Gávea Operária
30/05/2017 18:49

Trabalhadores da Fábrica de Tecidos Carioca em frente à Vila Sauer. Revista da Semana, 4 de março de 1901

Trabalhadores da Fábrica de Tecidos Carioca em frente à Vila Sauer. Revista da Semana, 4 de março de 1901

A Gazeta de Notícias registrou, em 1917, rumores de uma greve geral na capital da República: “Os operários do Rio serão arrastados à greve?”. A notícia ecoava a apreensão do público com o que era visto como uma onda destrutiva iniciada em São Paulo. O temor que o movimento chegasse ao Rio de Janeiro fundava-se também em eventos registrados desde janeiro daquele ano, a partir da paralização de 1.600 operários das fábricas de tecidos Carioca, Corcovado e São Felix – localizadas na região fabril da Freguesia da Gávea – em solidariedade a colegas demitidos. Em julho, por duas semanas, uma greve geral uniu cerca de cem mil trabalhadores, em reivindicações por melhores salários, condições de trabalho e legalização sindical.

Embates e greves são ícones do mundo do trabalho. Representam, no entanto, apenas uma das dimensões do processo de formação das classes trabalhadoras, de seus laços de identidade e de solidariedade. Além da fábrica, são expressivas as relações familiares e comunitárias, dimensões de afetos e conflitos constitutivas dos sujeitos históricos.

Nos acervos, na memória e na paisagem da cidade, há registros de espaços de sociabilidade das classes trabalhadoras, de suas questões e desafios. Na busca por vestígios da Gávea operária em suas diferentes fases, esbarra-se, por exemplo, com ruínas da fábrica Moura Brasil, com o Carioca Futebol Clube e com raros nomes de rua, como a Mestre Joviniano, operário e maestro da banda de música dos trabalhadores que, como os grevistas de 1917, marcaram a história da região.

As casa e vilas operárias, algumas ressignificadas por novos usos, como a Vila dos Diretórios, na PUC-Rio, ou a Vila Sauer, no Horto, são testemunhos eloquentes da história e da memória dos trabalhadores e, tomadas em conjunto com outros exemplos de moradia das classes populares cariocas, contribuem para a análise do problema histórico da habitação no Rio de Janeiro. Reconhecer a singularidade desses lugares é um primeiro passo para compreensão da cidade e seus desafios.

Silvia Ilg Byington
Caren Ferreira
Núcleo de Memória da PUC-Rio

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