Duas décadas de desenhos e lazer
01/11/2013 10:20
Luísa Lacombe/Ilustração: Diogo Maduell

Conteúdo e arte gráfica foram responsáveis pelo sucesso da Vertigo, linha da DC Comics


Há 20 anos, chegava às bancas a série em quadrinhos Morte-O Preço da Vida. Escrita pelo inglês Neil Gaiman, ela foi a primeira a ser publicada pelo selo Vertigo, linha de quadrinhos adultos da DC Comics, nascida do sucesso das histórias criadas por jovens escritores trazidos do Reino Unido pela então editora Karen Berger.

Para o professor do Departamento de Comunicação Social Affonso Fernandes, o destaque do selo estava tanto no conteúdo quanto no visual, que tinham como marca registrada as capas do desenhista Dave McKean, influente até hoje.

– Os temas abordados, ousados e inéditos, eram trabalhados de forma mais inteligente. Além disso, havia um cuidado no roteiro e na magnífica arte gráfica – afirma.

Entre os leitores mais antigos do selo, está o quadrinista Fábio Moon, cuja relação com a Vertigo vai além da admiração. Em 2011, ele e o irmão Gabriel Bá ganharam o prêmio Eisner (Oscar dos Quadrinhos) com sua série Daytripper, publicada nos EUA pela linha. No mesmo ano, o gaúcho Rafael Albuquerque também levou um Eisner pela série American Vampire, (ainda em publicação pelo selo), feita em parceria de Scott Snyder e do escritor Stephen King.

Para Moon, o selo não surgiu nada, mas veio da percepção da DC Comics de que as histórias estavam ficando adultas demais para serem publicadas junto aos super-heróis.

– Foi o começo dos quadrinhos autorais na DC, e isso deu aos autores uma chance de realizar trabalhos mais pessoais, mais ousados, com maior liberdade do que tinham antes, pois não estavam mais presos à lógica dos quadrinhos de super-heróis. Outras editoras também tinham autores e obras trilhando o mesmo caminho, mas a Vertigo tinha a DC por trás, o que ajudava na visibilidade dos projetos– disse.

Embora tenha ressaltado que não cresceu lendo todos os títulos, e que alguns dos que leu ainda não faziam parte do selo, Moon citou entre seus favoritos o Monstro do Pântano de Moore, o gibi We3, feito por Grant Morrison e Frank Quitely e o Sandman de Gaiman.

– Neil Gaiman é um dos meus escritores favoritos. Quando li Sandman pela primeira vez foi um momento muito importante para que eu refletisse como trabalhar temas mais profundos unindo o elemento mais Pop dos Quadrinhos - disse.

Além das obras já citadas, outros destaques da linha são Preacher, de Garth Ennis (que segurou as vendas após o fim de Sandman) e mais recentemente 100 balas, de Brian Azzarello e Eduardo Risso, e Y: O Último homem, de Brian K. Vaughan e Pia Guerra, indo além dos gêneros mais explorados pelo selo, o terror e a fantasia. Nos últimos dias também foi anunciado o lançamento de cinco novas séries, entre elas, o esperado retorno de Gaiman ao universo de Sandman com The Sandman: Overture, com previsão de lançamento para o fim do ano nos EUA.

Mas nem tudo é alegria. A saída de Karen Berger no fim do ano passado e o cancelamento da revista mensal brasileira podem ser sinais preocupantes. Embora considere a saída de Berger relevante, o também quadrinista João Montanaro não acha que o fim da revista cause preocupação.

– DC Comics anda virando muito careta com os quadrinhos. Querem colocar O Monstro do Pântano com super- heróis e por aí vai. O fim da revista mensal é uma coisa mais brasileira, pelo visto a Panini não curtiu as últimas vendas e agora quer acabar. Daqui a alguns anos volta de alguma maneira diferente– disse.

Para João Paulo Vianna, aluno de Cinema da PUC-Rio, a Vertigo ainda tem seu espaço, apesar do surgimento de novas editoras.

– Hoje a que mais se assemelha a Vertigo é a Image Comics, que tem várias HQs autorais. A Dark Horse tem seus trabalhos, mas não são tantos assim. Mas não acho que a Vertigo tenha perdido o sentido. Não sei se ainda é necessária, mas um bem ela com certeza ainda é –disse.

Para Moon, a Vertigo ainda é necessária e ainda consegue ir além da Internet.

– A censura atrapalhou muito pouco, acho até que nosso mundo politicamente-correto capitalista atrapalha mais. A internet ajuda na divulgação de trabalhos, mas ainda não é um meio sustentável de produção de quadrinhos. A Vertigo ainda é uma das maiores editoras de Quadrinhos dos Estados Unidos, e os autores trabalhando para o selo podem viver do seu trabalho com segurança financeira e sabendo que a editora tem já uma visibilidade garantida pela sua história, e que seus trabalhos serão vistos e lidos– afirma.

Edição 275

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