Vocês conhecem lápis? É com esta pergunta que a artista plástica Thereza Miranda dá início às aulas no curso em que ministra no Departamento de Artes&Design na PUC-Rio. Referência para a arte em gravura no Brasil, a professora, que acaba de ganhar a 8º edição do Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, promovido pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), faz questão que os alunos apresentem os projetos do curso feitos à mão. Segundo a gravadora, educar o olhar é outro ponto fundamental para a criação artística.
O prêmio concedido pela Funarte contemplou, por meio do projeto Tereza Miranda e Museu Nacional Belas Artes, o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, que receberá 67 gravuras da artista. As obras estarão disponíveis para consulta a partir de 2016.
Nascida em julho de 1928, no Rio de Janeiro, Thereza estudou filosofia na PUC em 1947. No mesmo ano, o interesse pelo papel e pela gravura a levaram ao curso de gravura em metal no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) com Walter Marques, o qual a artista qualifica como seu grande mestre.
Em 1974, recebeu a bolsa do British Council para estudar técnica de fotogravura com Denis Masi, no Croydon College of Art, em Londres, e, dois anos mais tarde, ganhou o prêmio de Viagem ao Exterior no Salão de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com a obra Multidões II. No currículo, ainda constam um curso de litografia na University of New Mexico, em 1977, e um período em Nova York, onde trabalhou sob orientação de Roberto De Lamonica e se aperfeiçoou em fotogravura com Margot Lovejoy.
Paralelamente à produção como artista plástica, Tereza ministra há 41 anos aula de gravura no Departamento de Artes&Design. Gravura em metal, xilogravura e monotipia são algumas das técnicas que ensina para os alunos. Nas aulas, a artista diz que tenta mostrar aos alunos a importância da beleza, do olhar, da criatividade, do desenho e da mão. Segundo ela, um designer não é apenas um produtor de projetos, ele precisa apresentar qualidade no que faz. E, para isso, tem que saber usar as mãos e apurar o olhar.
Gratidão é a palavra mais repetida pelos alunos de Thereza. A professora é elogiada pelos alunos, como é o caso das estudantes de Comunicação Visual, Luiza Graça Melo Vieira e Maria Luiza Murce. Elas acreditam que, apesar de ser uma disciplina eletiva, o conteúdo é essencial para a formação, já que aprendem as primeiras técnicas de impressão, além de absorver a paixão de Thereza pela gravura.
– É uma matéria que conseguimos explorar o desenho, as técnicas e descobrir como é o nosso traço pela gravura e assim, criar uma identidade própria. Ela nos deixa livre, podemos nos inspirar com os desenhos e as figuras que quisermos. Não tem certo nem errado, tem o seu traço, a sua expressão e o seu jeito de fazer aquilo, é só usar a técnica. É muito gratificante aprender com ela e extrair um pouco daquilo que ela faz tão bem e ama tanto. Ela passa esse amor nas aulas – conta Luiza.
Com imagens que contemplam a natureza, numa tentativa de proteger e imortalizar nosso patrimônio natural, a obra da artista carioca sensibilizou até mesmo o poeta Carlos Drummond de Andrade. Em 1983, depois de visitar a exposição de Thereza, na Galeria Bonino, considerada uma das primeiras galerias profissionais do Brasil, Drummond enviou um poema à casa da artista na Urca. Ela conta que um dia recebeu um telefonema da dona da galeria, Giovanna Bonino, dizendo que o poeta estava apreciando o trabalho dela exposto na galeria.
– Passado um tempo, eu fui para casa, que naquele tempo ficava na Urca, e, quando eu subi, vi que tinha uma carta de Drummond. Eu então, muito nervosa, telefonei para a Maria Clara Machado, minha amiga de infância e fundadora do Tablado. “Clara, imagina que Drummond me fez uma poesia”. E ela me disse: “Ligue para ele, ele adora falar no telefone”. Eu então liguei e começamos a falar por telefone – lembra.