Luta apaixonada pela Sétima Arte
21/05/2014 17:47
Thatiane Narciso / Foto: Gabriela Doria

Documentário conta a atuação do diretor da Cinemateca do MAM na década de 60

O diretor do longa-metragem, Aurélio Michiles, entrevistou 67 pessoas para traçar um perfil de Cosme

Trabalhar de forma discreta fez com que poucas pessoas saibam da importância de Cosme Alves Netto para a cultura brasileira. Mas, agora, a sua história está  registrada no que ele mais amou: a Sétima Arte. O documentário Tudo por amor ao cinema, de Aurélio Michiles, conta passagens da vida do curador da Cinemateca do MAM, que morreu em 2 de fevereiro de 1996, mesmo dia e ano em que o dançarino e diretor Gene Kelly, ídolo de Cosme, morreu.
Ex-aluno do curso de Comunicação Social, Cosme foi um dos responsáveis pela recuperação e conservação de filmes nacionais e internacionais no Brasil. Ele assumiu a Cinemateca do MAM em agosto 1964 e começou a desenvolver uma transformação cultural na instituição. Durante a sua gestão no MAM, Cosme implantou ações de preservação, um lado então não muito conhecido pelos brasileiros, e se tornou um embaixador da conservação de filmes dentro do país.
Para a produção do longa-metragem, Michiles entrevistou 67 pessoas, e as gravações ocorreram no Rio, São Paulo, Salvador, Manaus, Brasília, Mossoró, Lisboa e Havana.  Os depoimentos foram intercalados com cenas de 70 filmes. O cineasta Luiz Rosemberg Filho lembra que Cosme era a favor da liberdade de expressão.
– A função dele dentro do cinema brasileiro foi ser um espaço de resistência dentro do regime militar, porque se vivia uma proibição generalizada. E dentro da Cinemateca, onde ele atuava, ele não admitia censura – afirma Rosemberg.
Durante a ditadura, a Cinemateca se tornou um local de resistência política. Filmes como Encouraçado Potemkin, de Serguei Eisenstein, que não podiam ser exibidos naquele período, foram guardados na Cinemateca por Cosme com outros nomes e exibidos em sessões clandestinas em cineclubes e universidades. Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, que teve as primeiras sequências gravadas em 1960, só foi finalizado porque foi escondido no MAM com o título Rosa do Campo.
Michiles conta que Cosme foi preso duas vezes durante a ditadura militar. A primeira foi após o Golpe de 64, quando exibiu o Encouraçado Potemkin na rebelião dos sargentos e marinheiros.
– Ele foi preso com a lata do Encouraçado, só que teve o cuidado de substituir o filme por outro. Quando os militares o prenderam, atearam fogo no filme na frente do Cosme, achando que estavam destruindo o Encouraçado Potemkin.
Cosme nasceu em Manaus, em 1937, e estudou no Rio de Janeiro no final dos anos 1950. Ele se formou em filosofia na UFRJ e em Comunicação Social na PUC-Rio. Entre 1959 e 1962 ele foi diretor de um dos mais importantes cineclubes do período, o Grupo de Estudos Cinematográficos da União Metropolitana de Estudantes. Em depoimento recuperado pelo diretor do filme, Cosme afirmava que era radicalmente contra filme preservado e guardado na estante. Para ele, as obras tinham que circular e ser exibidas.

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