Este copo já foi mandioca
17/06/2016 17:20
Diana Fidalgo e Mariana Salles

Especialistas se reuniram na Semana de Meio Ambiente para discutir reciclagem e uso da energia. "Precisamos aprender a ver o lixo como matéria-prima", afirma empreendedor.

Copos CBPAK. Foto: Mariana Salles

A equipe de limpeza recolhe no campus da PUC-Rio 1,5 tonelada de lixo comum a cada dia. Mais da metade desses resíduos (56%) é produzida nos restaurantes, especialmente no bandejão. O volume, equivalente a 45 toneladas por mês e 540 toneladas por ano, pode ser reduzido com o aproveitamento em compostagens, ou o uso – e mesmo a produção – de material sustentável e descartável. As ideias foram apresentadas na mesa Energia e Resíduos Sólidos, na XXII Semana de Meio Ambiente da PUC-Rio.

Ao apontar possíveis soluções para o volume de lixo gerado no campus da PUC, que comparou a uma pequena cidadezinha, o professor Tácio Campos, do Departamento de Engenharia Civil, apontou a necessidade de mudanças:

— Apesar de o problema ser grande, há a possibilidade de aproveitamento desse lixo pela Universidade. A resposta pode vir por meio da compostagem ou da fermentação, duas ideias que estão sendo avaliadas, mas impedidas por empecilhos como a falta de espaço físico. Uma solução seria aproveitar o Campus Rural da PUC-Rio no Tinguá.
Outra sugestão foi uma parceria com a CBPAK, produtora de embalagens, copos, pratos e bandejas feitas à base de fécula de mandioca. A universidade poderia participar da produção do material sustentável.

O empreendedor Cláudio Rocha Bastos foi quem teve a ideia de não só fornecer embalagens descartáveis e ecológicas, mas de "alugá-las" – em especial, os copos de mandioca. Depois da coleta das embalagens já usadas, eles as enviam para uma empresa terceirizada responsável pela compostagem: “Em três semanas, o lixo já virou terra, tornando o empreendimento lixo zero”.

Para Bastos, é necessário parar de ver o lixo como lixo e passá-lo a ver como matéria-prima. E aponta esse como o principal paradigma a ser quebrado no processo para um mundo mais limpo e conscientizado.

Cláudio Rocha. Foto: Mariana Salles

O conceito exemplificado pela CBPAK é o da economia circular, que se opõe à economia linear, insustentável em longo prazo. A economia circular é um sistema reparador e se baseia na ideia de reaproveitar ao máximo os produtos e componentes.

— Criei o copo de mandioca como solução ambiental de baixo carbono. A vida de produzir, consumir e jogar fora precisa de conceitos diferentes: a mentalidade precisa mudar; precisamos rever os valores, redefinir produtos e consumo, repensar o processo produtivo e a destinação correta dos resíduos sólidos. O futuro não é descartável — afirmou sobre o uso desenfreado dos recursos naturais que não são infinitos.

Reciclável ou não?
Estudantes da PUC também participam com ações de conscientização durante a Semana de Meio Ambiente. Alunos da eletiva do Departamento de Empreendedorismo produziram etiquetas para as lixeiras, com o objetivo de conscientizar a comunidade sobre o que é lixo reciclável – limpo e seco – e não reciclável – úmido. Thais Albuquerque, estudante de Jornalismo e uma das integrantes do grupo, explica:

— Colocamos as definições em cada lixeira dos Pilotis do Edifício Cardeal Leme para ajudar as pessoas que não sabem onde descartar seu lixo. O que pode ser reciclável é aquele que está limpo, seco. O descarte incorreto de materiais sujos e úmidos pode contaminar todo o resto. Por isso precisamos orientar as pessoas, esclarecendo possíveis dúvidas.

Automação para controlar a energia e reduzir consumo
O consumo de energia é outro desafio. A PUC-Rio já compra energia de fontes sustentáveis, no Mercado Livre de Energia, que permite a grandes empresas e indústrias comprar a energia diretamente dos geradores, o que reduz o custo, ao mesmo tempo em que permite optar por energias limpas, caso de 25% dos compradores. Hoje em dia apenas consumidores “grandes”, isto é, que contratam 500 kW ou mais por mês, podem migrar para o Mercado Livre de Energia. Consumidores comuns, como cidadãos e pequenas empresas compram a energia de distribuidoras, como a Light.

Rodrigo Flora Calili. Foto: Mariana Salles

Professor do Departamento de Engenharia Elétrica, Rodrigo Flora Calili indica a adoção de programas de gestão energética como caminho para um consumo eficiente, econômico e limpo. A primeira etapa é diagnosticar os usos de energia numa instalação. A Otimiza Sustentável, empresa de conservação de energia sediada no Instituto Gênesis e PUC-Rio, realiza projetos e programas de eficiência na área de energia. Além do relatório para identificação do local que necessita investimento, a empresa se baseia na questão sustentável para reduzir também a emissão de CO², o que é melhor para o meio ambiente. Como exemplo, há o site da empresa que calcula a quantidade de árvores que salvam e a de CO² que não produzem.

— Com o “diagnóstico energético”, é possível propor ações para solucionar, mais rápido e com menos custo, os gastos excessivos. Em mudanças mais simples, como trocar lâmpadas incandescentes por lâmpadas de LED, o custo se paga em um ano. Em grandes projetos, o investimento é alto, mas tem retorno rápido – afirmou, citando o caso de um hotel que investiu cerca de R$ 2 milhões, com retorno em três anos e meio – explicou Calili, diretor da empresa.

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