Mergulhar com o outro no conhecimento
28/03/2023 16:27
Luzi Alves

Com mais de quatro décadas voltadas à Educação, Professora Emérita Sonia Kramer também se dedica à revalorização da cultura Yiddish

Professora Sonia Kramer nos pilotis da PUC-Rio. Foto: JP Araújo

Aos 14 anos de idade já nascia uma certeza no coração da menina carioca: ensinar é apaixonante. Doutora em educação, a professora Sonia Kramer fez do fascínio que surgiu na adolescência o seu maior legado e, em mais de quatro décadas de carreira, contribuiu efetivamente para o aprendizado de crianças e formação de novos professores. Hoje Professora Emérita do Departamento de Educação da PUC-Rio, a pedagoga coordena na Universidade o Curso de Especialização em Educação Infantil e o Grupo de Pesquisa sobre Infância, Formação e Cultura (INFOC). Também é autora de diversos livros sobre educação, dentre eles Ética: pesquisa e práticas com crianças na Educação Infantil, Educação Infantil: Enfoques Em Diálogo, ambos indicados ao Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, e Alfabetização, leitura e escrita: formação de professores em curso, escolhido pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) para integrar todas as bibliotecas escolares do país.

Em conexão com a história de sua família, a educadora criou na PUC-Rio ao Curso Trajetórias Judaicas, realizado em parceria com o Museu de Arte do Rio, e foi pioneira na introdução de estudos sobre Yiddish — língua que é fusão do alemão, do hebraico e das línguas eslavas — por meio do Núcleo Viver com Yiddish: pesquisas, cursos e projetos culturais, que integra o Instituto de Estudos Avançados em Humanidades (IEAHu), e do Projeto de pesquisa Mulheres que escreviam em Yiddish: memória, resistência e superação. Como resultado da sua dedicação à manutenção da memória, cultura, arte, literatura e linguagem que era falada por seus familiares, em 2022, Sonia lançou o livro Ensinar e Aprender Yiddish hoje? em parceria com as professoras Marcia Antabi, do Departamento de Comunicação, e Inés Miller, do Departamento de Letras.

De forma sucinta, a professora Sonia Kramer dedicou a vida a ensinar. Em uma trajetória traçada entre creches, pré-escolas, escolas e universidades, ela alcançou níveis memoráveis no campo da educação: seis títulos Cientista do Nosso Estado FAPERJ; Menção Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil; Sócio Honorário da Associação de Leitura do Brasil da Associação de Leitura do Brasil; indicada entre dez finalistas Educação do Prêmio Jabuti em 2014; e pela PUC-Rio recebeu Medalha Alceu Amoroso Lima pela Ética e pela Cultura, e o título Pesquisador de Destaque, em 2019. A pedagoga também faz parte do corpo editorial dos periódicos Revista Brasileira de Pesquisa, Revista Brasileira de Educação, Cadernos de Língua e Literatura Hebraica, Educação & Sociedade e Leitura: Teoria & Prática. Ao todo, o seu exímio currículo comprova o que ela mesma já havia afirmado, em 2017, quando foi elevada a qualidade de professora Titular pela PUC-Rio: “ser professora é se inquietar”.

Professora Sonia Kramer em lançamento do livro Ensinar e Aprender Yiddish hoje?, 2022. Foto: Reprodução TV PUC-Rio

O que motivou a senhora a ser professora, em especial na área da Educação?
Ser professora — na minha história — tem a ver com gostar de aprender, e não só gostar de ensinar. Significa caminhar, voar, mergulhar com o outro no conhecimento e na cultura. A primeira experiência foi aos 14 anos, quando o diretor da escola onde eu era aluna – o Colégio Israelita Brasileiro Scholem Aleichem - me convidou para dar aulas de todas as matérias para uma menina de 10 anos, que tinha perdido o primeiro semestre letivo porque contraiu hepatite. Lembro que gastava horas preparando as aulas e vibrava com cada pequena conquista. A menina passou de ano, e eu me dei conta de quanto era apaixonante estudar com outra pessoa. Profissionalmente, comecei a trabalhar com crianças aos 17 anos quando entrei na universidade. Recém-formada, em 1975, fui coordenadora e, em seguida, diretora de uma Escola de Educação Infantil e primeiros anos do Ensino Fundamental. Além do trabalho direto com as crianças, desde o início da minha vida profissional, me envolvi na formação de professores na rede particular, na rede pública e em creches, pré-escolas e escolas comunitárias.

