos 37 anos publicou o seu primeiro livro e, cinco anos depois, escreveu a primeira tese de livre-docência do Brasil sobre o poeta português Fernando Pessoa.

Cleonice foi eleita acadêmica correspondente pela Academia de Ciências de Lisboa em 1975. Foto: Acervo

Referência em literatura, a “Genuína Fazendeira”, como Cleonice foi nomeada em uma dedicatória do amigo, o poeta Carlos Drummond de Andrade, foi reconhecida para além das fronteiras do Brasil. Foi professora convidada nas universidades de Lisboa e da Califórnia. Em 2014, ela lançou o documentário O Vento Lá Fora, em parceria com a cantora Maria Bethânia, que foi exibido no Festival do Rio 2014.  Além de maior lusitanista do país, Dona Cléo recebeu prêmios do governo de Portugal e foi homenageada pelo Instituto Camões.

Dona Cleo e Maria Bethânia, que iniciaram a amizade após um show da cantora. Foto: Acervo

Durante a carreira como professora, Cleonice formou gerações de professores e pesquisadores que a chamavam de “Divina Cleo”. Seis de seus ex-alunos alcançaram um lugar na ABL, a exemplo do jornalista Zuenir Ventura. O Decano do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), professor Júlio Cesar Diniz, também foi aluno e colega da escritora e afirma que trabalhar com ela foi uma das melhores experiências de sua vida. Para Diniz, a professora Cleonice representa uma enorme importância para as universidades brasileiras, pois ela foi fundamental para os estudos avançados da literatura portuguesa.

— Cleonice deixou uma marca por onde passou. Dona Cléo era uma figura emblemática para todos aqueles que acreditam na educação, na cultura, na literatura, no respeito pelo outro, na generosidade e na grandeza humana. Ela, com certeza, fará muita falta, mas o seu enorme legado vai continuar por gerações.

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