Elevador da felicidade: as idas e vindas de Elson
16/05/2016 15:47
Luiz Felipe Marinho / Foto: Fernanda P Szuster

Recém-contratado como ascensorista da PUC, profissional tem 33 anos de histórias de elevador para contar e chama atenção ao receber passageiros com um constante bom humor

Elson recebe os passageiros no quarto elevador do Edifíco Cardeal Leme

“Ao desembarcarem, lembrem- se: pode existir uma atrofia entre o veículo e o pavimento. Observem o vão, por favor”. Quem usa os elevadores do campus da PUC-Rio provavelmente já ouviu essa frase vinda de um senhor com 1,56m de pura simpatia. Dono de um olhar expressivo e de um bigode grisalho característico, Elson de Souza Paulo, 60 anos, ascensorista, tem 33 anos de profissão.

Natural de Nilópolis, Baixada Fluminense, cresceu em uma casa de estuque, onde sua mãe deu à luz a onze filhos; porém, os primeiros seis morreram ainda bebês. Ele cresceu ao lado de quatro irmãos. O mais velho morreu recentemente, vítima de complicações causadas pelo diabetes. Aos 22 anos, o profissional perdeu o braço em um acidente e, enquanto estava no hospital, a mãe morreu em casa, vítima de um ataque cardíaco.

Há pouco mais de um mês trabalhando na PUC, o ascensorista passa os dias de trabalho arrancando sorrisos de estudantes e professores que passam pelo elevador de número quatro do Edifício Cardeal Leme – onde trabalha atualmente.

Aluna do 3º período de Administração, Beatriz Barros diz que Elson é sempre muito simpático. Ela conta que o profissional motiva as pessoas a pararem de reclamar de coisas simples.

– A gente entra no elevador e ele está sempre com um sorriso, fala que tem que agradar os clientes dele. Agora mesmo, estávamos subindo e o elevador apresentou um problema, não saia do primeiro andar. Ele consegue contornar esse tipo de adversidade. Outra pessoa poderia ficar irritada, bufando conosco, mas, não, estava divertido, ele nos fazia rir, ninguém ficou estressado. Ele faz as nossas idas e vindas muito mais alegres.

Na Ala Kennedy, onde trabalhou nos primeiros dias, os estagiários do Centro Técnico Audiovisual (CTAv) colaram um cartaz em cima da porta do elevador que dizia “Elevador da Felicidade”. Estudante do 6º período de Cinema e estagiária do CTAv, Luiza Dreyer conta que ficou muito amiga de Elson.

– Quando conversei com ele pela primeira vez ficamos superamigos. Ele sempre tem uma piada na manga, é muito inteligente e amoroso. O Elson é um exemplo aqui dentro – tanto para os alunos, quanto para os professores – de uma pessoa humilde e alegre, que sabe levar para o trabalho a felicidade que ele quer na vida dele.

Elson já trabalhou em locais como o Edifício Central do Brasil, onde conheceu o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, e fala com orgulho dos elogios que recebeu. Mas foi no Edifício Santos Vahlis, sede da Associação dos Servidores Municipais, Estaduais e Federais do Rio de Janeiro (ASSIST), onde ficou por 13 anos, que surgiu a ideia de escrever o livro Os altos e baixos de um ascensorista, com base nas experiências acumuladas. Lá, presenciou muitas situações, como os dois assaltos que sofreu dentro do elevador. Ele escreve o material à mão.

– Eu já escrevi muita cosia, mas existem mais relatos agora. Minha vinda pra PUC já me proporcionou mais histórias. Tudo o que aconteceu comigo nesses 33 anos de elevador estará no livro.

Ao chegar no andar desejado, Elson abre as portas com a mesma simpatia. "Por gentileza, desembarquem com calma. Observem o vão. Mind the gap."

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