Quais foram as suas maiores realizações na área do magistério?
Tudo o que fiz – e continuo – no magistério com crianças, jovens ou adultos, tem a ver com buscar um caminho, uma forma de ensinar, um vínculo. Por exemplo, quando, em 1971, comecei a trabalhar com crianças pequenas, o acesso a creches e pré-escolas era mínimo. Somente mais tarde, com a Constituição de 1988, o Brasil iria reconhecer o direito de todas as crianças até 6 anos de idade à Educação Infantil em creches, pré-escolas e escolas. E talvez essa tenha sido a maior realização como professora: meu engajamento na luta pelos direitos da criança, entendida como sujeito de cultura, cidadão de pouca idade, ator social, pessoa. O estudo teórico e a prática simultaneamente em contextos de classe média alta e em situações de extrema pobreza mobilizaram minha ação política a favor e a serviço das populações infantis. Isso já acontecia antes, mas, sem dúvida, se ampliou e se aprofundou depois que entrei na PUC-Rio, em 1979.

Professora Sonia Kramer e professor Luiz Bazilio no lançamento do livro Infância, educação e direitos humanos, 2003. Foto: Fernanda Rocha

Como a senhora define a sua trajetória na PUC-Rio?
Para quem cursou as Faculdades de Psicologia e de Educação nos anos da ditadura militar, entrar na PUC-Rio naquele momento significava participar do contexto de luta pela democratização da sociedade brasileira. Como já disse, entrei na Universidade em 1979, no calor dos movimentos sociais em defesa da democratização do acesso e da qualidade da educação. E esta foi e continua sendo uma trajetória intensa com muito trabalho e possibilidade de criar. Vim para fazer o Mestrado com a professora Zaia Brandão, que assisti em uma mesa redonda na Casa do Estudante Universitário, e aqui fiquei. No segundo semestre fui contratada como professora. Ao lado do ensino, logo mergulhei na pesquisa e na extensão. A universidade só tem sentido para mim se for, ao mesmo tempo, lugar de ensinar, de estudar, pesquisar e de fazer. A experiência anterior com crianças no ensino regular, a formação de professores de redes públicas e a atuação em projetos sociais comunitários encontraram espaço na PUC-Rio. Ver, julgar e agir eram o mote daquele momento. E, até hoje, compreendo o valor e o papel da universidade: observar, estudar e intervir, na perspectiva de garantia de direitos e da liberdade. É o que me impulsiona. Não por acaso, assim que entrei – naqueles anos de Mestrado – me inseri no Projeto Acari. Anos depois, em 1994, criamos no Departamento de Educação o Curso de Especialização em Educação Infantil: perspectivas de trabalho em creches e pré-escolas, que continua presente na formação de professores, gestores e profissionais dos mais diversos campos do conhecimento e áreas do trabalho com crianças. A partir dele fizemos inúmeros convênios com redes públicas do país, em especial na cidade do Rio de Janeiro e em municípios da Baixada Fluminense, em parcerias com institutos que apoiam projetos para creches, pré-escolas e escolas comunitárias nas periferias urbanas.
Quais foram os maiores ensinamentos nos anos de trabalho e vivência no campus Gávea?
O trabalho na Graduação me trouxe importantes ensinamentos. De um lado, foi uma oportunidade de ser professora em disciplinas diversas – Metodologia de Ensino de 1º grau, Metodologia de Ensino de Língua Portuguesa, Sociologia da Educação, Literatura Infantil, Pedagogia Freinet -, além de outras voltadas para a infância e a Educação Infantil. Isso gerou a necessidade de estudar muito e fomentou em mim uma visão teórica multifacetada de Educação e a busca de alternativas práticas para a ação educativa. O clima intelectual do Departamento de Educação e a convivência com professores e pesquisadores e alunos de outros departamentos ampliou essa visão. Na Pós-Graduação, a ênfase na pesquisa do Departamento de Educação contribuiu - desde o meu ingresso na Universidade até hoje - ao privilégio de estudar. O estudo se coloca para mim como resposta responsável, nas palavras de Martin Buber. Ou seja, entendo que devo assumir a responsabilidade que tenho como professora e pesquisadora, o compromisso de responder às urgências que a sociedade brasileira sofre e enfrenta. Responder com teoria e com práticas consequentes. Aqui, quero mencionar o quanto nós do Departamento de Educação e da Universidade aprendemos com o professor Leandro Konder (1936-2014), meu querido orientador de Doutorado. Mas a pós contribuiu também academicamente para campos do conhecimento que há décadas começavam a se constituir no Brasil. A presença de disciplinas e pesquisas desenvolvidas por colegas com aporte teórico da Antropologia, Filosofia, História, Política, Psicologia, Estudos Culturais e Estudos da Linguagem ajudaram a construir os campos da Educação Infantil e da Sociologia da Infância. As dissertações e teses apresentadas foram e, ainda são, favorecidas por essa inserção.  Outro aspecto central se refere à possibilidade de ações fora da Universidade. Foram uma experiência ímpar convênios com secretarias de educação e ministérios para a formação de professores, gestores e para a concepção e implementação de políticas, tanto na Gávea quanto em Duque de Caxias, no Instituto São Bento. Tudo o que fazia, eu trazia para dentro da Universidade, e me colocava – como me coloco até hoje - como alguém que deveria responder à pergunta: o que faço com o meu conhecimento? Com a minha visão de mundo? O próprio campus e as atividades promovidas no âmbito acadêmico, cultural e político da PUC-Rio aprofundaram interações e aprendizados.

