Transpor os limites pessoais
22/03/2021 14:45
Esther Obriem

Diretora Bia Lessa conversa com alunos sobre os processos e as dificuldades de criação de peças teatrais em Aula Inaugural do Departamento de Letras 

“A questão da Aula Inaugural me levou ao desejo de inaugurar um novo tempo, uma obsessão nossa nos dias de hoje”, Bia Lessa. Ilustração: Gabriel Guimarães

A questão da Aula Inaugural como um começo de novos tempos foi a reflexão inicial da diretora Bia Lessa no encontro Entre Todas as Coisas, realizado no dia 15 de março. Bia dirigiu peças como Macunaíma, Grandes Sertão:  Veredas e O homem sem qualidades e começou a conferência com um texto escrito por ela. A palestra teve a presença do Decano do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH), professor Júlio Diniz, do Diretor do Departamento de Letras, professor Alexandre Montaury e da Coordenadora de Graduação do departamento, professora Teresa Dias Carneiro. 

Bia comentou que não dava nome aos espetáculos que produzia no começo da carreira de diretora de teatro, apenas os chamava de, por exemplo, ensaio número um. Para ela, as peças dialogam entre si e representam uma continuação tanto dos erros quanto dos acertos. A atriz acredita que as características pessois do ser humano também dialogam com as produções, pois o indivíduo coloca um pouco de si em tudo o que realiza.

– Às vezes eu sou questionada por não montar mais produções brasileiras. A minha cidade do interior e minha mãe estão em mim, então, eu sempre vou colocar um pouco de mim em tudo o que eu fizer. A ideia de construção de materiais, daquilo que te atrai, também está presente nos trabalhos. No meu ensaio, por exemplo, eu corto a roupa e monto os cenários. Tudo é criado junto, tudo vai nascendo ao mesmo tempo.

A diretora ressaltou que os espetáculos eram difíceis estruturalmente e traziam angústias por ampliarem os limites pessoais. Bia revelou que, atualmente, consegue controlar o desespero, pois uma amiga a ajudou a conter os acessos de pânico. Ela lembrou da época da elaboração da peça Macunaíma, de Mário de Andrade, que, segundo Bia, foi desafiadora pela diferença de linguagens e realidades entre ela e o grupo de atores. 

A diretora Bia Lessa dirigiu peças como Macunaíma, Grandes Sertão: Veredas e O homem sem qualidades

A diretora explicou que não tem um modelo definido para a criação do processo artístico, mas que a inspiração depende do momento. Segundo a diretora, os trabalhos são realizados em camadas e cada conteúdo precisa de uma metodologia específica, às vezes com liberdade ou solidão para pensar. Ela relembrou do método utilizado em Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, que não permitiu a leitura da obra para que o grupo desenvolvesse uma autonomia criativa da história. 

– Às vezes eu pegava algumas frases e parágrafos totalmente desconexos entre si e dava funções impossíveis aos atores, como montar o parágrafo de três formas completamente diferentes. Isso criava tal estado de urgência de fazer um bom trabalho aos moldes do mundo convencional, que eles propunham coisas totalmente ensandecidas. Este insano trouxe uma beleza extraordinária, porque eles vinham por meio de um desejo intrínseco de um lugar que ainda não tinham um controle.

Depois de dez anos sem trabalhar com o teatro, a diretora estava encarregada novamente da peça Os Grandes Sertões. Bia mencionou que talvez nunca abandone este espetáculo e salientou que, para esta última concepção, pensou em usar a imagem do teatro para representar a figura do sertão. Segundo ela, a ideia era transformar o lugar nordestino em um ambiente de abstração para evitar a determinação.

– A gente não vê o sertão, a gente ecoa; não é que a gente mostre o sertão, ele está ali. Isso foi muito revelador para mim e, assim, surgiu a ideia de os atores fazerem um pouco de tudo, como os cactos. As pessoas iam se transformando de forma radical, trazendo a mecânica do cinema. Às vezes é preciso jogar as questões para que a própria obra possa trazer respostas, como se neste diálogo a gente encontrasse um caminho óbvio que se faz fluido.

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