Na palestra “Indicadores sociais, relevância e resultados”, primeira do seminário Demografia, Indicadores Econômicos e Sociais, organizado pelo Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio na segunda-feira, 24, especialistas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e professores da PUC-Rio discutiram a importância da combinação entre as leituras quantitativas e qualitativas de dados divulgados e a importância do futuro cientista social.
Pesquisador da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE, André Simões lembrou que o movimento de indicadores sociais começou nos Estados Unidos da década de 1960 como crítica a indicadores econômicos, como o PIB, como medidor de qualidade de vida da população. Com o aumento dos conflitos sociais, surgiu a necessidade de um controle social mais eficiente, explicou Simões. Em 1970 chegou à Inglaterra, à França em 1973 e em 1974 à Alemanha e ao Japão. No IBGE, que em 2016 completa 80 anos de atividade, os indicadores sociais começaram a ser monitorados também em 1973, com a criação do Grupo Projeto de Indicadores Sociais.
A publicação do primeiro relatório brasileiro, em 1979, levava em conta pela primeira vez fatores como educação, saúde e habitação, com foco na desigualdade do país. O pesquisador explica que os paradigmas medidos não são estáticos, mudando a cada dez anos em média:
– Temas vão sendo incorporados na pesquisa à medida que vão surgindo e ganhando relevância em sua sociedade, refletindo determinada visão do mundo. Contestar paradigmas que guiam essas pesquisas é importante para que contemplemos traços diferentes da sociedade.
Simões apontou ainda que, desde 2010, o novo paradigma de desenvolvimento em vigência é o sustentável, que articulando indicadores sociais e ambientais. O pesquisador vê, como principal função desses indicadores, o fornecimento de informações para a gestão pública:
– (Esses indicadores) auxiliam a gestão pública a estabelecer projeções, a como lidar no futuro com certas questões. A partir de um gráfico desses podemos decidir se devemos investir em políticas de natalidade ou de previdência, por exemplo.
É importante lembrar, no entanto, que os resultados não são um retrato inteiramente fiel da sociedade. O professor do Departamento de Ciências da PUC-Rio e também pesquisador do IBGE Antonio Carlos Alkmim diagnostica:
– Os indicadores sociais não contemplam todas as categorias. Fica de fora a população que não tem documentação, que também representa um dado relevante. Estudantes de supletivo e candidatos a concursos públicos, por exemplo, não se encaixam nas categorias que contemplam a educação no país. Além disso, a falta de comprovantes para as declarações na hora da pesquisa fere a veracidade dos números.
Quanto ao processo de leitura e análise de dados fornecidos por esses indicadores, Alkmin defende a conciliação entre o quantitativo e o qualitativo no ato:
– O olhar qualitativo sobre esses temas é fundamental, mas não resolve por si só e deve ser apoiado por números. É um jogo entre os dois.
O professor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio Ricardo Ismael, que acompanhou a palestra, complementou a fala de Alkmin ao apontar que os cursos de Ciências Sociais oferecem dito olhar qualitativo, que, a seu ver, “faz falta e tanto pode contribuir”. O professor ressaltou ainda que há cada vez mais alunos dentro das faculdades engajados em coletivos:
– Essas lutas representadas em coletivos podem ser potencializadas com políticas públicas baseadas nas análises corretas desses dados.
Ismael elogiou ainda o papel do IBGE, que, "mesmo durante a ditadura militar e outras crises econômicas e políticas, sempre ofereceu a oportunidade ao estudantes de Ciências Sociais de formar a sua própria base de dados e a habilidade de lê-los".
Alkmin pontuou ainda que indicadores sociais formam o conhecimento do indivíduo sobre a realidade nacional do país, e que o papel da faculdade nessa interação é de fazer o aluno refletir sobre ela: "Ambos saem ganhando nessa relação".