Qual foi a emoção ao receber o título de Professora Emérita em outubro do ano passado?
Receber o título de Professora Emérita foi uma emoção carregada de alegria e plenitude, daquilo que Martin Buber chama de inteireza. Tantos anos na PUC-Rio, tantas alunas e alunos, projetos, cursos, estudos, amizades raras e, agora, a possibilidade de mudar de lugar e de continuar. É um privilégio.  A PUC-Rio, como um todo, é uma Universidade que sempre me respeitou, apoiou e ofereceu as condições necessárias para que eu pudesse realizar os projetos de ensino, pesquisa e extensão. Universidade que se tornou meu universo acadêmico, cultural e pessoal. Agradeço aos colegas do Departamento de Educação, bem como de outros departamentos, aos funcionários desses cursos e da Coordenação Central de Educação Continuada (CCE); às alunas e alunos de graduação, especialização, mestrado, doutorado e extensão; aos parceiros institucionais e, sobretudo, às instâncias superiores da Universidade.

Café da manhã com o Reitor Padre Anderson Antonio Pedroso S.J., professoras titulares Maria Inês Marcondes e Maria Letícia Sicuro, e Professora Emérita Sonia Kramer, em 2022. Foto: JP Araújo

As crianças foram muito afetadas por causa da pandemia da Covid-19. Que consequências podem ser observadas e como recuperar nos próximos anos os problemas causados pelo isolamento social?
A pandemia de Covid-19 afetou crianças, jovens e adultos no mundo inteiro. No Brasil, as consequências mais nefastas são o agravamento da desigualdade social, em especial no que se refere à educação e saúde. Tivemos perdas irreparáveis de vidas, sem alternativa aos mais pobres e, como sabemos, as crianças são as mais vulneráveis dos grupos vulneráveis. As consequências do ponto de vista educacional atingem frontalmente os requisitos da democratização da educação: acesso e qualidade. Com a pandemia, vivemos uma acentuada evasão escolar, pois o acesso foi afetado em todos os níveis da escolaridade, e ao mesmo tempo, à deterioração da qualidade. As condições que já eram precárias em muitas redes municipais e estaduais de educação tornaram-se ainda mais frágeis. Faltaram alternativas efetivas de políticas públicas que levassem equipamentos e serviços a fim de garantir aulas e outros serviços educacionais. Produziu-se um atraso no ensino e impactos no currículo difíceis de serem recuperados a curto prazo, sem falar nos problemas relativos à socialização e à saúde mental, com aumento expressivo de casos de depressão entre crianças e jovens. Não me parece, porém, que os problemas foram causados pelo isolamento social. Entendo que o isolamento social e a ausência de alternativas das políticas públicas de Educação e Saúde para lidar com o isolamento – necessário para preservar vidas – é que acentuaram, agravaram, aprofundaram os problemas já agudos, fruto da desigualdade. O enfrentamento desses problemas, a recuperação, a superação, de maneira a garantir acesso e qualidade dependem de condições estruturais. Ao mesmo tempo, e na direção contrária, cabe registrar as inúmeras iniciativas comunitárias, de cidadãos e cidadãs comuns e de profissionais de diversas áreas, as redes de afetos e suportes que se formaram e se mobilizaram no sentido de apoiar, reunir, buscar formas de resistir e de impedir consequências ainda mais nefastas para toda a população, neste caso, as crianças.

