Fake News e a importância dos fatos objetivos
12/06/2019 18:24
Ana Carolina Moraes

A era da pós-verdade é debatida por professores de Comunicação Social na II Semana de Direitos Humanos

Patrícia Gabrig, Leonel Aguiar e Patrícia Maurício debatem a abrangência da pós-verdade na atualidade. Foto: Amanda Dutra

O caminho para construir uma comunicação social que efetive os direitos humanos foi o tema discutido na palestra Comunicação e Direitos humanos: Pós- Verdade. O diretor do Departamento de Comunicação Social, professor Leonel Aguiar, e Coordenadora Adjunta de Graduação do Departamento de Comunicação Social, professora Patrícia Maurício Carvalho, participaram do debate sobre o assunto no Anfiteatro Junito Brandão. A mediação foi feita por Patricia Gabrig, analista de comunicação da Pastoral Universitária Anchieta e mestranda em Comunicação Social.

Patrícia Gabrig iniciou o encontro, que fez parte da II Semana de Direitos Humanos da Pastoral Universitária Anchieta, com uma breve explicação sobre o conceito de pós-verdade. Segundo Patrícia, ele diz respeito a circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos importância do que crenças pessoais. Ela disse que, de acordo com o dicionário de Oxford, o termo foi usado pela primeira vez em 1992, mas foi em 2016 que o uso se popularizou. A analista de comunicação da Pastoral Universitária comentou que o crescimento da palavra foi de 2.000% , por causa das eleições nos Estados Unidos e do Brexit.

Patrícia Gabrig explica o conceito de pós-verdade. Foto: Amanda Dutra

A professora Patrícia Maurício disse que, pela natureza do fenômeno, a pós- verdade é uma farsa, mas é verossímil. Ela ainda acrescentou que o emissor depende apenas da crença dos ouvintes para que o discurso se torne válido, em vez de se basear em fatos. Ao falar das fake news, Patrícia definiu esse fenômeno como “mentiras vestidas de notícias”. A Coordenadora Adjunta de Graduação do Departamento de Comunicação Social acredita que o cuidado em relação a fontes confiáveis é importante, e que os objetivos das manobras da pós-verdade são “sempre do mal”.

- Se você for analisar as fake news, sempre dá para encontrar algum detalhe que não pertence. Elas são "filhas" daquelas correntes que a gente recebia por e-mail. Uma vez, recebi um e-mail assinado por uma professora da UFRJ que oferecia vagas remuneradas para fiscalização de vestibular. A única condição era pagar uma taxa de inscrição. Eu estranhei e resolvi investigar. Mandei um e-mail para ela, que eu procurei no Google, e descobri que era tudo um golpe.

A professora Patrícia Maurício fala sobre a evolução das fake news. Foto: Amanda Dutra

A crise da modernidade foi apontada como uma das causas da pós-verdade pelo professor Leonel Aguiar. Ele também identifica uma crise no jornalismo, cujas motivações são os avanços da sociedade democrática desde o século XIX e o dever da produção de discursos verdadeiros que ela espera dos jornalistas. Ele afirmou que as empresas jornalísticas ainda não sabem lidar com as mudanças recentes que levaram à lógica das sensações, na qual o afeto é mais importante do que a razão.

- No auge da sociedade da informação, o que está sendo mais valorizado é ter opinião formada sobre tudo. Este aspecto desqualifica a informação por si só. É importante lembrar que a precisão jornalística, advinda do século XIX, é apontada historicamente como um processo essencial de melhora na qualidade documental de informações.

Sobre a produção de discursos verdadeiros, o professor comentou que o ideal seria que o combate às fake news e a discussão da pós-verdade deveriam ser deveres de toda a sociedade. Para Aguiar, esta é a saída para evitar a hegemonia das notícias falsas. Por outro lado, frisou, é importante que o indivíduo fique atento para não classificar todas as informações das quais discorda como fake news sem realizar nenhuma pesquisa.

- Com a polarização política e a difusão da informação, isso se torna um perigo. Temos que ficar atentos para não cair nessa armadilha. Nas redes sociais, opinião é o que se chama de economia do clique, a pessoa vai lá e reage com um coraçãozinho antes mesmo de consumir o que está sendo compartilhado.

O diretor do Departamento de Comunicação Social, professor Leonel Aguiar, realça o perigo da polarização. Foto: Amanda Dutra

Patrícia Maurício acredita que as redes sociais foram responsáveis pela amplificação da pós-verdade, que antes ocorria em menores escalas. Ela classificou as fake news como um elemento da era da internet por causa do formato no qual as notícias são geralmente montadas, com links duvidosos que podem até imitar outros veículos. A professora apontou as mídias tradicionais como um possível caminho para quem quer chegar às informações, mas fez ressalvas em relação à neutralidade que, muitas vezes, é a atitude esperada destes veículos.

- Parte das pessoas já está de orelha em pé para as fake news e acabam recorrendo à mídia tradicional para tentar checar. Existe um compromisso das mídias com os fatos, mas também sabemos que as notícias sofrem influência dos interesses dos grupos empresariais, que comandam os veículos de comunicação. Em relação a alguns assuntos, fica claro que não se retratam os dois lados.

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