Traços do artista de alma musical
02/10/2015 17:58
Caio Sartori / Fotos: Pedro Myguel Vieira

Exposição relembra capas marcantes de Elifas Andreato

Processo criativo de Andreato é exposto nesta reprodução do ateliê do artista

Na era dos serviços de streaming, nos quais as capas de discos aparecem quase escondidas na tela do computador, o valor atribuído à arte gráfi ca que compõe um álbum é quase nulo. Mas houve um tempo em que as canções vinham acompanhadas de capa, contracapa e encarte, com aproximadamente 31 centímetros de aresta. E foi nesse período, o do vinil, que surgiu Elifas Andreato, um dos principais artistas da música brasileira, cuja obra pode ser revisitada na exposição Contornos da Música Carioca, em exibição no Centro de Referência da Música Carioca, na Tijuca, até dezembro.

Com quatro ambientes, instalações multimídia e reproduções do processo de criação do artista, a mostra adentra o universo do paranaense que fi cou marcado pela contribuição à música do Rio de Janeiro. Paulinho da Viola é um dos destaques da exposição. O disco Nervos de Aço, de 1973, apresenta as lágrimas vívidas de um homem pós-divórcio, que sintetizam as principais características das obras de Andreato: a compreensão da vida do músico e a interpretação das canções do álbum.

A Ópera do Malandro, de Chico Buarque, está presente em tamanho real na exposição

 O historiador Paulo César de Araújo, professor do Departamento de Comunicação Social, destaca o lado militante do ilustrador, que sempre buscou enfatizar o povo brasileiro em suas criações. Assim como a MPB, a arte do paranaense mostrava um Brasil mulato e mestiço. Ele lembra, ainda, da entrevista que fez com Paulinho da Viola em 1994, na qual o sambista relembrou a época da produção de Nervos de Aço.

– Ele estava vindo de uma separação. Foi um disco muito dolorido para ele e a capa acentuou isso. Ele (Paulinho) fala que fi cou até exagerada, que a dor fi cou muito mais marcante. Elifas carregou na tinta.

Nos iPads, alguns discos com arte assinada por Andreato podem ser ouvidos

Um ponto interessante é o esquema de visitação para crianças. Escolas públicas e particulares podem agendar passeios com grupos de alunos que tenham no mínimo 7 anos de idade. Elas são convidadas a desenhar capas de discos, e, depois que a criação fi ca pronta, são presenteadas com um vinil para, então, levar o kit como lembrança para casa.

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