Durante muitos anos, a senhora se dedicou ao estudo da educação infantil e do ensino fundamental. Que políticas públicas devem ser adotadas no país para melhorar, de fato, a educação infantil?
Eu acredito que para a educação infantil ser melhorada no país devem ser aplicadas políticas públicas que garantam acesso e qualidade ao trabalho pedagógico. É necessário haver formação de professores e gestores associada a salários e boas condições de trabalho, além de equipamentos públicos de educação, saúde, assistência e cultura que ofereçam condições dignas às crianças e adultos. Além da implementação das políticas em instituições públicas com espaços para brincar, interagir, criar, conviver, aprender, se inserir na cultura escrita e na arte na perspectiva da formação humana. Simultaneamente, precisamos de políticas voltadas à gratuidade de transporte público, e espaços públicos adequados para crianças pequenas. Acesso a equipamentos sociais de natureza cultural, tais como bibliotecas públicas com acervos de literatura infantil, brinquedotecas, entre outros locais onde as crianças possam interagir. Mas, vale dizer, que tais políticas públicas de democratização dos bens materiais e culturais precisam ocorrer em um contexto de combate à desigualdade social, econômica e cultural, ou seja, requer justiça social na luta contra a pobreza, a marginalização, a violência contra crianças, e à barbárie que vivemos em nossas cidades e no campo.

Importa também falar da vontade política, da ética e do compromisso dos responsáveis pela educação na condução dos trabalhos. A corrupção, o desvio de recursos, a impunidade, o descaso e a negligência são obstáculos para a consecução das políticas. A desigualdade social e a violência a que são submetidas nossas populações infantis também. Ao lado das políticas públicas, precisamos de uma ambiência nas esferas do conhecimento, da arte e do agir ético que favoreça enfrentar estereótipos, preconceitos, discriminação, humilhação e exclusão, impostos a crianças e adultos cada vez mais empobrecidos. Quanto aos educadores, é fundamental repensar as condições de formação e carreira que asseguram requisitos materiais dignos, ao mesmo tempo que seja garantido o acesso ao conhecimento científico, cultural e artístico em todas as suas formas de expressão, consumo e produção. A clássica pergunta “quem educa os educadores?” se torna ainda mais complexa, pois falamos de um projeto de educação e de sociedade. Responder a esta pergunta significa responder ao que queremos para o país e para a sociedade brasileira, e tem a ver com o enfrentamento da desigualdade que marca nossa história.

