Ao entrar, a pessoa se depara com poesias de Bracher, escritas com a própria grafia dele e, após alguns passos, tem a sua silhueta refletida na parede. Conduzida por uma das músicas que inspiram o pintor, o espectador é transportado para o processo criativo e os movimentos de suas mãos passam a reproduzir as pinceladas do artista. O resultado fica exposto por alguns segundos, o tempo de ser clicado e compartilhado nas redes sociais, mais especificamente no Instagram.
Apesar desse comportamento padrão, não há instruções no local que orientem o visitante a publicar a sua “pintura”. Luiz Ludwig brinca e diz que, se existe manual, é chato. Segundo ele, o objetivo era criar um ambiente livre para uma experiência intuitiva e completamente espontânea, mas que os registros na rede social foram pensados.
– Nós pensamos em como a pessoa vai entrar e como ela vai sair, em como ela vai se lembrar da exposição. Então, o Instagram é perfeito nesse sentido. Por exemplo, a pincelada poderia ser apagada automaticamente, mas ela fica alguns segundos que permitem a pessoa tirar uma foto ou até um selfie.
Para Barbara Castro, a identificação com o pintor também é um dos motivos pelos quais as fotos são compartilhadas na rede social. De acordo com ela, a experiência cria uma relação entre a pessoa e a própria pintura.
– Depois de criar uma obra, as pessoas têm muita vontade de compartilhar ela com o mundo. Elas postam e falam “é a minha arte com o Bracher”. Então, existe justamente esse processo espontâneo junto à identificação com o artista.
Para levar os traços de Bracher aos visitantes da mostra, a dupla recebeu a ajuda do próprio pintor, que desenhou, separadamente, em um vidro. A partir disso, Luiz e Barbara puderam visualizar e digitalizar a formação das pinceladas, entender o tamanho do pincel e até quantas cores ele usava. Desta forma, foram capazes de reproduzi-las na sala e manter o movimento e a gestualidade marcantes do autor.
De acordo com Ludwig, embora o artista de 74 anos não tenha uma ligação explícita com a tecnologia em seu processo criativo, ele foi muito receptivo à proposta da sala e teve participação ativa.
– Quando a gente foi falar com ele, ele respondeu “vamos fazer juntos”. Então, a gente não fez a sala para ele. A gente fez a sala com ele. – conta o professor.
Para Carlos Bracher, a criação da sala interativa é um feito que ele considera maravilhoso e retrata os avanços e a continuidade da vida e da arte.
– São os vetores do futuro incorporados aos resíduos do passado. Uma das coisas mais importantes da exposição é esse trabalho interativo, que também é revelador das pinceladas. Eles conseguiram dizer isso, pressentir e desenvolver esse cadinho de coisas.
Além da experiência imersiva e de interação, quem for à mostra - que fica em cartaz até o dia 1º de junho no Rio de Janeiro e depois estará em Brasília - vai poder conhecer parte da trajetória dos 57 anos de carreira do pintor, com obras de diferentes épocas. Mas vai também descobrir um pouco da intimidade do artista com a reprodução de dois ambientes: o ateliê de Ouro Preto e o Castelinho dos Bracher, em Juiz de Fora, casa da família onde o artista passou a infância e a juventude. Os espaços têm móveis originais e reúnem pinturas dos familiares do artista plástico.