Moraes Moreira relembra momentos marcantes em palestra na PUC-Rio
27/05/2015 18:26
Caio Sartori / Foto: Pedro Myguel Vieira

O músico esteve na Universidade para contar histórias da vida e dos Novos Baianos

Professor Júlio Diniz, Moraes Moreira e professor Miguel Jost em palestra na Universidade

O músico Moraes Moreira esteve na PUC-Rio para contar sua trajetória. Na palestra em forma de conversa, promovida no dia 26 de maio pelo Departamento de Letras e mediada pelos professores Júlio Diniz e Miguel Jost, Moreira passeou pelas memórias que começaram na infância, no interior da Bahia, passaram pela ascensão do grupo Novos Baianos e chegaram aos dias atuais. Com o jeito irreverente que lhe é característico, o baiano intercalou histórias, poemas e breves demonstrações no violão de clássicos como Brasil Pandeiro e Preta Pretinha, do disco Acabou Chorare, de 1972.

Nascido na pequena cidade de Ituaçu, a aproximadamente 500 quilômetros da capital Salvador, Moreira teve contato com a música desde cedo. Ainda no interior, aprendeu a tocar sanfona, instrumento de Luiz Gonzaga, e ouviu diferentes estilos musicais, como o bolero e a bossa-nova de João Gilberto. Na transição da adolescência para a fase adulta, se mudou para Salvador. Para a família, ele foi estudar medicina, mas na verdade estava aprendendo música. Lá, conheceu Tom Zé, que lhe ensinou a técnica do violão e o apresentou a Luiz Galvão, que se tornaria o principal compositor dos Novos Baianos.

A banda começou, ainda sem nome, na Bahia, mas logo os integrantes do grupo perceberam que não cabiam mais naquele lugar e vieram ao sudeste para tentar viver de música. Na época, a cena musical efervescia com os festivais na televisão e a disputa entre a MPB, essencialmente brasileira, e a Jovem Guarda, com a guitarra elétrica. De um lado, Nara Leão, Elis Regina, Geraldo Vandré, Chico Buarque e Gilberto Gil. De outro, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Mas, para os Novos Baianos, não havia conflito: o que interessava era misturar.

- Nós não tínhamos nada a ver com isso. A gente gostava de guitarra, sempre gostou de guitarra. A gente queria fazer o casamento do acústico com o elétrico. A gente misturou as linguagens: Jimi Hendrix com Waldir Azevedo, Janis Joplin com Elza Soares. Os Novos Baianos eram libertários demais. Na nossa música cabia tudo. A gente começava a tocar acústico, virava elétrico, era rock ‘n’ roll, samba, baião, tudo junto. Os Novos Baianos acabaram com aquela disputa. – esclareceu Moreira.

Moraes Moreira lendo um trecho de seu livro em palestra na Universidade

No Rio de Janeiro, o grupo dividiu um apartamento em Botafogo, que logo ficou pequeno para abrigar tantas pessoas e tamanha confusão. A “Família Novos Baianos”, então, se mudou para o famoso “Cantinho do Vovô”, sítio em Vargem Pequena no qual todos os integrantes da banda viveram juntos durante os anos de glória. No rancho, a vida era um ensaio constante, e logo saiu Acabou Chorare. A sonoridade do disco, única, misturava influências e apresentava uma temática bem brasileira. Moreira ressaltou que o exílio dos tropicalistas deixou um buraco e que se não tivessem aparecido “uns malucos para continuar com aquela bandeira”, a música brasileira teria parado e encaretado.

- A gente sabia que tinha feito um disco muito bom, com poesia, invenções musicais, recuperando a memória da música brasileira, trazendo autores como Assis Valente, Ataulfo Alves, mostrando para a juventude que cavaquinho é uma coisa legal, bandolim é uma coisa legal, que não é só guitarra. Tudo isso estava presente no Acabou Chorare na prática, quando você ouvia uma música como Brasil Pandeiro e ao mesmo tempo outras como Mistério do Planeta e um rock baião como Tinindo Trincando. Estava tudo ali.

Com o fim dos Novos Baianos, Moreira iniciou carreira solo e passou a explorar outra forma de arte: a literatura de cordel, estilo no qual a rima e o número de sílabas são meticulosamente planejados. Em 2007, lançou o livro A história dos Novos Baianos e outros versos, com 966 poemas. Em maio de 2015, o baiano foi homenageado com uma cadeira em seu nome na Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC). Nos últimos anos, o músico saiu em turnê com o filho, Davi Moraes, em comemoração aos 40 anos de Acabou Chorare, completados em 2012. Ele descartou uma volta dos Novos Baianos, mas assinalou a importância de passar para as novas gerações a obra do grupo.

- Não tem nenhum projeto de volta no sentido tradicional da palavra. A volta para mim é quando faço turnê do Acabou Chorare com o Davi. Não existe volta, existe manter essa chama dos Novos Baianos acesa. Eu mantenho isso com meus shows, minhas palestras, mostrando que esse legado ficou e é para ser usado pela juventude.

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