A jornalista e ativista Dorothy Day foi uma das personagens mais importantes para o pensamento católico no século XX. Com uma história de conversão tardia ao catolicismo e de preferência pelos pobres, Dorothy fundou com o ativista Peter Maurin, em 1933, o Catholic Worker Movement (CWM), que inspirou, posteriormente, a Teologia da Libertação na América Latina. A figura da ativista é o tema do livro Fé, Justiça e paz: o testemunho de Dorothy Day, organizado pelos professores Maria Clara Bingemer e Paulo Fernando Carneiro, do Departamento de Teologia da PUC-Rio.
Segundo o professor Paulo Fernando, a ideia da publicação veio de uma coletânea de ensaios organizados a partir de um seminário que ocorre na PUC-Rio anualmente em parceria com a universidade De- Paul, em Chicago.
– A cada edição, nós escolhemos uma personalidade americana para ser estudada aqui no Rio e uma personalidade brasileira para ser discutida na universidade DePaul. Em 2013, o trabalho de Dorothy Day foi abordado e, a partir disso, reunimos os ensaios para criar o livro.
A coletânea de sete textos é um diálogo entre pensadores do Norte e do Sul. São encontrados artigos que mostram as diversas faces da ativista ao longo da trajetória dela, desde o interesse na juventude pelo anarquismo até a conversão já em idade adulta.
As bases do CWM se deram no encontro de Dorothy Day com o pensamento marxista. Apesar das palavras de Karl Marx “A religião é o ópio do povo”, foi nos estudos do pensador socialista que Dorothy encontrou justificativas para adotar um catolicismo - de preferência - pelos menos favorecidos. Vale lembrar que a data de fundação do movimento é contemporânea à grande depressão econômica americana, época de desemprego e pobreza. O CWM foi fiel à solidariedade com os marginalizados, com as greves e lutas trabalhistas.
A intuição de Dorothy Day antecipa em décadas a Teologia da Libertação, que floresceu na América Latina no final dos anos 1960. Neste movimento, o Deus judaico-cristão aparece como um “pai terno e amoroso”, que dá preferência aos pobres pelo fato de serem mais necessitados.
– O CWM é, nos Estados Unidos, o equivalente à Teologia da Libertação na America Latina. A diferença é que se dirige mais à classe média, enquanto aqui, é uma teologia
feita para as pessoas que iriam trabalhar diretamente com os pobres – explica professora Maria Clara.