Muito se fala a respeito do álcool no organismo após a ingestão de bebidas como cerveja, vinho, uísque, entre outras. Você tem idéia do que acontece com o seu corpo quando você bebe?
O álcool é metabolizado no estômago, gerando o acetaldeído, altamente tóxico. Quando a quantidade de álcool ingerida é maior do que a capacidade de metabolização a acetaldeído, ocorre um acúmulo do álcool no organismo, levando à embriaguez. As mulheres, em especial, possuem menor concentração da enzima que processa o metabolismo do etanol no estômago e, com isso, ao ingerirem quantidade de álcool igual à ingerida por um homem de mesmo peso, terão um conteúdo de etanol no sangue ainda maior, ficando "altas" mais rápidas do que eles. A entrada do álcool na corrente sanguínea pode ser retardada se a bebida acompanha uma refeição, já que a absorção do excesso de álcool não metabolizado é mais eficiente no intestino.
Vale lembrar ainda que, além do etanol, bebidas alcoólicas, podem conter toxinas, dependendo da purificação após fermentação e do uso de aditivos. As cervejas amargas, que contêm lúpulo, são ricas em fitoestrogênio. A ingestão de estrogênio pode interferir na incidência de câncer testicular e contribuir para a infertilidade masculina. Vinhos podem conter resíduos de pesticidas, metilglicol (composto que aumenta o sabor adocicado, usado em vinhos brancos por alguns produtores) e desinfetantes.
Em princípio, qualquer substância química é tóxica e esta ação depende da quantidade ingerida (relativa à massa do corpo) e da freqüência de ingestão, entre outras coisas. O efeito do consumo de quatro latas de cerveja em uma hora é diferente do consumo de quatro latas de cerveja em quatro dias. Sabe-se que 50% dos consumidores apresentam dificuldade de andar após o consumo de 4,5 copos de vinho e que o etanol é em média metabolizado a uma taxa de cerca de 13mL por hora. Esta lenta metabolização se deve ao fato do corpo eliminar o acetaldeído tóxico antes de poder metabolizar mais etanol. A taxa lenta implica que depois de ingerir 200mL de vinho com 14% de álcool, serão necessárias duas horas para que a metabolização se complete.
Baixas doses de etanol no cérebro desinibem e aparentemente melhoram a performance social. No entanto, estas doses já são suficientes para afetar a memória. No caso de ingestão de grandes quantidades de bebida alcoólica há os que sequer recordam do que fizeram na noite anterior, mas ainda assim se dispõem a dirigir um carro. Em altas doses, o etanol restringe as funções cerebrais e afeta o comportamento, a coordenação e a capacidade de julgamento. Por isso, não subestime os efeitos do álcool: se beber, não dirija!
Angela Wagener
Professora do Departamento de Química do Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio)
Edição 234