Especialistas de óleo e gás projetam retomada de investimentos
24/08/2017 11:47
Helena Carmona

Para analistas reunidos na SiEng, recuperação da Petrobras e avanço de capital estrangeiro devem gerar milhares de vagas.

A indústria de óleo e gás — tradicional combustível da economia brasileira e, em especial, da economia do Rio, maior produto de petróleo do país — voltará a arrancar a partir do próximo ano. O prognóstico do gerente geral da Petrobras, Ultimo Melo Mariz, do gerente da RioSil Consultoria Daniel Braune e da coordenadora de RH da Radix Engenharia e Softwares, Cláudia Pittioni, apontado na Semana Integrada de Engenharia (SIEng) da PUC-Rio, coincide com a projeção da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que prevê investimentos em torno de R$ 100 bilhões com os leilões de campos do pós e pré-sal até 2019 (dois deles programados já para setembro e outubro). Analistas e executivos da área confiam que a recuparação da Petrobras e a retomada de investimentos, retraídos por fatores como a queda da cotação internacional do petróleo e a crise deflagrada pela Lava-Jato, embalem a revitalização de um setor que amargou, entre 2013 e 2015, a perda de 5 mil vagas de trabalho só no Rio, calcula a Federação das Indústrias do Estado (Firjan).

Os novos aportes privados no litoral fluminense devem gerar dezenas de milhares de empregos, esperam a ANP, consultores e gestores deste mercado. Assim esperam também Mariz, Braune e Cláudia, participantes do encontro Profissional do futuro, terça-feira passada, na PUC-Rio. Voltada a estudantes, a iniciativa do Comitê Jovem do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) fez parte da programação da Semana Integrada de Engenharia. Para os convidados, o Brasil está voltando a ser "propício a investimentos". Os executivos ressaltaram, aos estudantes reunidos no encontro, que a virtual recuperação significa, sobretudo a partir do próximo ano, um representativo cardápio de oportunidades. Mariz foi categórico, ao defender aposta nas carreiras alinhadas ao setor de óleo e gás:

Ultimo Mariz, gerente geral da Petrobras. Foto de Isabella Lacerda.

— Vocês podem se perguntar se vale a pena ingressar nessa carreira. Apesar da crise que o mercado de petróleo enfrenta, estudos mostram que, mesmo com o crescimento das energias renováveis, os combustíveis fósseis ainda vão ser maioria da matriz energética mundial pelos próximos 20 anos. Isso dá uma certa segurança a esse mercado — argumentou.

Daniel Braune. Foto de Isabella Lacerda.

Braune também se mostra otimista em relação ao setor, devido, principalmente, a exploração do pré-sal, que responde por aproximadamente 45% da produção nacional:

— O pré-sal tem potencial para uma produtividade tão alta, que o preço de produção por barril de petróleo seria menor que a média nacional. Além disso, mudanças regulatórias associadas à sua exploração vão atrair investidores. A Petrobras, que enfrenta uma fase difícil, agora tem o direito de participar ou não dos blocos de exploração, o que dá espaço para empresas privadas participarem. Isso vai atrair investimentos para o pré-sal —  projeta.

Mariz lembra, no entanto, que o avanço do investimento privado e estrangeiro exige "segurança e estabilidade" no país:

— As empresas estrangeiras têm interesse no Brasil, mas ainda investem com certa cautela, por conta da instabilidade política. Quando o país estiver mais estável e oferecer mais segurança, vamos voltar a crescer — avalia.

Ainda de acordo com os palestrantes, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) têm tomado medidas para criar um ambiente propício para a retomada de um fluxo crescente de investimentos, como a redução de royalties em áreas maduras, a extensão do Repetro (regime tributário especial do setor de petróleo) e a publicação de um calendário das rodadas de licitação, conferindo alguma garantia aos investidores. Analistas acreditam que o fim da exclusividade da Petrobras na exploração do pré-sal (o monopólio estatal caíra em 1997) seja também um propulsor para o aumento da participação estrangeira na produção de petróleo brasileira. Saltaria, em cinco anos, de 17% para 20%, aproximadamente, estima o IBP. Em dez anos, somaria cerca de R$ 120 bilhões de investimentos e geraria dezenas de milhares de empregos. 

Os prognósticos relativamente otimistas representam oportunidades para jovens profissionais, destaca Mariz. Segundo o executivo, os programas de trainee são “uma ótima oportunidade para quem está saindo do curso de Engenharia numa época complicada”. Mariz e Braune também recomendaram, aos estudantes reunidos no Auditório Padre Anchieta, da PUC-Rio, a construírem uma "boa rede de relacionamentos" e a saírem de "suas zonas de conforto". Mariz ressaltou, ainda, a importância da fluência em inglês e numa terceira língua, como o mandarim, incorporada às opções preferenciais com a arrancada da China na economia global.

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