O quadribol da vida real
16/04/2018 15:58
Ana Vitoria Barros

Diretamente de Hogwarts, o esporte já tem times no Brasil e no mundo

Ao arremessar a goles por um dos aros, os jogadores também podem atravessá-los. Foto: Gabriela Azevedo

Criado nos livros de J. K. Rowling, o quadribol é o esporte favorito dos bruxos da saga Harry Potter e esteve presente ao longo da franquia. Em 2001, a escritora lançou o livro Quadribol Através dos Séculos, no qual conta a história e as regras do jogo. O sucesso foi tanto que o esporte saiu dos livros e filmes: em 2005, o primeiro time de quadribol para além da ficção foi criado nos Estados Unidos. Já no Brasil, os pioneiros foram os integrantes do Rio Ravens, time criado no Rio de Janeiro, em 2010. Atualmente, o país se prepara para escolher os representantes da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de Quadribol 2018.

Na versão original, os atletas jogam sobre vassouras voadoras pelo campo da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. O objetivo do quadribol é marcar pontos ao jogar a goles, bola principal do jogo, por um dos três aros do time oposto. Os jogadores precisam também desviar dos balaços, bolas que têm a função de “queimar” os integrantes do time adversário. O tempo de partida não é pré-definido: o jogo só acaba quando o apanhador captura o pomo de ouro, uma pequena bola com asas que voa velozmente entre os jogadores no campo.

Para ser possível a prática do quadribol fora do mundo da fantasia, o esporte precisou passar por algumas alterações. Diferente da versão fictícia, na qual existem uma goles e dois balaços, os jogadores usam três balaços. A goles deve ser arremessada por um dos três aros do time oposto, que valem dez pontos cada. Para representar a goles, usa-se uma bola de voleibol um pouco vazia para facilitar o manuseio. Os balaços são bolas de queimado que são usadas para imobilizar o jogador do time adversário.
Como no filme, a partida se inicia com as bolas alinhadas no centro do campo. Foto: Gabriela Azevedo

Quando o árbitro apita, começa a partida. Assim como na versão fictícia, são sete jogadores em cada time, composto por três artilheiros, dois batedores, um apanhador e um goleiro para proteger os aros. De acordo com o capitão do Rio Ravens, o artilheiro Bruno Henrique da Silva, os jogadores devem respeitar as restrições referentes à cada posição.

– A principal regra é que cada jogador só pode ter contato com a bola da sua posição. O batedor só pode ter contato com o balaço, que é usado para atrapalhar e queimar os jogadores. O artilheiro e o goleiro só podem pegar a goles, usada para marcar os pontos. Já o apanhador é o único que pode pegar o pomo de ouro. Todos os jogadores precisam usar uma bandana na cabeça, que serve para indicar a sua posição.

As vassouras e o pomo de ouro não ficaram de fora da adaptação à realidade. As vassouras foram substituídas por canos de PVC de, no mínimo, um metro. Para representar a esfera dourada voadora, os jogadores optaram por uma bola de tênis ou frescobol dentro de uma meia. Os objetos ficam presos na parte de trás da bermuda do snitch runner, jogador neutro cuja função é carregar o pomo de ouro pelo campo. Na versão adaptada, o pomo vale 30 pontos, enquanto na versão fictícia vale 150 pontos.
A captura do pomo de ouro encerra a partida de quadribol. Foto: Gabriela Azevedo

Para ter um controle maior do esporte, existe um livro de regras que está na décima edição. O conteúdo é editado pela Associação Internacional de Quadribol (IQA) e foi traduzido para o português pela Associação Brasileira de Quadribol (ABRQ). Fundada em 2012, a ABRQ foi criada por fãs da saga Harry Potter que descobriram a existência do esporte no país. De acordo com o vice-presidente, Gabriel Bernardes, a associação tem a função de auxiliar os jogadores no Brasil.

– No momento, nossa prioridade é viabilizar a participação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo deste ano, que ocorrerá em Florença, na Itália. Além disso, vamos realizar o primeiro Campeonato Brasileiro de Quadribol (CBQ), que no momento está no processo para seleção de sede. Também estamos trabalhando com um grupo de estudos do manual para capacitar mais pessoas a arbitrarem partidas e melhorar a qualidade do esporte praticado no Brasil.

