Alternativa ecológica para separação de minério de ferro
24/08/2017 11:50
Fernanda Teixeira

Apoiadas pela Vale, pesquisas de pós-graduandos em Engenharia Química da PUC-Rio indicam bactérias como opções a produtos químicos na extração mineral.

A purificação do minério de ferro — segundo maior produto exportado do Brasil, com cerca de 10% do volume total, atrás só da soja — tende a embarcar no bonde ecológico. Pelo menos é o que apontam as pesquisas dos alunos de pós-graduação do Departamento de Engenharia Química e de materiais da PUC-Rio, orientadas pelo professor Mauricio Torem. Apresentados para executivos da Vale, quarta-feira passada (23), na Universidade, os estudos revelam que biorreagentes se constituem alternativas ambientais aos produtos químicos tradicionalmente usados na flotação, processo de separação de minérios.

As pesquisas expostas no workshop de biotecnologia mineral largaram em 2015, quando consumou-se a parceria entre o Centro Técnico Científico (CTC) da PUC-Rio e o Instituto Tecnológico Vale (ITV). A iniciativa conjunta apoia a a geração de inovação e conhecimento para o setor de mineração, propósito refletido nos estudos que avaliaram o uso de bactérias para, simplificadamente, purificar o minério. Os resultados, exibidos na PUC-Rio para o diretor científico do ITV, Laurindo Leal, e a pesquisadota titular do Instituto Patrícia Radino, indicam uma opção mais sustentável para o tal processamento padrão aplicado a esta commodity (produto primário de escala global, com preto contado no mercado externo).

As esperanças de uma extração mais ecológica foram trazidas pelos alunos de pós de Engenharia Química e de Materiais Antonio Merma, Carlos Castañeda, Liza Marinho, Kirenia Alvárez, Mauricio Cortes e Ronald Rojas. Ao longo daquela manhã, eles apresentaram as conclusões das pesquisas com biorreagentes no tratamento de minerais. A pureza observada nas amostras testadas credencia as alternativas sustentáveis como potenciais substitutos dos produtos químicos utilizados no processo de flotação há 150 anos.

Pesquisador Antonio Merma. Foto: Isabella Lacerda

À frente do grupo de pesquisas, o professor Mauricio Torem, explica as vantagens da chamada bioflotação:

— O uso de reagentes químicos tradicionais da flotação apresenta certo nível de toxicidade, podendo trazer danos à flora e à fauna. Já com os biorreagentes, os produtos metabólicos e biosulfactantes gerados são benignos, tornando a operação ambientalmente mais amigável. Assim, a separação é feita de uma forma mais eficiente, com um produto final ambientalmente melhor. Chega-se a um concentrado de produto em uma quantidade maior.

O professor a parceria com o ITV fundamental para viabilizar a iniciativa:

— A parceria com a Vale permitiu que avançássemos neste assunto. O projeto foi importante para a complementação de bolsas, que estimula a formação de recursos humanos qualificados, e para a identificação de bons alunos motivados a trabalhar na área de beneficiamento mineral. Sem o financiamento, talvez nada disso acontecesse. É um jogo de ganha-ganha – avalia.

O ITV é uma associação sem fins lucrativos dedicada a pesquisa, ensino e empreendedorismo. Busca converter o conhecimento inovador gerado em benefícios para a sociedade e para a empresa, ressalta o diretor científico, Laurindo Leal. O engenheiro mostra-se satisfeito com os resultados apresentados pelos alunos da PUC-Rio:

— O ITV mineração ainda não tem um parque de laboratórios completo. Por isso, precisamos nos associar a grupos de pesquisa que se destaquem e tratem de algum tema que nos interesse. Identificamos o projeto de bioflotação da PUC e decidimos investir. Os resultados apresentados são interessantes do ponto de vista cientifico. O produto gerado pelo metabolismo da bactéria é o que está dando um melhor resultado na separação de minerais. Atualmente o interesse maior é na separação hematita–quartzo, e os resultados indicam que é possível separar os dois minerais, lotando a hematita em PH ácido com as bactérias Rhodococcus opacuse Rhodococcus erythropolis.

O especialista faz, no entanto, uma ressalva quanto à viabilidade econômica dos biorreagentes e recomenda testes em amostras maiores:

— Por enquanto, isso foi feito em uma escala muito pequena, é preciso testar agora em uma escala maior. Também temos que avaliar se isso é mais econômico, porque já existem no mercado produtos de origem biológica, fabricados pela indústria química, que desempenham a mesma tarefa. Torço para que seja mais econômico e não traga nenhum risco ambiental. Manipular microrganismos não é trivial, mas, independentemente da aplicação industrial, vejo uma contribuição muito interessante,  do ponto de vista técnico-cientifico, dessas pesquisas dos alunos da PUC.

Mais Recentes
Perspectivas no tratamento do câncer
Simpósio realizado na Casa de Medicina da PUC-Rio discute como a tecnologia pode ser uma aliada dos profissionais de saúde
A popularidade da geolocalização na era digital
O aumento no uso de ferramentas de localização em eletrônicos pessoais transformou a forma como os indivíduos se relacionam na sociedade e aumentou a dinâmica de troca de experiências 
"As teorias formam nossa visão de mundo e contribuem para o caráter"
Em palestra do IRI, o pesquisador Piki Ish-Shalom, da Universidade de Jerusalém, trabalha a ideia de prognósticos teóricos para propor benefícios à sociedade.