Há dez anos, Gisele da Conceição Castro, 33, foi diagnosticada com tendinite no ombro, cotovelo e punho direitos. Ela adquiriu as lesões após trabalhar como operadora de Telemarketing, função que a obrigava fazer movimentos repetitivos. Para não ficar totalmente parada, nos seis meses que ficou afastada do trabalho, ela ingressou em um pré-vestibular comunitário. Mas, após o fim da licença, pediu demissão. A decisão partiu de uma conversa com o médico que foi categórico: ou ela abandonava o cargo de atendente ou deveria se preparar para uma futura intervenção cirúrgica. Gisele se formou em História da Arte, mas, até hoje, convive com a tendinite.
O caso de Gisele é apenas mais um dentre os 3,5 milhões de brasileiros que sofrem de Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Esse número é da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2013, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – até hoje não existem novos levantamentos. Diante de dados como esses, especialistas apontam para a importância de cada vez mais valorizar a ergonomia, estudo científico das relações entre homem e máquina que tem como objetivo preservar a segurança e a saúde do trabalhador.
Fisioterapeuta e professor da Unigranrio, Daniel Hetti Zidde observa que a Ergonomia é a otimização do ambiente laboral para que ele se torne mais confortável e minimante lesivo para as atividades da pessoa. Segundo Zidde, esta ciência se sustenta em um tripé: empregado-empregador-ambiente de trabalho. De acordo com Zidde, é necessário deixar claro para o empregado que modificações básicas no ambiente onde ele desenvolve as funções serão benéficas para a saúde física e mental dele.
- As principais ocupações nas quais as pessoas podem desenvolver lesões por esforço repetitivo do aparelho locomotor são ambientes de trabalho em que as pessoas ficam muito tempo paradas, sentadas no mesmo local, na mesma posição, realizando o mesmo tipo de movimento – explica.
Para determinar as práticas da Ergonomia nas empresas, o Ministério do Trabalho criou a Norma Regulamentadora nº 17, ou NR 17, que assegura o conforto e a segurança do trabalhador no desempenho da sua função. O subitem 17.1.2. da Norma, por exemplo, afirma que, para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho e abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme o estabelecido na NR.
Professora da Coordenação de Educação Física da PUC-Rio e especialista em Ergonomia, Jocineia Santos diz que em qualquer ocupação dentro de uma empresa, o empregado deve ser orientado previamente sobre as normas de segurança do local.
– Quem trabalha com computadores e digita o tempo todo precisa saber a posição correta dos braços, dos ombros e do pescoço. Em ocupações em que são carregados muitos pesos, há a possibilidade do uso de carrinhos também.
A professora explica que uma equipe de Ergonomia deve organizar o ambiente de trabalho e ensinar exercícios e posições corretas para o dia-a-dia. Parte da consciência é da empresa, comenta, mas também deve ser do trabalhador, de perceber e expor os problemas que o impedem de realizar determinado serviço.
– O principal é que a pessoa precisa ter essa consciência para que possa cuidar de si mesma - assinala.
Jô afirma que cabe à empresa dispor de uma equipe de Ergonomia para os trabalhadores. Depois de o funcionário relatar o problema, os superiores devem encaminhá-lo para o tratamento adequado. Atitude benéfica não somente para o trabalhador, mas também para o patrão, lembra Jô, que consegue reduzir o número de faltas por causa de LER/DORT.
A PUC-Rio oferece ginástica laboral para os funcionários da instituição, mas é necessário o chefe de um setor ou diretor de um departamento enviar um documento à Vice-Reitoria Comunitária ou à Coordenação de Educação Física solicitando o atendimento. Um professional da coordenação será designado para ensinar uma série de exercícios e alongamentos que devem ser feitos pela equipe do lugar duas vezes por semana, durante 15 minutos.
- Além de todos os benefícios físicos, psicológicos e financeiros, a Ergonomia é capaz de beneficiar as relações interpessoais, uma vez que propicia um ambiente de trabalho confortável - conclui.