Atualmente, existem nove times de quadribol espalhados pelo Brasil, dos quais quatro são do estado do Rio de Janeiro: Rio Ravens, Araribolt Quadribol, UFRJ Quadribol e UFF Quadribol. O Rio Ravens surgiu em 2010 e é o primeiro time do país em parceria com a IQA. Para a vice-capitã, Ana Maria Marques, um dos principais diferenciais do esporte é a Regra dos Quatro Máximos, também conhecida como Regra 9 ¾ em referência à saga. De acordo com essa regra, não pode ter mais do que quatro jogadores do gênero majoritário em campo ao mesmo tempo. Para ela, o quadribol é o esporte que trabalha com a questão de inclusão de gênero.

– No quadribol, não limitamos uma pessoa de jogar em algum time por causa de sua identidade de gênero, isso não é e nunca será problema. Acredito que jogar em um time misto é bem melhor. Aprendo muito com essa dinâmica de jogar com homens e mulheres, a ter força para jogar com pessoas mais altas que eu e a ter agilidade para jogar com pessoas mais baixas. É incrível ter perspectivas diferentes aplicadas em um mesmo jogo.
Uma das premissa do quadribol é a existência de times mistos. Foto: Gabriela Azevedo

O primeiro time universitário de quadribol do Brasil foi criado por alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2017. Liderado pelo artilheiro Philipi Daniel, a UFRJ Quadribol contou com o apoio de professores da Universidade. A ideia de montar um time universitário veio da estudante de Educação Física Cenira Alves, que entrou em contato com a Secretaria de Esporte da UFRJ para criar a equipe. Segundo Philipi, o preconceito em relação ao esporte já não é tão forte quanto no começo.

– Hoje, as pessoas conhecem mais, principalmente depois do primeiro campeonato. A cada dia, as pessoas passam a enxergar com outros olhos, e o esporte vai ganhando cada vez mais respeito no território nacional. Como neste ano haverá Copa do Mundo de Quadribol e alguns jogadores da UFRJ vão participar, espero que o Brasil tenha bastante torcedores este ano e, quem sabe, atraia mais jogadores para o esporte.
Jogadores do time UFRJ Quadribol em treino aberto na Cidade Universitária. Foto: Gabriela Azevedo

A Universidade Federal Fluminense (UFF) também tem um time desde 2017. De acordo com o capitão, Dahn Andrade, o UFF Quadribol surgiu a partir da estudante de Pedagogia Camila Lopes, com o incentivo do capitão do time Araribolt, Matheus Costa. Para Andrade, seria interessante se surgissem mais times universitários.

– O time da UFF surgiu da ideia de perpetuar o costume de criar times universitários, como existe no país de origem do esporte, os Estados Unidos. Atualmente, só temos dois times universitários no estado. Seria muito bom se conseguíssemos times em outras universidades fluminenses. A própria UFF nos reconheceu como time fazendo várias postagens em sua página oficial a respeito.

Estudante do último período de Psicologia na PUC-Rio, Gabriel Bernardes não cogita a possibilidade de montar um time dentro da Universidade, mas se coloca à disposição para dar suporte caso alguém tenha a iniciativa. Empolgado, ele destaca que o assunto do momento são os preparativos para enviar a Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de Quadribol na Itália.

– O Brasil participou da Copa de 2016, em Frankfurt, na Alemanha, mas a equipe era composta basicamente por brasileiros que moravam no exterior. Jogamos com o número mínimo de jogadores e, mesmo assim, nosso time fez uma boa campanha e nos encheu de orgulho. Graças a eles, muitas pessoas, eu inclusive, estão se preparando desde então para ir jogar este ano.

De acordo com Bernardes, quem tiver interesse em jogar ou registrar um time de quadribol, deve acessar o site www.abrq.com.br e preencher o formulário de cadastro. O goleiro reforça ainda que não precisa ser fã de Harry Potter para jogar, basta ter disposição para praticar um esporte estratégico e tático.

– O quadribol é um esporte muito jovem, mas já se espalhou pelo mundo com uma velocidade absurda. Pode parecer uma ideia estranha para algumas pessoas, mas recomendo para quem tenha curiosidade que apareça nos treinos de um dos times do Rio. Apesar de o esporte ter sido feito por fãs da saga, a prática não é voltada para esse público. Para quem procura uma atividade física divertida, diferente, inclusiva e competitiva, é fortemente recomendado.

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