Um mistério ronda a origem do crucifixo em madeira que adorna a parede lateral da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. De autoria desconhecida, presumivelmente do século XVIII, a imagem do Cristo crucificado intriga a equipe do Núcleo de Memória da PUC-Rio, que realizou por dois anos uma vasta pesquisa sobre a história da igreja e cada obra de seu acervo. “Foi impossível rastrear. Não se sabe quem fez, de onde, veio, onde ficava, nem quem o trouxe para a PUC”, lamentou a coordenadora do Núcleo de Memória, Margarida de Souza Neves, que chegou a encontrar, em uma igreja de Berlim, um Cristo crucificado “irmão” ao da PUC. “Surpreendentemente, expliquei, em alemão, toda a história ao clérigo responsável pela igreja. Infelizmente, mesmo assim não foi possível determinar se a imagem da Igreja Sagrado Coração é realmente alemã”, contou a professora, no lançamento do livro Igreja do Sagrado Coração de Jesus: fé, arte, memória, nesta segunda-feira, no Conselho Universitário.
Todos os registros sobre o crucifixo, carinhosamente chamado de “Cristo fujão” por Margarida e cuja presença é registrada na PUC desde os anos 1960, fazem parte da publicação ricamente ilustrada, que apresenta em detalhes a história da Igreja e de cada obra de seu interior – como os vitrais baseados em painéis originais de Cândido Portinari, as estátuas do Sagrado Coração de Jesus, de Nossa Senhora e de Santo Inácio de Loyola esculpidas pela artista Mazeredo e os quadros da Via Sacra do pintor Carlos Oswald. No lançamento, que contou com a presença do vice-reitor Comunitário, professor Augusto Sampaio, e do Reitor da Igreja, padre Alexandre Paciolli, entre outros, a professora contou sobre o processo de produção da obra e as pesquisas realizadas.
“A intenção é que fosse um livro bonito e com densidade acadêmica, com uma pesquisa teórica séria”, resumiu a professora Margarida Neves. Integraram a equipe a coordenadora de pesquisa de Silvia Ilg Byington, os pesquisadores Clóvis Gorgônio e Eduardo Gonçalves, os fotógrafos Antônio José Albuquerque e Weiler Filho e bolsistas de iniciação científica.
O Reitor da Universidade, padre Josafá Carlos de Siqueira, que assina a apresentação do livro, ressaltou a importância da criação de uma referência sobre o assunto e a preservação da memória da instituição: “A responsabilidade ficou com o Núcleo de Memória, ao qual agradecemos de coração”.
Assim como padre Josafá, que ressaltou a vida inter-religiosa no campus, Margarida citou a relevância de se conhecerem outras crenças e outros tipos de igrejas, como a Mesquita Azul em Istambul, em que as torres são usadas para o chamado à prece, mas também para “atarraxar o céu e a terra”. Referiu-se também a uma igrejinha no interior de São Paulo com bandeirinhas cortadas a tesoura e enfeites com papel celofane; e à Capela do Homem, na capital do Equador, Quito, construída por Oswaldo Guayasamín.
Padre Josafá também agradeceu aos colaboradores que tornaram possível a construção da igreja. Na apresentação do livro, o Reitor conta que era antigo o sonho da PUC-Rio de ter uma igreja no campus, para que as atividades religiosas – realizadas, desde 1955, numa pequena capela de 70 lugares no Edifício Cardeal Leme pudessem ser ampliadas em compasso à ampliação da Universidade.
A Sagrado Coração de Jesus, com 400 lugares, começou a ser construída em 2001, em lugar do antigo ginásio esportivo, e foi unicamente financiada por benfeitores da Universidade. Com uma doação de mil dólares do médico Ernesto Júlio Bandeira de Mello, iniciou-se uma campanha para a construção da igreja, que, levada à frente por jesuíta Padre Pedro Magalhães Ferreira, atual presidente da Mantenedora da PUC-Rio, com a ajuda da Companhia de Jesus e do Colégio Santo Inácio, ganhou a adesão de outros benfeitores, como Paulo Mário Freire, Carlos Alberto Serpa e Paulo César Mendonça Motta, amigos e ex-alunos da PUC.
Em 2003, foi celebrada a primeira missa e inaugurado o novo Centro de Pastoral Universitária. Em 2005, o templo foi sagrado pelo então cardeal do Rio de Janeiro e grão-chanceler da PUC-Rio, Dom Eusébio Oscar Scheid.