Padre Josafá: “A responsabilidade com o planeta é nossa”
29/08/2017 16:57
Natália Oliveira

Convidado a falar da popuição do ar na palestra Fé no Clima, organizada pelo Iser no Museu do Meio Ambiente, Reitor da PUC-Rio reforça a ideia da conscientização ecológica com as mudanças climáticas no planeta.

O Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., destacou ser preciso que os brasileiros tomem consciência da responsabilidade perante as mudanças climáticas. Além disso, durante a palestra Fé no Clima, o ambientalista salientou a relação entre religião e meio ambiente como uma saída para propagar a conscientização ecológica. A conversa ocorreu nesta terça-feira, 22, no Museu do Ambiente e contou com a presença de 12 líderes religiosos que desconsideraram as diferenças de crenças para debater um tema de importância universal.

A discussão de questões ambientais no meio religioso ainda causa estranhamento. Isso se deve ao fato da religião ser atrelada às tradições seculares e doutrinas atemporais. Padre Josafá, autor de livros como A flora do campus da PUC-Rio e Ética socioambiental, ressaltou a adesão dos ideais ecológicos a partir da encíclica do Papa Francisco Louvado sejas (Laudato si', em latim), apresentada em maio de 2015, para aproximar a fé cristã dos "cuidados com a casa comum". Convidado para debater sobre a poluição do ar, o reitor da PUC-Rio atentou para a falta uma visão ética diante do meio ambiente, uma vez que não é apenas uma preocupação científica.

— Clima é um bem comum de todos e para todos. A encíclica coloca isso como uma questão preocupante, porque a sociedade científica fala de apenas uma mudança comum, mas não é. A preocupação ética é um clamor das religiões, da sociedade e da ciência. Para mim, isso é lindo, porque une três grandes preocupações.

(Leia também: Especialistas e bispos debatem ética socioambiental no Rio)

Padre Josafá debate a conscientização ecológica. Foto: JP Araújo

Além disso, Padre Josafá sugere a reflexão como uma forma de retroceder os problemas:

— A sociedade precisa reparar no modo de vida. Se não mudarmos o nosso comportamento, os problemas do meio ambiente irão aumentar progressivamente.  Uma solução é repensar no sistema de produção e de consumo.

Outro problema, na esfera da mudança climática, são os "refugiados ecológicos". O termo foi definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para as pessoas que foram forçadas a deixar suas terras por causa da degradação da natureza. O autor de mais de 50 artigos científicos e de 13 livros sobre o meio ambiente alerta para esse problema:

— Aumento do refugiado ecológico é uma preocupação das religiões. Faço uma pergunta: como criar condições para os refugiados ecológicos? Segundo o Papa Francisco, há uma passividade perante esse tema. Nós temos que pensar em soluções – comenta.

(Leia também: Inter-religiosidade constrói pontes para agenda socioambiental)

Reitor da PUC-Rio vê a falta de uma visão integradora como causa da poluição do ar. Foto: JP Araújo

Segundo estudo recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 3,8 milhões de pessoas morrem anualmente por doenças originadas pela poluição do ar. Dessa forma, padre Josafá aponta o individualismo como uma das causas desse problema:

— A poluição do ar é um problema de falta de visão integrada do mundo; um problema de ética. Não é só um problema tecnológico e científico. A degradação ambiental está intimamente atrelada a degradação social. Nós estamos vivendo a era do individualismo e esquecemos que há pessoas ao nosso redor. O mesmo acontece com a natureza, porque eu percebo que ninguém para um minuto do seu dia para observar a obra do Criador; é muito raro.

Jornalista aponta a igreja católica como local de iniciativas ecológicas

Sônia Bridi, jornalista e escritora de livros como Diário do Clima (editora Globo Livros, 2012), também foi uma das palestrantes do debate ocorrido no Jardim Botânico. Para ela, utilizar a igreja como meio de socialização é uma oportunidade de dar início a atividades ecologicamente corretas.

Sônia Bridi debate sobre a importância da igreja Católica para assuntos ecológicos. Foto: JP Araújo

— A igreja é um local ideal, porque você passa a conhecer pessoas que estão sempre em contato com você, ou seja, você começa a ter referências. Isso é importante para, por exemplo, começar a montar grupos de carona. Sabemos que o transporte público não chega a todos os lugares do Rio de Janeiro. Assim como, cada um usar carros próprios não faz bem ao meio ambiente. Por isso, você ter confiança e segurança é importante para conseguir firmar esse tipo de iniciativa e a igreja é o local que provem esses dois fatores.

Sônia relatou os bastidores da série do Fantástico Terra, que tempo é esse?, no qual usou as viagens pelo mundo em busca de respostas para as alterações climáticas. Para ela, o replantio de arvores e a produção de uma horta comunitária são formas de reduzir os níveis de poluição no ar atmosférico:

— É preciso incentivar o replantio, porque eles deixam o ar mais puro, além de refrescarem o ambiente. Com tanto uso de aparelhos que ainda liberam os gases CFC, plantar árvores é uma forma de reduzir esses impactos. Além disso, a horta comunitária e a compostagem são formas sustentáveis de manter o verde na cidade e ainda reduzir o custo dos alimentos- comenta.

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