Em comemoração ao Dia da Consciência Negra, o Grupo de Pesquisa em Ações Afirmativas e Reconhecimento (GPAAR) promoveu o encontro “Racismo e Ontologia do Ser Social” no dia 22 de novembro, na sala 105-K. A professora Aline Batista de Paula, da Escola de Serviço Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), ministrou a palestra que analisou como as definições genéricas sobre o indivíduo desumanizam as pessoas pretas.
O seminário foi mediado pela professora Andréia Clapp, do Departamento de Serviço Social, e pela pesquisadora do GPAAR Ivana Moura. Elas afirmaram a necessidade de reconhecer as desigualdades existentes e buscar estabelecer equidade de oportunidades. Andréia ressaltou os obstáculos que fazem com que as pessoas não cheguem ao ensino superior ou que não consigam se manter nele. Para ela é um ato de resistência um aluno continuar na universidade tendo ao mesmo tempo que trabalhar e pesquisar.
No Seminário, a coordenadora adjunta do Programa de Estudos e Debates dos Povos Africanos e Afro-americanos da UERJ, Aline Batista, propôs refletir sobre o valor do negro na sociedade brasileira. Construído a partir da ideia de “ser social”, que define o que é o ser humano, a forma se mantém eurocêntrica e limitadora. Segundo a professora, a criação dessa imagem furtou a humanidade das pessoas negras e deu justificativa teórica para a exploração.
— O ser social não existe por si só, não é algo natural, ele é criado nas relações sociais e pela teoria. A sociedade cria o que é a essência do ser humano e a ideia do que é um ser humano dá origem também ao que não é. Essa formação é baseada no individuo universal que seria o branco, hétero e europeu.
Ao analisar a produção de conhecimento e perceber que os ideais tradicionais excluem a intelectualidade de pessoas pretas, a pesquisadora mostrou como ultrapassar os impasses que afastam a negritude da formação do saber. Na construção da tese, Aline encontrou contradições nas próprias atitudes, pois na tentativa de provar o distanciamento forçado que o povo preto sofreu da construção de saber, ela por vezes recorreu a autores brancos.
— É minha preocupação trazer para as pesquisas as pessoas negras, especialmente as mulheres. Mas eu entendo também a contradição que existe nisso, porque, desde o Ensino Infantil, somos referenciados por autores brancos da economia central, como a norte-americana. A Angela Davis perguntava por que nós brasileiros éramos tão interessados nela se temos Lélia González. Foi duro perceber que também me referencio na lógica eurocêntrica, é importante valorizar os nossos.
A palestra foi baseada na tese produzida pela professora que investigou trabalhos acadêmicos realizados em torno da lei 10639/03, código que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e estabeleceu o 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra. Segundo Aline, infelizmente, parte das escolas alega cumprir a determinação quando na verdade explora de forma rasa, apenas para cumprir a obrigação sem interesse em promover uma formação antirracista.
— Discutir a escravidão e comemorar o Dia da Consciência não é o bastante, muitos afirmam cumprir a lei quando na verdade se limitam a isso. A produção de pensamentos antirracistas deve ser constante pois o modelo de opressão se transforma e se adapta às mudanças sociais.
No encontro, Aline Batista afirmou que considera impossível fazer pesquisa acadêmica sem considerar as relações raciais. De acordo com ela, pensar educação é refletir sobre raça, assim como pensar em trabalho é essencialmente considerar a questão racial. Quando o maior número de evasão escolar é de crianças pretas fica evidente que o ensino tem a cor da pele como fator determinante.
— As crianças pretas não se reconhecem no ensino. O trato e a delicadeza que a sociedade dedica ao infantil não são atribuídos a elas. É uma população subalternizada, há a crença de que essas crianças não são tão frágeis quanto as outras. Isso é evidente quando se compara a comoção que o sofrimento delas causa em comparação ao de pessoas brancas.