Nos últimos anos, a senhora vem se dedicando aos estudos do Yiddish, uma língua que tem um significado especial para a cultura judaica. Sob a sua coordenação, são oferecidos na PUC-Rio cursos. Foram organizados encontros na Universidade com apresentações de música, literatura, teatro e cinema. Qual é a relevância da inserção do Núcleo Viver com Yiddish no Instituto de Estudos Avançados em Humanidades (IEAHu) da PUC-Rio? E qual a importância de criar no Brasil pesquisas sobre o Yiddish?
Nasci e cresci em uma família que falava Yiddish, língua dos Ashkenazim, judeus do Leste europeu. Minha mãe chegou ao Brasil em 1933 e meu pai, em 1947, sobrevivente de Auschwitz. Com os dois, aprendi a alegria de viver e cantar em muitas línguas, também em Yiddish. E a conhecer essa língua de fusão do alemão, do hebraico e das línguas eslavas. Uma pluralidade de pluralidades. O Yiddish nunca teve território, nacionalidade, pátria. A destruição provocada pelo Holocausto atingiu frontalmente a língua e a cultura Yiddish, o Yiddishkeyt. Vejamos: na década de 1930 havia no mundo cerca de 15 milhões de judeus, sendo nove milhões na Europa. A maioria falava Yiddish. Seis milhões foram assassinados. Por outro lado, também o totalitarismo stalinista assassinou escritores e poetas que escreviam em vários idiomas, inclusive em Yiddish. A língua se espalhou pelo mundo, levada por imigrantes que fugiram ou sobreviveram, mas deixou de ser falada comunitariamente e quase foi extinta. Nos anos 1970, houve um revival da música Yiddish, com inúmeras bandas e músicos que tocavam e cantavam o klezmer, em especial na Alemanha e nos Estados Unidos, o que fez com que se espalhasse pelo mundo. Ao final dos anos 1990, a internet favoreceu uma progressiva movimentação que culmina hoje com tesouros descobertos e tornados públicos. Livros, cursos, filmes, festivais de música, jornais on-line, peças teatrais, materiais de ensino, jogos, concursos de música e vídeos, apoio a estudantes, encontros de falantes: a língua e a cultura Yiddish voltaram à cena. Grupos musicais, atores, professores, sociólogos, linguistas, escritores, professores dedicam-se ao ensino, tradução e pesquisa de música, literatura, sabedoria. Livros de literatura infantil e juvenil são escritos e traduzidos para o Yiddish. Universidades e instituições específicas atuam para preservar a memória, ensinar a língua e promover a criação literária, musical e teatral. Depois de quase extinta no século XX, a língua permanece, resiste, vive. Vive nas lembranças e afetos que temos dos nossos pais e avós, vive em projetos de ensino, na pesquisa e na produção cultural para crianças, jovens e adultos. Aos poucos, observa-se a revalorização da língua Yiddish por jovens em instituições que viabilizam acesso digital gratuito a milhares de livros em Yiddish, oferecem cursos presenciais e on-line, shows e conferências. A retomada da língua Yiddish, chamada por alguns de renascimento, constitui um academic Yiddish, em que a língua e a cultura são fontes de pesquisa, de ensino, de atuação, de criação. Acervos de partituras, livros literários e das mais diversas áreas do conhecimento são estudados em cursos, encontros, seminários, festivais, publicações sem, contudo, a ilusão de que vamos voltar a falar Yiddish pelas ruas ou em comunidades. Muito foi perdido pela barbárie que tentou aniquilar essa cultura, como tentou e conseguiu aniquilar outras.

Professora Sonia Kramer com integrantes do Grupo Viver com Yiddish. Foto: Reprodução do site Viver com Yiddish

Como começou?
O Viver com Yiddish começou em 2016, na PUC-Rio, com estudantes de graduação, mestrado, doutorado, músicos, bailarinos e professores. Nossos objetivos era atuar na valorização, conhecimento e ensino da língua e cultura Yiddish, de crianças, jovens e adultos, além de favorecer o acesso à língua e abrir espaços para que judeus e não judeus se apropriem dela e se encontrem com a riqueza da produção cultural.  Inés Miller Departamento de Letras, Marcia Antabi do Departamento de Comunicação e eu, de Educação, coordenamos o Viver com Yiddish, que foi institucionalizado como Núcleo em 2020. O Núcleo atua em cinco projetos: formação de jovens professores, grupo musical Viver com Yiddish, oficinas de música e literatura para crianças, e projetos de pesquisa e cursos de Yiddish oferecidos no Instituto de pesquisa e ensino de línguas (IPEL), o que muito nos honra. Juntas organizamos os eventos em 2018 e 2019, encontros na Universidade com apresentações de música, literatura, teatro e cinema, com o apoio do IEAHu. Atualmente, também desenvolvemos a pesquisa “Mulheres que escreviam em Yiddish: memória, resistência e superação”, que atua na tradução de contos que revelam, nos textos, contextos e problemas vividos. Como filha de um sobrevivente de Auschwitz, sei dimensionar o que significa ter o apoio de uma Pontifícia Universidade Católica como é a PUC-Rio. Por meio dela, pude desenvolver projetos na direção de resistir e impedir que seja silenciada a língua Yiddish, num movimento que guarda estreita sintonia com povos, religiões e culturas que em muitas gerações sofreram e sofrem o arbítrio, a perseguição e a falta de liberdade. Que se possa ouvir as vozes faladas e escritas em Yiddish na sua imensa e belíssima produção literária, musical, teatral, pictórica do Yiddish; que se possa ouvir todas as línguas que se tentou e se tenta calar.

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