Refletir a Década Internacional dos Afrodescendentes, proclamada pela ONU para os anos de 2015 a 2024, foi objetivo do Encrespando 2015. O encontro, que anteriormente era organizado apenas pelo Coletivo Meninas Black Power, contou com os esforços do Departamento de Direito da PUC para se tornar um seminário internacional. A ideia foi unir as atividades do Coletivo, como as oficinas de turbantes, mesas de discussão, workshops e afro-empreendedorismo com as atividades acadêmicas, como grupos de trabalho e conferências.
Na conferência de abertura, o Vice-Reitor, padre Franciso Ivern Simó, S.J., mencionou a responsabilidade social da Universidade de abordar assuntos sobre a questão racial. Ele lembrou da professora da PUC Lélia Gonzalez, considerada uma das precursoras do movimento de mulheres negras no Brasil e destacou também a importância de discutir as pautas da mulher negra na Universidade.
- A PUC é uma Universidade que se inspira no Cristianismo, na Doutrina Social. A primeira exigência dessa Doutrina Social é a justiça social. E uma das principais injustiças, hoje, da nossa sociedade é a discriminação da população negra e afrodescendente, principalmente com as mulheres negras. Por serem mulheres e também por serem negras. A PUC se orgulha de abrir a porta para a discussão desses problemas.
A estudante de Letras da Universidade Juliana Santos explicou como surgiu o Coletivo Nuvem Negra. Segundo ela, havia uma necessidade dos alunos negros de debater os problemas enfrentados e de reconhecimento dentro da Universidade.
- O Coletivo Nuvem Negra surge consciente de sua relevância e necessidade em uma Universidade que é reconhecidamente uma das mais importantes do Rio de Janeiro. Muitas dos nossos irmãos são os primeiros de sua família a pisarem em uma universidade. O Nuvem Negra veio para ajudar a tornar isso não um fim, mas um ponto de partida.
O protagonismo da mulher negra esteve presente durante todo o encontro. Elas foram as palestrantes, mediadoras, líderes dos grupos de trabalhos, escritoras dos artigos acadêmicos e empreendedoras. Durante os três dias de encontro, apresentaram produções acadêmicas, experiências sociais e propuseram medidas de enfrentamento às desigualdades que as afetam. A representante do Meninas Black Power Jaciana Melquiades acredita que a intensão do Seminário é acessar e ocupar cada vez mais esses espaços.
- Esse espaço, que tanto a gente ouve dizer que não é para a gente, estamos aqui para dizer que é para a gente, para abraçar a irmã do Coletivo Nuvem Negra da PUC e dizer que ela não está sozinha. Somos muitas, e todas queremos acessar os espaços de saber. Fazer o Encrespando junto com um seminário acadêmico é pegar na mão de cada menina negra que nos acompanha e dizer que aqui é um espaço para você também.
A professora do Departamento de Direito Thula Pires, uma das idealizadoras do Seminário, acredita que o encontro vai estimular novas reflexões. Para ela, é preciso que a produção de conhecimentos a partir da experiência da mulher negra esteja presenta no espaço acadêmico.
- Que possamos trocar e construir, colocar as nossas pautas e agendas dentro daquilo que acreditamos, com novas reflexões que mantenham a luta viva e que nos impulsionem continuar marchando, porque essa é a nossa realidade, essa é a nossa natureza essencialmente política.