Teólogo vê Papa Francisco como símbolo de engajamento social
22/09/2017 12:16
Natália Oliveira

Convidado a abrir o I Simpósio Internacional sobre a Eclesiologia do Papa Francisco, catalão Salvador Pié-Ninot comenta a importância do pontificado de Jorge Mario Bergoglio para a sociedade atual.

A Sociedade Brasileira de Teologia Sistemática (SBTS) realizou, na última quinta-feira, o 1º Simpósio Internacional sobre a Eclesiologia do Papa Francisco. O propósito da conferência foi promover o estudo, a pesquisa e a publicação de estudos da teologia. Para o teólogo catalão Salvador Pié-Ninot, convidado a abrir o congresso, o pontificado do sacerdote propõe uma série de alterações nos pensamentos católicos e deve ser estudado. Além disso, ele vê a imagem do líder mundial como uma reflexão para os problemas sociais e políticos da atualidade.

Professor da Universidade de Barcelona, Pié-Ninot tem como base de pesquisa a exortação apostólica Amoris Laetitia, escrita pelo Papa aos bispos, presbíteros e diáconos e às pessoas consagradas aos esposos cristãos e a todos os fiéis leigos abordando o amor na família. Para o sacerdote da diocese da cidade catalã, a exortação propõe uma ruptura com a ideia de um único casamento católico, além de reaproximar do catolicismo o cristão divorciado. 

Salvador Pié-Ninot, Teólogo e professor. Foto: Matheus Aguiar

Jornal da PUC: Primeiramente, de onde surgiu o seu interesse pela eclesiologia?
Salvador Pié-Ninot:
 Eu me interessei pelo tema em meu trabalho teológico com universitários. Comecei a trabalhar na Pastoral Universitária, e lá foi onde passei a observar alguns aspectos de que os jovens duvidavam. Eu via que a grande questão da Igreja católica, para os universitários, era a credibilidade. Além disso, descobri que uma das preocupações é, sobretudo, ser crível. Foi com esses contatos que comecei a estudar eclesiologia.

Jornal da PUC: Para o senhor, qual é o papel social da Amoris Laetitia, seu objeto de estudo?
Pié-Ninot:
 Esta é a principal exortação do Papa, porque o tema é sobre a família e o matrimônio. Ela é relevante nos dias de hoje, porque temos um enfoque diferente dos princípios originais da Igreja, daquilo que era habitual. É a partir dela que podemos melhorar a relação com as pessoas divorciadas, porque a Amoris Laetitia não vê problemas em um segundo casamento dentro da Igreja. Eu penso que o Papa Francisco está acostumado a ver essas situações, porque foi pároco, tinha o contato com várias famílias antes de assumir o papel de líder mundial da Igreja católica. Francisco lidava com pessoas simples e estava habituado com cada problema e dificuldade dentro das famílias, por isso começou a repensar a ideia de um único matrimônio na Igreja. Eu vejo que, com essas formulações propostas pelo Pontífice, podemos caminhar junto com a sociedade atual, porque ela é repleta de transformações sociais.

Jornal da PUC: Quais são as contribuições que o pontificado de Francisco trouxe para a Igreja? E para a sociedade?
Pié-Ninot:
 A questões faladas pelo Papa são importantes. Primeiro, é o tema dos pobres e da pobreza. Francisco dá luz à miséria feita por todos nós, ressalta que somos co-responsáveis pela pobreza e pela marginalização. Além disso, os governos, os bancos e as grandes empresas também contribuem para intensificar esse fator. Em segundo lugar, é ajudar as pessoas, como agentes globais que somos. No mundo da globalização, somos vistos de igual para igual, mas o Papa propõe uma troca. Para ele, cada um possui uma singularidade. Ele vê a personalidade de cada pessoa dentro de um contexto em que somos vistos como uma massa. Devemos ajudar as pessoas como agentes frente à globalização, e incentivar a particularidade de cada indivíduo.

Jornal da PUC: O Brasil vive hoje uma série de conflitos políticos e econômicos. Qual é o papel do Papa neste contexto tão complicado?
Pié-Ninot:
 A corrupção não ocorre somente no Brasil. Ela está presente na Europa, por exemplo, na Espanha, onde também há um governo corrupto. Diria que é um dos temas mais fortes no contexto mundial. O que o Papa semeia é um caminho de corações. Quem trabalha com o coração não se permite ter esse tipo de atitude. O indivíduo que toma a atitude corrupta sempre vai achar subterfúgios e desculpas para justificar o comportamento. É, basicamente, enxergar uma brecha e usá-la somente a seu favor. O que a doutrina católica prega é pensar no outro antes de si mesmo. Se fizer esse tipo desvirtuamento, você se torna alguém individualista. Em resumo, é mais difícil ser corrupto se você fizer a reflexão do caminho de corações proposto pelo Papa Francisco. 

Jornal da PUC: O senhor vai abrir o I Simpósio Internacional sobre a Eclesiologia do Papa Francisco. O que falta para as pessoas conhecerem mais sobre a teologia?
Pié-Ninot:
 Eu penso que deveria haver mais cursos de educação. Acho o curso de extrema relevância, porque o esforço dos teólogos é criar uma linguagem mais acessível para que todos entendam. O Papa vê a teologia como algo mais eficiente para se descobrir mais sobre a doutrina católica.

Jornal da PUC: Qual é a importância de se estudar a teologia nos dias de hoje?
Pié-Ninot:
 Para mim, é o diálogo cultural. É a partir dele que nós conseguimos fazer uma reflexão. Se fazemos a reflexão por meio dos filmes, dos artistas, das músicas, por que não fazer com a teologia? Saber mais sobre uma religião, sendo ela católica ou não, é sempre algo que agrega conhecimento.

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